Votar


Votar é ratificar a opção pela democracia, expressando, em pleno uso dos direitos e deveres de cidadania, a anuência à liberdade.

É nesse contexto que irei votar no próximo domingo, com a convicção de que a liberdade e a democracia jamais poderão ser dadas por definitivamente adquiridas, e é a nossa atitude que as alimenta, tal qual uma chuva de vontades sobre a terra fértil.

A abstenção, surpreendam-se, é tão virulenta quanto o Covid-19, porque tal como ele, nos poderá condicionar, e nos coloca à mercê das “máscaras” e da vida que não queremos.

Faço-o sem esquecer o curriculum de honestidade e competência (ou ausência delas) dos intérpretes / políticos envolvidos, sem qualquer amarra que me prenda cegamente aos meridianos ideológicos, mas sobretudo com base nas minhas convicções.

Por exemplo…

Revejo-me na Constituição da República Portuguesa e sou um defensor das liberdades adquiridas na revolução de 1974.

Defendo um Estado próximo dos cidadãos, e que os inclua, com suporte financeiro ou outro, possibilitando que todos, sem exceção de etnia, religião, género, orientação sexual, ou outra, possamos beneficiar dos mesmos horizontes e do conforto do mesmo viver.

Nesse contexto, sou a favor de um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito, suportado integralmente pelo Estado, mas em complementaridade com serviços de âmbito privado, sempre que tal se justifique pela situação e acesso do cidadão/paciente.

De igual forma encaro a Educação, defendendo que o Estado deve cuidar de mais e melhor ensino para todos, com exigência e com recurso à principal mais valia da escola pública: os seus docentes.

Considero imperativa a frequência de uma disciplina de cidadania, e a promoção da plena cultura da diversidade e inclusão.

Sou a favor da plena integração dos imigrantes, reproduzindo dentro das nossas fronteiras, tudo quanto defendemos nos anos em que de emigração se fazia o nosso fado.

Defendo o nosso estatuto de Estado membro da União Europeia, assim como a nossa manutenção na zona Euro.

Sou contra a regionalização administrativa e burocrática do país, apoiando sim, a decentralização, e todas as medidas que possam encurtar as distâncias entre o interior e o litoral, entre o espaço rural e o urbano.   

O Estado deverá ser motor e suporte de todas as atividades culturais, muito para lá da existência de um ministério específico.

E sou contra a legalização da eutanásia.

Nestas, e em muitas mais opções, apoiadas em mim e na minha essência, se desenhará o meu voto.

Talvez estranhem porque ilustro este texto com uma foto de junho de 1977, quando no último dia de aulas na Escola Preparatória de Vila Viçosa, eu e um grupo de colegas nos despedíamos da frequência do primeiro ano (agora quinto ano de escolaridade), estando preparados para entrar em cena no ginásio, para uma excelente performance teatral.

Esta semana, uma das minhas queridas professoras de então, pediu-me pelo Messenger do Facebook, que lhe enviasse uma foto para que pudesse identificar um dos colegas que partiu no final do ano passado.

Lembrei-me desta, fiz uma cópia, enviei-a, e ela identificou-o imediatamente.

Quantas vezes temos de voltar à nossa essência mais elementar para que de nós se prove a identidade.

A essência de uma liberdade então ainda muito jovem, mas que bastante nos fazia sonhar.

Por isso, e muito convictamente, eu irei votar no próximo domingo.

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