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A mostrar mensagens de março, 2016

Crescer nunca dói para quem tem amigos como tu

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As pedras do imenso passeio em frente ao Café Framar conhecem-nos os passos desde o tempo em que os embrulhávamos no riso farto das nossas longas tardes de brincar, quando as sirenes das oficinas de para lá de São Bartolomeu nos apanhavam a tatuar cumplicidades sob o cheiro intenso das laranjeiras da Praça. “Um, dois, três, macaquinho do Chinês”… Sim, nós não conseguimos estar quietos nem por um segundo. Talvez só quando a tua mãe nos chame para partilharmos uma torrada e um fresco Sumol de Laranja que fomos buscar ao Café do teu pai, aquele estabelecimento que nunca cumprirá a tua vontade de se chamar “Café Pinguim”. Mas conseguirás ter um cão. E o que terá em comum a gaveta da direita do roupeiro do meu quarto de agora com o passeio em frente ao Framar? Em palavras escritas nas longas cartas que trocávamos entre Portalegre e Lisboa nos tempos de Faculdade, a cumplicidade e o riso que persistem em infinitas histórias e no eterno non-sense. “Imensa paprikaaaaa”… O t

Quando rasgamos a noite e a morte…

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Por mais intensa que seja a noite e o silêncio imposto ao toque dos sinos, jamais os pardais da árvore que me beija o parapeito, deixarão de me despertar com o seu canto desde o primeiro indício da madrugada. E por inspiração desse tom de liberdade me reinvento, que de aleluias o sol tinge a sina de todos os meus dias. Os lábios que sufocam irremediavelmente as palavras nos beijos de amor, as mãos que galgam o pudor para se entregarem às carícias, os pés que cumprem as vontades, os meus braços… e a alma que é pão e alento de toda esta festa; nada daquilo que somos poderá ter como destino o gélido sentido de um túmulo de pedra. Nós somos das manhãs e da fé que abandona os sepulcros e os deixa vazios sob as rosas que tecemos em rima com o canto e o voo dos pássaros. Nós somos da malta de sorrir. Quando rasgamos a noite e a morte… Sempre que nos reinventamos e ressuscitamos no alvor da Páscoa de Jesus, aleluia da Terra. (Nesta Páscoa, o meu sobrinho Luís ofereceu-me es

O Homem de Jerusalém

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As ruas de Jerusalém têm a dimensão do universo inteiro, e as pedras soltas que salpicam de dor a aridez do meu caminho trazem-me aos pés descalços, os ais de tantos Homens esmagados contra as fronteiras desenhadas pelo poder e pela vaidade. Sortearam-me as vestes e o tempo, e sobre a nudez dos meus ombros açoitados pela injustiça, o madeiro imenso que absorve o sangue que escorre, enraizou nas obscuras florestas da opressão, da fome, da soberba, da desonestidade, do terrorismo, da violência, da pedofilia, da desigualdade, da homofobia… E só às vezes se cruza comigo a disponibilidade de um Cireneu. A água que se perdeu por entre as mãos dos Senhores do Mundo durante a esforçada e inútil lavagem da sua hipocrisia, incompetência e perversa ambição, é aquela pela qual clamam os meus lábios ressequidos e onde apenas acode o acre odor do desprezo que herdou do vinagre um gosto assim.       Escuto muito próximo, o choro das mulheres que acorreram à minha dor, as discriminadas de

Poesia

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O vento, irreverente, livre… tatuou o céu; e os desenhos de água alinham-se em rima com as palavras com que o teu olhar me reveste o pensamento enquanto eu vou cavalgando pela tarde. Esta espera fértil a que usam chamar esperança. O teu olhar que espreita por todas as esquinas simétricas ou assimétricas do tempo e da cidade. E são assim de água as sombras que me oferecem cais seguro enquanto te aguardo na Ribeira das Naus com o olhar fixo no horizonte… Talvez o mar aceite esta troca: eu entrego-lhe generoso o sol e ele faz-te chegar até aqui cruzando o Bugio. A barba vai aclarando ao ritmo do sal que escorre pela saudade que é imensa mas insuficiente para desalinhar-me a fé, até que tu chegas finalmente para deixares de ser apenas a minha espera. O sol deixou a sua cor impressa na água que tinge o céu. Água do Tejo e de Lisboa. E as palavras que fluem agora incansáveis dos beijos vêm arrumadas em versos de uma forma indefinida. Entre a água, a cidade, a espera, a

Pai

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O teu amor retira o sentido profano de todos os gestos e todas as palavras, e reveste-os do tom sublime e sagrado do melhor que têm os dias. Há um leito de pétalas de rosas tecido sob o teu olhar, o chão informal onde me enleio na Idade abraçando aquele tempo imortal de ser rapaz. E tudo volta sempre a ser possível, os horizontes sucumbem aos sonhos, e as vontades têm asas acendidas pela coragem que me ensinas... -Tu és capaz. Hoje, quando nos sentamos a enfeitar com sidra e “ervilhanas” os pores-do-sol de Verão do Gerês, como antes nas Segundas-feiras de Páscoa a jogar à bola sob os pinheiros mais sombrios do Castelo de Vila Viçosa. O tempo… O que é o tempo, se o amor nos reveste de eternidade?

Tudo aquilo que muito se espera e se deseja beneficia de tempo para se ir moldando a nós e tornar-se eterno...

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Despojamo-nos da prudência… Será descalços que deveremos atravessar todos os dias, sentindo o tempo na pele e marcando-o simultaneamente com os genéticos aromas infinitos que transpiramos. A História tatuando-nos de rugas e nós retribuindo, reescrevendo-a pela tinta da ousadia e pela coerência. Mais à frente, naquele ponto onde a estrada desenha uma curva que nos alimenta o futuro de uma doce expectativa, encontro-te num abraço sem prazo de validade e sem fronteiras. Onde acaba um e começa o outro? Jamais saberemos. Nem nós e nem quem nos espreite de fora, quer de longe ou de mais perto; porque é como se tudo em nós seguisse respeitosa e cegamente a vontade expressa pela alma que tinge o pensamento. Depois, quando o tempo bordeja um lago de águas calmas e que o céu tingiu de azul, o reflexo que desenhamos tem a força doce de uma romã a arrastar o rubor do Verão pelo Outono adentro. Sabemos nós que no interior deste abraço moram os beijos. Os beijos imprudentes e tam

Há quem afirme que a esperança é a última a morrer...

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Há quem afirme que a esperança é a última a morrer, mas não é verdade porque ela é efectivamente eterna. Esta falsa e comum suposição resulta apenas do facto de nada ou ninguém lhe ganhar em força e idade, admitindo-se que depois de tudo e de todos… ela também sucumbirá algures pelo apocalipse. É da alma a esperança que entorno para os meus passos quando eles desenham uma rota sobre as pedras de todas as ruas, e até das vielas mais estreitas, rasgando a noite com um detalhe de luz que mimetiza o gesto generoso do luar. A alma que é minha, mas que é igualmente tua, por ser lá que tu vives sentado desenhando a esperança, sossegado à beira de um rio que corre tranquilo e sem soluçar. E sem nunca fazeres uma pausa, sem teres a mínima noção do tempo e nem da idade. Foi aliás pelo facto de não te imaginar a terminar de viver assim em mim, que cheguei à conclusão de que a esperança goza do poder da eternidade.

É de primavera o teu olhar, e são de liberdade e rubros, todos os beijos que nos damos ao entardecer...

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Meu amor, Trouxe de Fevereiro, a festa, até aqui onde me sento contigo à espera da primavera que já não tarda. A chuva semeou tapetes de flores amarelas, e de todas as outras cores, oferecendo ao campo um ar doce a Páscoa e a vida. E entre a vida e a festa, canto eu em verso o teu amor que me abraça os sentidos, perfume da alma que se junta à Terra e ao tempo na poesia do renascer. É de primavera o teu olhar, e são de liberdade e rubros, todos os beijos que nos damos ao entardecer. Sem nunca deixar que o inverno e os ventos nos apartem. Mil beijos do melhor e maior amor. Teu, Francisco

No Alentejo...

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No Alentejo as mãos não desistem e revolvem e acordam a terra adormecida no longo estio a que a sede oferece sabor de infinito. Ficamos com o ouro colado ao peito pelas searas maduras do trigo que colhemos ou então pelo fio que escorre do despertar da geada nos olivos entregues às manhãs de inverno. No Alentejo... Vivemos e cantamos sobre todas as dores porque nos matamos a trabalhar. E nunca cantamos ou estamos sós, cantamos de braço de dado com os amigos na dolência que aprendemos com o sol, que nunca corre. À lareira no inverno gelado, buscando aquela nesga de sol que irrompe por Dezembro, ou então tentando agarrar alguma brisa fresca nas noites de verão em que não se fecha a porta; estamos sempre juntos à conversa e matamo-nos a rir, de nós, porque vivemos bem com tudo aquilo que somos, e às vezes até rimos da má sorte que derrotamos com as mãos e com esta forma de ser feliz. As mulheres que louvam o Céu na genuflexão sobre a água fria dos ribeiros ou na carícia das