Mensagens

A mostrar mensagens de abril, 2019

O vento forte nas pontes do sul…

Imagem
Desde Vila Viçosa, regresso a Lisboa ao fim da tarde de domingo de Páscoa, e nos placards da autoestrada, a mensagem é clara: “Precaução: vento forte”... Sempre acreditei que quando crescesse deixaria de gostar de brincar com o pôr-do-sol. Pensamos tantas coisas destas a nosso respeito, sem nos darmos conta de que elas são tão intrinsecamente da genética da alma, e não da idade ou do tempo, que subsistiriam mesmo que vivêssemos mil anos. Na sexta-feira santa andei a brincar com o pôr-do-sol ali para os lados do palácio, e segui a frontaria caiada da porta do nó, até ao portão do meu antigo liceu. Não encontrei ninguém, mas o espaço e as pedras das ruas têm o condão de guardar a fala, o riso e o choro da gente, e apesar de quase ser hora de enterro do Senhor, ressuscitei mil lembranças que guardei nos bolsos fundos da memória. Nós temos esse condão de cruzar a nossa genética com a genética das ruas, e por mais camadas de cal que imponham às paredes das casas, a nossa silhu

O meu Deus...

Imagem
O meu Deus ressuscita, tal qual o canto das ribeiras numa tarde de chuva, sempre que eu ofereço ao tempo adverso, o meu rumo e os meus aromas, fazendo do inócuo silêncio, uma canção perfeita que me espelha na rima de cada verso. O meu Deus foge então dos sacrários e dos altares, para caminhar pelas ruas no peito da gente, espreitando pelo riso e pela esperança que são próprios de quem vive contente. O meu Deus trocou os mantos de veludo pelos gestos talhados pela vontade, trocou a sumptuosidade dos templos pelas vielas, rejeitou a hipocrisia, trocando-a pelos beijos de amor, que o são de verdade. O meu Deus passou pela cruz, mas é a alegria que se abraça num sepulcro vazio. O meu Deus, todos os dias, e não só nas manhãs de Páscoa, é a minha vida inteira a repousar num abraço onde não se sente o frio.  

Na aparência de estar só...

Imagem
Na aparência de estar só, o silêncio nunca é a casa de quem escreve. Há gente que canta, que conversa connosco durante muitas horas, há gente que grita, e até há gente que, preparada para tomar corpo de letra, ressuscita. Quando se escreve constroem-se novas moradas ou reabilita-se a antiga, sempre na coerência de um sonho qualquer que nos persiga, e quem escreve, mais do que manchas de tinta, tem pedaços de terra presos à mão: ele é um agricultor que se empenha em mondar os seus parágrafos, para que não persiste mais nada, para lá das palavras que possam ser pão. Quem escreve tem o privilégio de baralhar os dias, as horas, as estações... não sendo raro acordar em dezembro para uma manhã de verão, naquilo que poderá soar estranho para quem não souber decifrar a linguagem imprevista do coração. O escritor tem face de esquizofrénico, de mendigo, de travesti, de marinheiro, de inconsequente, de herói, de vagabundo... Mas que importância tem isso, se apenas o invisível e univ