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A mostrar mensagens de junho, 2012

Madonna

Fui ver a Madonna a Coimbra no passado domingo e digo-vos e assumo contra a corrente da generalidade dos comentadores, foi um concerto genial. A Madonna é um ícone da minha geração e reencontrá-la ali, tê-la à distância de 5 metros e poder vê-la a piscar um olho, foi acima de tudo um reencontro muito de perto com a ousadia, a rebeldia, a diferença que a minha geração prometeu ao mundo, e que em muitos aspectos não soube cumprir, deixando-se enredar nas malhas densas do poder e no cinzentismo inerte do politicamente correcto. Num palco gigantesco e fabuloso, revi a Madonna do Live Aid em 1985 e fui beber à fonte da eterna juventude. Não me importa saber se a Madonna está velha, ela e os meus sonhos nunca terão idade. Se a Madonna vier a Portugal com oitenta anos a fazer um concerto amparada por um andarilho e com o saco de algália pendurado do vestido, garanto-vos que pagarei bilhete para estar no Golden Circle . Pelo menos tenho a certeza de uma injecção de energia e tenho

S. João do Porto

A minha tia-avó Maria Teodora, uma das mulheres mais fantásticas que alguma vez conheci, teria feito 103 anos no Dia de S. João. Pelo facto do seu aniversário coincidir com o da celebração do Santo, sempre a vi defender o “Baptista” num campeonato por ela criado sobre o mais popular dos Santos Populares. Sempre que falava com os meus queridos amigos do Porto já não era pois novidade para mim, ver defender a festa de S. João como a maior e melhor do mundo. Para além disso, bairristas como são, enquadrava os seus argumentos com a normalidade com que sistematicamente me provocam dizendo por exemplo que os seus Pastéis de Nata são melhores que os nossos Pastéis de Belém. Ao fim de 45 anos de vida fui finalmente “viver” o S. João do Porto e o mínimo que me ocorre é: - Festa de S. João do Porto a Património da Humanidade, já. Há milhares de pessoas, tenho dificuldade em dizer quantos, que enchem as ruas e as praças, das maiores às mais pequenas, que carregam consigo a singeleza

€uro(s)

São quase cinco horas de uma tarde quente em Bruxelas e procuro a sombra de uma esplanada da Grand Place para acariciar o corpo com uma cerveja Orval . Não posso saboreá-la dedicando-lhe o tempo que ela merece, avisaram-me no hotel que o acesso estará difícil pois o presidente François Hollande está para chegar. Para além disso há ruas cortadas e chegar ao aeroporto não será tarefa fácil. É dia de cimeira. À porta do hotel recolho a minha mala e peço um táxi a um funcionário que me pergunta: - Are you from Spain? Respondo-lhe como gosto de responder, na língua de Camões: - Não. Sou Português. Responde-me então em “Portulhol”: - Desculpe. Eu sou Argentino, falo Castelhano mas fique descansado pois não fui eu que ontem o afastei do Euro. Sorrio com esforço a pensar de mim para mim: - Olha este a lembrar-me daquilo que eu não me esqueço. Sento-me na recepção do hotel entre polícias, cães de guarda e jornalistas. Há uma mesa de recepção para a imprensa que tem em c

Fátima – Junho de 2012

Somos muitos. Impossível saber quantos, e de quantas línguas se compõe o som sussurrado e arrancado à alma, desta Babel de Avé Marias. Viemos carregando cada um a sua história, que coincidiu e se cruzou neste exacto momento em chegámos aqui, vindos de tantos e diferentes mundos, à procura do silêncio que nos devolve a nós, à procura da paz. E a paz maior chega de noite. Nessa noite que deixa sempre correr uma leve brisa fria, e na qual nos fazemos presentes na modéstia de uma chama acesa, pequena como nós, gota de água no mar de luz que sem receios deixamos que nos envolva. Olho para lá, no espaço que termina no verde da Serra. Entrego-me à memória que me devolve o tempo de há vinte ou trinta anos, e vejo-me ali algures, sentado com os meus eternos amigos, a cantar os sonhos maiores do nosso compromisso com a felicidade. Sinto-os a todos presentes, e sinto como os quero tanto quanto à vida. Vejo-me com eles a descer os degraus da longa escadaria, alentejanos de camisol

E tudo marchou…

Há alguns anos que não me oferecia o abandono do sofá em noite de Santo António, mas ontem, não resisti, entreguei-me à noite maior da capital, e lá fui descer a avenida, lado a lado com as Marchas, mas pela lateral, claro. E de copo na mão, que a noite era de festa. O Marquês de Pombal sem trânsito é um privilégio de dias raros, e o primeiro sentimento, confesso, foi de saudade das festas de campeão do meu Benfica, ultimamente também elas demasiado raras. Mas, o Marquês sem o seu trânsito normal, que outro especial circulava, e não tivesse eu acordado a tempo deste meu onírico delírio Glorioso, e acabaria atropelado por um autocarro da Carris que transportava os marchantes de Campolide, aos gritos de “É, é, é, Campolide é que é” , arrumados em camadas ao estilo de “30 pessoas num mini”.   Começamos a descer a avenida e por entre milhares de cabeças, procuramos nas zonas mais iluminadas e onde as marchas dançam, o melhor lugar para observar as coreografias, porque o som, de tão d

Lá vai a marcha…

António, de Lisboa é filho, E o mundo o fez Santo e pôs no altar, Para que a vida tivesse mais brilho E toda a malta pudesse casar. Amparo nas coisas terríveis, É maior que todos, milagreiro, É Santo que não tem impossíveis E no nosso auxílio, é o primeiro. Por isso meu Santo, olha por nós, Que vai dura a vida, por estes lados, De muita incerteza e mágoa na voz Um tempo difícil, de tristes fados. Para o abismo damos Passos, E perante os Bancos estamos de joelhos, Sentimos as angústias e os mil cansaços, Desses Passos que damos serem Coelhos. Para os nossos males não há solução, Só nos aconselham a “raspar”, Falta-nos fé, esperança e coração. Já tudo demos ao Vítor Gaspar. Por isso meu Santo como é urgente, Como precisamos que nos venhas salvar Põe fé e garra nas almas da gente. E que a marcha da vida brilhe a cantar. O manjerico dá o aroma à saudade, Há sabor de sardinha a pingar no carvão, Há guitarras, fado, lusa voz d

Pretty portuguese woman

O sol aqueceu, os dias ficaram maiores, as praias chamam por nós, sentimos a urgência do bikini e do calção de banho, abriram-se toldos nas esplanadas, apetece-nos comer gelados e temperar de gelo as bebidas… não há crise que nos mate o verão. E se nós, os homens, somos algo tímidos e conservadores na hora de enfrentar a época estival, reconheça-se que as mulheres a recebem com o esplendor que desemboca no mais requintado glamour . Para começar observem como a mulher portuguesa decidiu enfrentar este verão a partir de cima. Olhem à vossa volta e vejam como todas as mulheres que conhecemos cresceram pelo menos 10cm fruto de tacões gigantescos acompanhados de mais ou menos compensação na biqueira dos sapatos (obrigado Albertina pela aula de Sapatos Compensados). Hoje pedi licença a uma colega e medi-lhe o tacão: 12,5 cm. Record incrível. Fixem-se apenas nos pés de um grupo de amigas em qualquer sítio público e comprovem a sensação de se estarem a cruzar com um grupo de Drag Q

“PORTUGAIS”

O fim de tarde está magnifico quando me dirijo para a missa das 7 no Mosteiro dos Jerónimos. Corre uma brisa suave e brilha essa luz perfeita que só Lisboa e a beira Tejo nos conseguem dar. Percorro a calçada entre o Museu de Marinha e a Igreja dos Jerónimos, fugindo ao amontoado de alcatifas verdes, imitação grosseira de relva, desvio-me do palanque com o símbolo do 10 de Junho que está colocado junto a uma marca PR assinalada a branco no asfalto, e assisto caminhando ao desmontar do circo. O Portugal dos políticos levantou a tenda e estará pronto para a montar de novo e em breve num qualquer lugar perto de si, para por certo falar de esperança, de futuro e de Portugal. Avanço e aproximo-me da entrada da igreja. No chão há uma placa em pedra e contém as assinaturas de todos os líderes europeus que assinaram o Tratado de Lisboa. Estão lá todos. O circo dos políticos é nómada mas nunca abdica de deixar as suas marcas, nas calçadas, mas sobretudo nas nossas vidas. Entro

Perseguir as estrelas

Imagem
A carreira, a sobrevivência e a incessante busca da global satisfação dos nossos objectivos profissionais, transformam-nos demasiadas vezes em cumpridores / tarefeiros de agendas e dias cheios, esquecidos de que a vida é afinal muito mais do que apenas isso. O meu sobrinho Luís, de cinco anos, reclamava uma noite destas com o pai, o meu irmão que falava comigo ao telefone, por não se querer ir deitar sem antes espreitar pela janela e ver as estrelas. Viver é nunca perder de vista as estrelas. No domingo, exactamente na véspera do 34º aniversário do meu Crisma, acompanhei e fui padrinho da minha amiga Rita Pereira, na cerimónia em que também recebeu o Sacramento da Confirmação. À mesa do almoço em família, essa família única e fantástica escolhida por nós que são os amigos, enquanto saboreávamos o requinte da arte e mestria culinária do seu pai, e mais tarde durante a longa cerimónia, nas conversas que fomos trocando, senti orgulhoso e feliz, a forma como ela carrega em si, a

Criança

Em Vila Viçosa, na minha escola ali ao Carrascal, existe do lado direito junto ao muro exterior, uma oliveira discreta mas carregada de nobreza e sinais de eternidade, a quem o tempo ofereceu uns troncos raros e disformes que ela generosamente me entregou em muitas manhãs e tardes de recreio, para que eu pudesse voar para lá de todos os meus sonhos. A minha árvore, o meu brinquedo único e perfeito, uma oliveira tornada avião à boleia da minha ilusão, para que eu cumprisse o privilégio de ser criança, o privilégio de ter o mundo todo dentro de mim na fracção de segundos de uns olhos fechados ao mundo e abertos à mais doce e intensa fantasia. Hoje e sempre, cerro os olhos, com força, e procuro em mim a criança de olhar sereno e tranquilo, que sorria sempre e falava muito, o menino da oliveira da escola… Encontro-o. Está vivo. Morrerá comigo. Sou eu. Serei eu, sempre. À procura e a construir os dias perfeitos, os dias de para lá do sonho.