Mensagens

A mostrar mensagens de 2022

QUE 2023 NOS ENCONTRE FELIZES

Imagem
Por mais que janeiro pareça indiciar o reinício, não existe tempo, que só por si possa ser, ou fazer-se novo. O tempo é o tempo, inevitável contagem, e novo só poderá ser o Homem que o agarra e assume, predispondo-se a vivê-lo com a sua verdade até ao detalhe de cada milésima do seu ser. Para que serve voltar ao dia um, se sobre ele impera a velhice do coração triste? O sucesso do novo ano será a expressão do nosso compromisso com o melhor de nós mesmos, a paz será o desabrochar dos nossos corações lavados, a fé terá a força do tanto que podemos sonhar, a festa, por entre o fogo do riso à solta, será o encontro da liberdade de todos, no chão comum aonde desabrocham as rosas, e o amor, sem pudores ou convenções, dar-nos-à a chance de sermos inteiros numa casa com beijos, como janelas, abertos ao mais fascinante horizonte. Cesse, pois, tudo quanto a “velha” astrologia canta, porque a estrela somos nós, mulheres e homens, a brilharmos pelo abraço, e pela palavra, sobre os silêncios e as s

Esperando a notícia

Imagem
Na minha cidade, o eco dos cravos persiste, com férrea vontade, entre os murmúrios, inundando as manhãs, claras ou não, de um indisfarçável sabor a liberdade. À sua sombra, e ainda que chova ou faça frio, eu espero, insistentemente, pela notícia feliz, dando uso ao banco de madeira, que é benefício de quem legitimamente espera pela paz que semeou. Entre os arbustos, os olhares dormentes, e o passo de quem ainda não aprendeu a trocar a pressa pelos detalhes de festa que qualquer coração confessa, muito cedo, quando ainda é manhã. Oxalá a História não me desiluda, e possa, em verdade, colocar o amor, com versos ou prosa, na primeira página do jornal. O renascer da notícia, no armistício guiado pelo sonho, e na vitória plena e lavada da poesia. Tirar-lhe-ia o meu chapéu, saboreando de Lisboa, o assobio afinado de uma melodia nascida da revolução. (Foto: Lisboa | Campo dos Mártires da Pátria | Manhã de 30 de novembro de 2022)

A minha mãe e as flores do açúcar

Imagem
A mulher mais bonita do mundo faz hoje 80 anos, e eu e o Zé Artur gozamos do imenso privilégio de a termos como nossa mãe. Mãe e eterna casa, numa perspetiva plural colhida desse amor maior com o nosso muito querido e saudoso pai. Um amor pleno, sem muros e sem reservas, na mais generosa partilha e mescla do ser e da identidade. Enquanto buscava as primeiras palavras para este texto, aconteceu que num gesto brusco ao fechar o porta luvas do carro, entalei e parti o terço que ali mora. Reparei-o de seguida, julgando deixá-lo intacto, mas apercebi-me mais tarde que lhe faltava uma Ave Maria, caída algures num daqueles “esconderijos” que têm os carros. Foram infrutíferas, as tentativas para encontrar essa pequeníssima esfera de madeira. Na interseção entre o divino e a vida de todos os dias, no louvor, na festa, mas também no suporte ao lado mais intenso da dor e do silêncio, uma Ave Maria discreta, que não se vê, que saiu da forma comum, mas que nos acompanha sempre: é assim, afi

Breves átomos de eternidade

Imagem
As memórias são antídotos do deserto E as memórias na genética do amor são rios de água fresca, que, muito generosamente, “ateiam” as raizes das rosas, dissimilando-lhes o perfume, e denunciando-as em sorrisos à superfície do tempo.  Tal qual as memórias com núcleo na fé, e na perspetiva de Deus, dissolvem a distância desde aqui ao Céu, tornando-se átomos, ainda que muito breves, de eternidade. Faz hoje dois anos que a vida me pediu a missão mais difícil: viver sem te ter aqui, ao alcance de um abraço… ou até de uma gargalhada. Reinventar-me, em ser e ânimo, aproveitando para oferecer novas formas às jazidas de saudade que compõem o deserto. Pela sede dos olhos, buscar as embaixadas do céu que se preservam no coração. E de tudo, e sobretudo, das memórias, fazer-me barco, água e rota de boa esperança, ousando dizer-me em versos toscos que anunciam um suave amanhecer. Porque quem ama suplanta a morte, erguendo-se com todos os seus, até aos umbrais das cidades mais ousadas do futuro.  

Cinquenta e seis

Imagem
  Envelhecer é deixarmo-nos adormecer pelo tempo, sonegando a esperança e a festa, aos  amanheceres que vêm ao nosso encontro. P uro desperdício. Muito antes , passa-se pelo “pronto-a-vestir das idades maduras”, e compra-se o traje de virtudes, que tem pospontos sisudos, e onde qualquer laivo de riso, se passa, muito cuidadosamente, a ferro, para que  sobressai a m  as faces  hirtas  e engomadas. A alma amarfanhada  pela doce inquietude dos sonhos,  posta perante um espelho a “gritar” méritos e estatuto. As palavras dilaceradas pelo equânime silêncio que não é sim nem não. A poesia encarcerada numa vivenda humana, com marquises de lata, piscina… mas sem o canto de um r io que nos banhe e incentive à viagem. Os baloiços parados, e arrumados com  a fantasia , na renúncia ao combustível bioenergético, e muito saudável, que sempre nos oferecem as asas. Não me procurem no reflexo dos espelhos, mas nas mil ruas que de mim nascem,  a cada  despertar . Leiam-me nas palavras ditas e escritas, c

Київ або вічна недосконалість миру (Kiev ou essa eterna imperfeição da paz)

Imagem
Em paralelo com a eterna condição da mais perversa imbecilidade do Homem, a paz será sempre um processo em curso, e jamais concluído. Desengane-se quem se senta tranquilo num jardim de acácias, para desfrutar, sossegado, desse bem viver connosco e com o mundo. Mais do que a chegada, num sítio rico de aromas aonde o mar nos embala, a paz é um perpétuo desejo que gera compromisso, e que induz o gesto capaz de tecer o amor, no seu mais apurado detalhe de filigrana. De preferência sem distrações, e, sobretudo, sem a mínima tolerância para com a expressão do seu contrário, por mais gracioso, inofensivo e folclórico que nos pareçam a cega ambição pelo poder, a discriminação, qualquer que seja o motivo, e a castração do livre pensamento. Por mais pateta que nos pareça o ditador. E quem diz a paz, diz a liberdade e a democracia, suas indispensáveis aliadas. Sempre inacabadas, mas nunca impossíveis, porque a utopia é mãe da inação, e nos nossos braços ferve um impulso claro de revolução.  Demas

O coração e a pele

Imagem
A manhã fria de fevereiro leva-me até ao roupeiro grande, e quando dou conta, subo a Rua de Santo António, em Vila Viçosa, abrigado pelo sobretudo cinzento que herdei do meu pai. As memórias criam a pele que melhor nos protege do inverno. A Zinha e o Manel são do meu tempo, ou melhor, são dos meus tempos todos, porque eu me recordo deles desde quando comecei a guardar lembranças de mim. Os dias pareciam, então, muito maiores, porque nada ficava por fazer, ou por dizer. Às vezes a tropeçarmos nalguma dificuldade que traía a fonética, mas sem deixar de exprimir a vontade dos sentidos, e a sede: -Um copo de “aba”, por favor. Escorregávamos pelas caixas de cartão vazias, guardadas no armazém, com a mesma alegria com que, ao longo de outros tempos, soubemos sorrir sobre a gravidade das deceções, que nos puxaram para o chão frio. Palpámos juntos a nossa primeira neve, perfumámos as mãos nos troncos das mesmas estevas, rezámos as nossas esperanças nos mesmos padre nossos, e algu

Votar

Imagem
Votar é ratificar a opção pela democracia, expressando, em pleno uso dos direitos e deveres de cidadania, a anuência à liberdade. É nesse contexto que irei votar no próximo domingo, com a convicção de que a liberdade e a democracia jamais poderão ser dadas por definitivamente adquiridas, e é a nossa atitude que as alimenta, tal qual uma chuva de vontades sobre a terra fértil. A abstenção, surpreendam-se, é tão virulenta quanto o Covid-19, porque tal como ele, nos poderá condicionar, e nos coloca à mercê das “máscaras” e da vida que não queremos. Faço-o sem esquecer o curriculum de honestidade e competência (ou ausência delas) dos intérpretes / políticos envolvidos, sem qualquer amarra que me prenda cegamente aos meridianos ideológicos, mas sobretudo com base nas minhas convicções. Por exemplo… Revejo-me na Constituição da República Portuguesa e sou um defensor das liberdades adquiridas na revolução de 1974. Defendo um Estado próximo dos cidadãos, e que os inclua, com suport

A manhã de janeiro

Imagem
  O aroma do café ainda a pingar, muito quente, deste o filtro zeloso, e diretamente para a cafeteira, oferece-me à sala um toque inquestionável de conforto e de intimidade. Para lá da vidraça, e desde o lugar onde a ponte desmente o Tejo, abraçando as margens, o sol espreguiça-se, ainda ensonado, traçando o céu com linhas encarnadas, azuis, amarelas… Com mais ou menos nuvens em modo e gesto de prisma, não existe dia que não nos traga a tinta de todas as cores. E escrever, ou rabiscar, o tempo a preto e branco jamais será uma inevitabilidade, mas apenas a opção, aparentemente cómoda, da discrição do sofá cinzento e silencioso situado atrás do biombo. Esta demissão de dizer-se é acompanhada, muitas vezes, e desde o lado de fora, pelo juízo dos demais, pela rotulagem que atribui, de modo completamente cego, defeitos e virtudes, vulgarmente, e levianamente, associados ao grupo social, profissional, à confissão religiosa, etnia, ao ponto eleito do espectro político, ao código posta