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2011

Estão descascadas e saboreadas as laranjas da colheita de 2011. Hoje, último dia do ano, sentados à volta de uma lareira que nos aquece aqui algures entre as laranjeiras deste “Pomar” e sempre à laia de balanço, partilho convosco todas aquelas laranjas que gomo a gomo se foram impondo à minha memória: LARANJA DOCE – Revoluções nos países árabes Saúda-se o fim de regimes totalitários pela força do povo unido nas ruas. Foi de dentro do Egipto ou da Líbia que nasceu este desejo de democracia, tendo os líderes das grandes nações secundado esta vontade, após anos de convivências e complacências hipócritas feitas ao sabor dos mais variados interesses. LARANJA AMARGA – Crise Financeira / Troika De PEC em PEC chegámos à Troika, e fomos obrigados a pedir empréstimo às instituições internacionais. Ataque à zona Euro? Crise financeira mundial? Nada servirá para disfarçar a incompetência de quem nos governou ao longo de décadas. LARANJA SUMARENTA – Eduardo Souto Moura O presidente Oba

A terapia do Feijão com Mogango e das Migas de Tomate

Por estes dias de entre Natal e Ano Novo, o Alentejo cumpre esta contradição que é parte da sua magia, de um sol fantástico e de um frio que enregela até as partes mais recônditas do esqueleto. Não me importo mesmo nada com isso. Se não fosse assim não era verdadeiramente Alentejo, não seria Vila Viçosa e eu jamais me sentiria em casa como agora me sinto. Quanto mais mundo conheço, mais reforço a convicção de pertencer a esta terra e de ser este verdadeiramente o meu espaço. Aconchegado de dia pela braseira que se encontra debaixo da minha camilha e de noite pelas pesadas mantas coloridas de Reguengos, faço por estes dias o meu atestar de paz, tranquilidade, amizade e força para enfrentar mais um ano. Não sei se por andar a fugir à televisão e à rádio, ou se por ainda não ter comprado sequer um jornal, numa assumida atitude quase monástica de um Cartuxo, mas até parece que já estou mais optimista quanto a 2012. O pior será quando eu acordar do sonho com o despertador da Troika a t

Os Natais dos dias simples

A simplicidade dos nossos dias Calipolenses fazia sobressair enormemente os dias especiais que eram os dos nossos Natais. Não que deixassem também de ser simples, nós é que os tornávamos diferentes pelo que melhor que nos vestíamos, comíamos, bebíamos e também, e sobretudo, pela alegria com que os preenchíamos, celebrando o estarmos juntos e em família. A alegria expressava-se pelo canto tradicional e acompanhávamos o “Eu hei-de dar ao Menino…” com as Roncas que construíamos colocando a pele de um animal, geralmente de um coelho, a tapar a boca de um recipiente de barro ou de lata, sendo esta cobertura perfurada ao centro por uma cana que friccionávamos molhada, criando uma ressonância perfeita para acompanhar as nossas vozes mais ou menos afinadas. Há medida que a noite avançava e os copos se iam esvaziando, aumentava a vontade de cantar, mas também a desafinação. No jantar do dia 24 comíamos peixe e este no Alentejo é sinónimo de Sopa de Cação. A moda do bacalhau com couves veio m

Natal 2011

Conta a história que há milénios atrás, quando Herodes era rei, só a pobreza de uma lapa fria, estava livre para acolher o carpinteiro José, que juntamente com a Virgem Maria, fizeram brilhar a Luz e a Paz, concretizando esse Mistério maior da história, de um Deus que se fez Homem e nasceu rapaz. Brilharam estrelas por todo o universo, viajaram com ouro, Magos de longe, pastores dançaram e alegrou-se o povo, acreditando que a vida seria uma festa, neste eclodir de um tempo novo, imaginado de Homens iguais entre si, sem ódios, rancores ou guerra, um tempo em que a justiça e a concórdia, viriam colorir e restaurar a Terra. Mas se foi Deus que fez o Homem, será sempre o Homem quem traçará a sua história. E se a bússola for o ter e a perversidade da ambição, jamais se chegará ao tempo de Homens solidários estendendo a mão, apostando em força na igualdade, na tolerância, na fé, na humildade e no respeito, que permitem construir a mais doce liberdade. Como era bom

Quatro horas de Natal

Com a total cumplicidade da alma, aceitei o repto e reservei quatro horas do meu calendário do Natal 2011, para o voluntariado na festa dos sem abrigo organizada em Lisboa pela Comunidade Vida e Paz. Quatro horas apenas, o suficiente para que centenas de histórias se cruzassem com a minha, histórias de gente que não precisa de falar para expressar a dor de uma vida triste e sem rumo, pois os olhares, os gestos, as rugas, a tez, denunciam desde logo esse destino de uma existência madrasta. Cruzam-se todos os dias connosco na cidade e nós não os vemos ou não os queremos ver, são uma multidão de gente que carrega às costas em mochilas sujas, todo o muito pouco a que podem chamar seu, gente que pela persistência no infortúnio, já incorporou a pobreza no seu código genético e que com a mesma naturalidade com que respira, afirma dormir na rua ou em alguma estação “quente” da cidade. É uma multidão que chega ávida de pão, mas também e sobretudo de afectos. Mais de vinte anos depois, reent

Os infantis no campeonato dos seniores

Imaginem se de repente Portugal decidisse apresentar-se num importante campeonato internacional de futebol de escalão sénior e com um elevado grau de exigência, com uma equipa de infantis… Não será difícil de prognosticar que perderíamos todos os jogos por goleadas vergonhosas e que o desfecho seria a descida de divisão. Revejam por favor o debate quinzenal que teve lugar ontem na Assembleia da Republica e que opôs Passos Coelho a Seguro, atentem ao nível abaixo de zero da discussão e confirmem por favor… …não temos jogadores para este campeonato tão duro. A guerra é feia e árdua e sem generais e com tais soldados, venha de lá mais um Alcácer Quibir.

Eduardo Lourenço

Foi ontem anunciado o vencedor do Prémio Pessoa 2011, e não posso deixar de me congratular com o facto de ele ser Eduardo Lourenço. Há muito que me habituei a ler e a ouvir Eduardo Lourenço, desenvolvendo por ele uma enorme admiração com raízes na lucidez, na inteligência e na oportunidade com que este Homem Maior pensa a vida e o mundo em geral, e Portugal, de uma forma muito particular. Não tenho dúvidas de que aos 88 anos, ele é um dos maiores Portugueses vivos, e por certo o mais importante humanista Português do nosso tempo. Afirmou o júri do Prémio Pessoa de que estando deprimida por estes tempos a nação lusa, era necessário premiar algo de grande que a ela pertence. E maior e melhor, digo-vos eu, era impossível. Um dia Eduardo Lourenço retratou assim Portugal: "Nação pequena que foi maior do que os deuses em geral o permitem, Portugal precisa dessa espécie de delírio manso, desse sonho acordado que, às vezes, se assemelha ao dos videntes (Voyants no sentido de Rimbaud

Essa insuspeita ligação entre as cavalariças e a amizade

Tenho a noção de que estou em pleno gozo do meu último fim-de-semana prolongado pois com a reforma “troikiana” dos feriados, as pontes ficarão reduzidas a estruturas de engenharia para cruzar estradas ou cursos de água, deixando definitivamente de existir as que ligam feriados a fins-de-semana e vice-versa. Por isso, tal como acontece com o último pedaço do bolo, o último bombom da caixa ou a última gota de cerveja, ele me está a saber tão bem. E depois, para saborear Vila Viçosa em plenitude, é preciso muito mais tempo do que apenas e só o que nos é oferecido entre sexta e domingo. Para entrar com eficácia na dimensão mais profunda das memórias é necessário esquecer o relógio e relaxar, deixando-nos embalar pela “calma” alentejana. Ontem resolvi deixar o carro na garagem e “viajar” a pé até à zona dos supermercados onde se abastecem os meus conterrâneos, tendo assim a possibilidade de passar ao portão da minha Escola Secundária, a antiga, a que teve as suas instalações provisoriame

Avé Maria

Mãe de Jesus: Senhora da Anunciação, da Encarnação, do Ó, da Visitação, da Natividade, de Belém, da Lapa, das Dores, da Piedade, do Pé da Cruz, dos Anjos, da Assunção, … Mãe nossa: Senhora do Amparo, dos Remédios, da Saúde, da Cabeça, da Vitória, da Pranto, da Agonia, da Graça, da Glória, da Vitória, dos Navegantes, da Boa Viagem, Auxiliadora, da Paz, da Boa Morte, do Parto, do Bom Sucesso, do Carmo, da Consolação, da Guia, do Leite, dos Mares, das Mercês, dos Milagres, da Misericórdia, das Neves, da Purificação, do Perpétuo Socorro, dos Prazeres, do Rosário, do Amor Admirável, do Bom Despacho, do Alívio,… Mãe de Portugal: Senhora da Oliveira, de Fátima, do Sameiro, da Nazaré, do cabo, do Monte, dos Mártires, do Incenso, D’Aires, da Enxara, da Abadia, da Ponte, da Boa Hora, da Boa Nova, da Luz, das Candeias, da Estrela, da Escada, do Livramento, da Pena, da Rocha, da Lapinha, da Fé, do Almortão, do Antime, da Serra, de Balsemão, do Nazo, da Ribeira, do Viso, dos Montes Ermos, da

Restaurar a independência

No passado dia 1 de Dezembro comemorou-se o 371º aniversário da restauração da independência de Portugal. Após 60 anos sob o domínio da coroa Espanhola, um grupo de bravos Portugueses correu com nuestros vizinhos para o seu lugar para lá da fronteira, e fez rei o Duque de Bragança, o Calipolense meu conterrâneo D. João, o IV na lista dos Soberanos de Portugal. O dia 1 de Dezembro não significou o fim do processo de restauração da independência, foi antes o inicio de uma longa guerra que demorou 28 anos. Passados quase quatro séculos, é triste mas inevitável pensar que Portugal persiste mas a independência, nem pensar. Não há “Filipes”, Duquesas de Mântua ou “Miguéis de Vasconcelos”, mas sobram “Mercados”, “Troikas” e sobretudo, um brutal endividamento. Na nossa economia doméstica como na economia de um país, se não dispomos de meios e dependemos de terceiros, até podemos dizer que existimos mas nunca poderemos sustentar que somos independentes. Sem pretensões a economista, políti

Feriados, "pontes" e dias de descanso

Empenhados os anéis do novo-riquismo e da falsa abundância das décadas do nosso passado mais recente, de volta à triste e quase eterna condição de pobres, laboriosa tem sido a busca nos últimos tempos, de formas e mecanismos de mais produzir e de maior poupança. Os feriados têm estado no centro deste labor e à quase unanimidade em torno da necessidade de redução do seu número, junta-se o total desacerto quanto aos dias que deverão permanecer ou não como festivos. Sobre este assunto, há uma discussão entre Igreja Católica e Estado, impondo-se mutuamente quotas, num processo que tenho dificuldade em entender à luz da laicidade do Estado. Discute-se nos jornais e discutem os líderes de opinião porque à população em geral importa apenas o número total de dias de descanso e de “pontes”, pouco importando os que ficam e os que vão. Aposto que mais de 80% da população Portuguesa desconhece os motivos que se celebram nos dias feriados. Se nos fixarmos nos quatro feriados que se diz que deix

Fado – Património de Lisboa, de Portugal e da Humanidade

Quem um dia te viveu, Lisboa, Conhece de cor as voltas do teu canto, E sabe que o fado que a gente entoa, É o canto da saudade em tom de pranto. A viela mais estreita do bairro antigo A que a sardinha vem dar o cheiro a mar, Oferece-me o eco para o pregão que eu digo E é palco perfeito para o fado cantar. Cerro os olhos com alma e com garra E ofereço ao corpo um ar sério ou gingão, Para que ao primeiro triste acorde da guitarra Me salte para voz o que está no coração. Um dia quis também Deus fazer Seu, Este canto luso da alma de todos nós E marca de perfeição então lhe deu Criando Amália e lhe dando a voz. E assim com esta marca de divino O fado ganhou asas e foi pelo mundo Mostrando que de Portugal é mais que um hino É saudade, é povo e amor profundo.

O parque temático

Por manifesta falta de tempo no passado fim-de-semana, tenho aproveitado os dias desta semana para ler os volumosos periódicos publicados ao sábado e domingo, que compro religiosamente e que até serem lidos, conservo na sala junto ao meu sofá. Fico a saber que: - A presidente do Parlamento Português optou por manter a reforma em detrimento do salário que lhe correspondia pelas actuais funções. É que a reforma, conseguida aos 42 anos de idade e após 10 anos como juíza do tribunal constitucional, tem o valor de cerca de 7.000 € mensais, sendo portanto superior ao dito salário; - O líder do Bloco de Esquerda afirmou que a Greve Geral de dia 24 de Novembro é, ou poderá ser, o início de um novo 25 de Abril; - O líder da UGT deixou-se fotografar na piscina de um hotel de luxo em Maputo, onde por certo se encontrava em visita de trabalho, a fumar charuto e com ares de estar no paraíso; - As sagas BPN e Face Oculta prosseguem a bom ritmo, com renovados argumentos, conseguindo superar

TUGAlidades

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Não sei se devido ao facto de nos últimos tempos, por acção desses seres poderosos e dominadores do mundo agrupados no designado e abundantemente referido “Mercado”, passarem o tempo a associar Portugal a lixo, ou então por obra de uma tal senhora Merkel oriunda da ex-RDA e filha de um Pastor Evangélico, empenhada em fazer pagar o desrespeito pelas regras da Zona Euro, com perda de soberania, o que é facto, é que hoje acordei rouco depois de ontem ter entoado três vezes o hino nacional a plenos pulmões, durante o Portugal – Bósnia que se jogou no Estádio da Luz, que ganhámos por seis a dois e que nos apurou para o Euro 2012. Haja pelo menos um Euro em que estamos por mérito, nem que seja apenas e só o do futebol. Mas voltando ao jogo de ontem, tenho de facto de vos reconhecer que durante o mesmo me apercebi de que este “pisar de calos” ao orgulho lusitano de que temos sido vítimas num passado mais recente, me aguça a garra patriota e ontem, para além do hino cantado por três vezes,

Ai, Timor!

Passaram ontem vinte anos sobre o massacre ocorrido em Dili, Timor Leste, no Cemitério de Santa Cruz, quando as forças militares Indonésias disparam brutalmente sobre civis. A presença no terreno de alguns jornalistas internacionais, permitiu que o mundo espreitasse a repressão de que os Timorenses eram vitimas desde a ocupação Indonésia ocorrida no período em que Portugal conjugava o verbo descolonizar no presente do indicativo. Quando comecei a ouvir falar de Timor, recordo-me que a palavra já rimava com guerra. No final dos anos setenta, chegaram ao Seminário de Vila Viçosa, alguns rapazes que expressando-se no mesmo Português que nós, nos falavam de uma terra distante, em guerra, e a viver o sofrimento e a dor de famílias desfeitas, separadas entre a própria guerra e a miséria oferecida pela pátria da língua mãe, ali algures para os lados do Jamor. Foi o meu primeiro contacto com Timor. Anos mais tarde, numa tarde e serão de Julho de 1984, com o objectivo de participar num Con

Luzes, câmara e… imbecilidade.

Segundo os dados da Marktest relativos a Outubro de 2011, o programa com maiores níveis de audiência na televisão portuguesa foi o jogo de futebol entre Portugal e a Dinamarca, transmitido pela RTP1 no dia 11. Este programa teve um Share de 52,5%. Dos cinco programas mais vistos, quatro são jogos de futebol, havendo também um episódio de uma telenovela. O sexto programa mais visto foi A Casa dos Segredos, transmitido pela TVI também no dia 11 de Outubro, com um Share de 35,7%. Daí até ao final do Top 10, nada mais existe para além de jogos de futebol e Casa dos Segredos. Tendo em conta estas escolhas dos portugueses na hora de manipular o comando da televisão, fica claro que em Portugal quem quiser ser famoso e ter uma elevada notoriedade junto do grande público, tem apenas três opções: jogar futebol, ser actor de telenovelas ou então disponibilizar-se para se enfiar numa casa com um bando de energúmenos a fazer as mais tristes figuras que seja capaz. Dado que às duas primeiras op

O Paço a bordo

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A edição de Novembro da revista de bordo da TAP, traz entre outros temas muito interessantes, uma entrevista com uma passageira frequente, Manuela Saldanha, Directora de Marketing da Loja das Meias. No conjunto de sugestões apresentadas relativas aos lugares “Made in Portugal” que não esquece e aos quais recomenda uma visita, Manuela Saldanha inclui o Paço Ducal de Vila Viçosa, juntamente com o Museu Nacional de Arte Antiga ou o Museu Berardo. Nós já sabemos que é um sítio único e que muito nos envaidece que seja nosso, mas é sempre bom ver assim reconhecida a beleza da nossa terra e dos seus lugares, sobretudo por gente que já calcorreou meio mundo e que trabalha e se movimenta em áreas onde se cultiva o bom gosto.

Sementes de Esperança II

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Ainda a propósito da partida do Padre Armando, uma vez regressado de Londres, não resisti a “mergulhar” no meu baú das recordações, à procura de uma imagem fotográfica que pudesse juntar às muitas e boas imagens do grupo Sementes de Esperança, que gravei e conservo num dos lugares mais seguros da memória. Encontrei esta foto que foi tirada na tarde do dia 13 de Maio de 1982, precisamente a véspera da visita do Papa João Paulo II a Vila Viçosa. Estamos no claustro do Convento das Chagas, que muito antes de ser a Pousada D. João IV, foi o nosso poiso em muitas tardes de convívio e de festa. Há um palco onde os grupos de jovens das diferentes localidades se preparavam para actuar, estando a usar da palavra, sempre no seu jeito ousado e diferente, o Padre Manuel Barros. No canto inferior esquerdo da foto, vemos o Padre Armando em conversa com os artistas da viola que nos iam acompanhar. Não se vê o rosto dos músicos mas quase de certeza que um deles é o meu amigo José Maria. De frent

Sementes de Esperança

Estaria eu a entrar na minha segunda década de vida quando o Padre Armando Tavares chegou a Vila Viçosa à Paróquia de S. Bartolomeu. Neste final dos anos setenta, o clima político era quente nas terras do sul, e frescas, eram só mesmo as memórias da revolução recente, fazendo-se do combate à Igreja Católica, uma marca forte dos dias da contestação e de uma juventude a crescer para as novas liberdades. Em contra-ciclo nesta lógica anticlerical, após os anos da catequese da instrução primária, eu e mais uns amigos, tínhamo-nos mantido unidos num grupo dinamizado pelo Padre José Luís Francisco e pela minha querida e eterna catequista Bárbara Elisa. O Padre Armando chegou e juntou-se a nós para nos conduzir até aos dias mais bonitos e felizes das nossas vidas. Com uma paciência infinita, uma generosidade sem igual e a humildade que gera as maiores cumplicidades, o Padre Armando “aturou-nos” na idade difícil e insuportável das nossas certezas absolutas, levando-nos pela mão por esses tr

Feira dos Santos

O dia do ano em que a estrada de paralelos entre Vila Viçosa e Borba se tornava mais curta era sem dúvida o dia 1 de Novembro. E o motivo era a Feira dos Santos na localidade nossa vizinha. A pé, de bicicleta, de moto, de carro ou de autocarro na versão de permanente vai-vem, tudo servia para nos ajudar a percorrer os cinco quilómetros de um caminho que antes da explosão do mármore, era ladeado por olivais e muros caiados de branco. Em família, com os meus pais, o meu irmão, os meus tios, os meus avós, e anos mais tarde já com os meus amigos, sempre elegemos o autocarro como nosso meio de transporte. Apesar das filas no Rossio junto ao mercado serem habitualmente grandes, sempre tínhamos a oportunidade de pôr a conversa em dia com algum parente ou amigo que estivesse por perto. Apesar do Outono, o tempo geralmente ajudava. A excepção terá sido mesmo o ano em que a força da chuva e o peso da água, fizeram com que uma tenda caísse em cima da minha amiga São Duarte. Não me recordo de

No poupar é que está o ganho

Os especialistas em demografia estimam que durante o dia de hoje nascerá algures no mundo uma criança que fará com que a população mundial atinja o incrível número de sete mil milhões. Sendo difícil de identificar com precisão o local onde ocorrerá esse nascimento, a Índia, país com níveis de natalidade muito elevados, surge como o berço mais provável para essa criança. Se pensarmos que em meados do século XIX a população mundial era de aproximadamente mil milhões, vemos como o século XX foi explosivo em termos demográficos, ritmo que parece manter-se no século XXI pois desde que entrámos nos anos de 2000, a população já cresceu mil milhões. Não deixa de ser interessante, a coincidência do nascimento deste habitante sete mil milhões ocorrer no Dia Mundial da Poupança, pois na ordem do dia está mais do que nunca, a existência e a disponibilidade de recursos que permitam qualidade e dignidade para a vida de todos os seres humanos do planeta terra. Para essa qualidade nunca contribuir

Alpendres, orgasmos e … vinho verde

Estimulado por uma excelente imitação do actor Manuel Marques no programa Estado de Graça, não resisti a espreitar por esse cyber buraco da fechadura que é o YouTube, entrando por escassos momentos no mundo até então para mim desconhecido que é a Casa dos Segredos, verdadeiro “Estupidiário”, onde se encontram em cativeiro alguns exemplares da estupidez nacional, que ao que parece e para grande pena nossa, não estão em vias de extinção, estando pelo contrário em grande desenvolvimento. Com um ar feliz, super divertido e sem a mínima expressão de incomodidade, há uma concorrente que demonstra desconhecer o que é um alpendre, durante uma aula de geografia em que lhe entregam um globo terrestre para o qual ela olha com o mesmo ar inteligente com que um jerico mira um palácio. Saberá Deus em que outros globos ou bolas se empenhará ela em mexer com mais assiduidade e gosto! Mas esta Miss Alpendre 2011 não é exemplar único e descobre-se mais tarde que todos os presentes nesta residência qu

João

As crianças temperam de esperança a nossa vida, e os seus olhares, o seu riso, os seus sonhos e ilusões, são o melhor e mais eficaz antídoto para as agruras que os nossos dias por vezes nos oferecem. O segredo é sabermos sair da nossa cátedra de adultos e não ter vergonha de entrar no seu mundo que nos devolve sempre aos tempos em que fomos crianças, os tempos em que vivíamos munidos da força de acreditar, da coragem para galgar impossíveis. O meu sobrinho João cumpriu hoje seis anos de vida e na festa que fez com os seus amigos, todos com meia dúzia de anos de idade, bebi e alimentei-me dessa magia, da cor e da alegria que gostaria jamais poder esquecer e sempre conservar em lugar cativo no mais íntimo de mim, tornando mentirosa a imagem exterior da carapaça carcomida pelo peso dos anos, marcados a rugas e cabelos brancos. Pelo que vos conto, e ao contrário do que possam pensar, nesta minha relação com o João, relação de tio e sobrinho, é ele o meu mestre pelas lições de vida, ener

O povo unido

Numa entrevista a que assisti esta semana na RTP Memória, uma fadista pertencente a essa classe elitista dos intérpretes do fado de salão, manifestou o seu incómodo quando o entrevistador, o excelente profissional Eládio Clímaco, de uma forma perfeitamente apolítica, desabafava que o povo deveria ser mais unido. Pelos vistos persistem as saudades do Estado Novo ou então o que persiste é a síndrome pós-traumática do PREC, esse momento da revolução em que o povo gritava com legitimidade e naturalidade que unido jamais seria vencido. A semana decorre e no contexto das notícias emergem dois nomes: ETA e Kadhafi. Após anos de atentados terroristas e de milhares de vítimas mortais, a ETA, o grupo separatista Basco, anunciou o fim das suas actividades, pondo um ponto final nessa guerra hipócrita que é o terrorismo, uma actividade que jamais ganhará legitimidade por mais nobre que seja a causa e o ideal. Kadhafi, ditador, tirano, excêntrico e líder louco da Líbia, após décadas de ditadura

As marcas do parecer e as marcas do ser.

Foi com alguma perplexidade que esta semana ao receber o extracto trimestral da minha conta bancária, verifiquei que o mesmo vinha acompanhado de um desdobrável que publicitava uma linha especial de crédito para a aquisição de produtos de luxo de uma muito conhecida marca internacional de canetas e de acessórios para homem. O meu espanto prende-se por um lado com o facto dos bancos continuarem a fazer apelo ao crédito para a aquisição de produtos de luxo e perfeitamente desnecessários, no momento em que muitos dos clientes que recorreram no passado a estas auto-estradas para o consumo, não têm capacidade para pagar as suas prestações, e por outro lado, pela dificuldade em aceitar que no actual enquadramento de crise, haja alguém que admita poder dizer sim a esta sugestão de compra. Nem sei porque ainda me surpreendo com estas situações. Há muito que deveria saber que os tempos que vivemos são tempos mais de parecer do que de ser, e que a busca ou reforço de um estatuto dado por uma

2012

Há algum tempo atrás andou por aí um filme que, com base numa profecia antiga, ficcionava o fim do mundo em 2012. O mundo não sei se acabará efectiva e realmente no próximo ano, mas para nós Portugueses, o Natal e as férias já morreram de vez. Pode ser um principio… A vida funciona em ciclos e já todos deveríamos ter aprendido que à bebedeira se segue a ressaca, ao Carnaval a Quaresma e a uma refeição abundante, o pagamento de uma factura gorda. Já deveríamos saber mas por vezes esquecemo-nos ou então fazem-nos esquecer essa dura realidade transportando-nos para o reino da ilusão e da fantasia. Há vinte e cinco anos atrás, recordo-me, éramos um povo pobre: havia fome em Setúbal, no Vale do Ave e em muitas outras regiões do país, havia muito desemprego, salários em atraso, falências de empresas, etc. Entrámos na União Europeia, então CEE, e de um momento para o outro, tornámo-nos ricos. Construímos auto-estradas, pontes, túneis e rotundas, organizámos Exposições Mundiais e Europe

Doce

A visita que uns amigos de Lisboa me fizeram a Vila Viçosa neste fim-de-semana, tirou-me de casa na noite de sábado, nas horas em que habitualmente já estou imerso nos lençóis, contactando com a “movida” calipolense dos bares da zona do Terreiro do Paço, apenas pelo ruído que até de madrugada, as trupes de adolescentes e jovens resolvem fazer por debaixo da janela do meu quarto. Desta vez foi diferente, e fui vê-los. Passámos pelas portas dos bares mais conhecidos na tentativa de encontrar um que nos agradasse. É claro que o meu desconhecimento dos locais não ajudou nada na escolha. Pelas ruas e à porta dos bares, o facto de não conhecer a maioria das pessoas, e a forma como era olhado com prova de manifesto desconhecimento, deu-me logo essa estranha e incómoda sensação dos “penetras”, sentindo-me um estranho apesar de estar na minha própria terra Acabámos por optar por um dos locais mais antigos e cujo nome me era mais familiar. Resolvemos entrar, claramente à descoberta. Logo

Telelixo

Faz hoje precisamente 19 anos que acabou em Portugal o monopólio da RTP, com o início das emissões da SIC. Confesso-vos que sempre alimentei uma enorme expectativa relativamente ao aparecimento das televisões privadas, sobretudo para que fosse possível ter uma informação mais isenta relativamente à sempre governamentalizada estação do estado, por esses tempos de maiorias cavaquistas, de cor escandalosamente alaranjada. Para além disso tinha a natural expectativa de mais variedade e melhores programas. Confesso-vos que passados estes anos, e apesar de continuar a pensar que é importante termos mais do que apenas o canal do estado, e até não me perturbar a ideia de um do canais da RTP poder ser privatizado, sendo apenas uma questão de coerência, pois há já muito tempo que a RTP1 alinha pelo mesmo diapasão das privadas, tenho de reconhecer que a qualidade que eu esperava da diversidade, não foi concretizada. Basta pensar em programas como o Perdoa-me, All you need is love, Amiga Olga,

República

Há quanto tempo vos traímos heróis da Rotunda, inventores da república, sonhadores de uma pátria de justiça e igualdade, lutadores sem medo por um tempo novo e uma lusa alma renascida em nova fé e novos ideais. Neste pouco mais de um século, em quantos dias nos esquecemos ou nos fizeram esquecer da liberdade, vivendo cativos e saboreando este amargo fel de ter de ser aquilo que o coração não nos manda ser. Quantos dias de fome, de escravidão, de cansaços, de tormentas e luto. Quanta resignação ao fado de um destino assumido assim pobre e triste. Quantas ilusões em madrugadas que acreditámos seriam de um tempo novo, que nos fizeram sair à rua de braços dados e cravo rubro ao peito, a gritar que a mudança seria agora e nos entregaríamos a um novo destino. Quanta desilusão nesta descoberta da ausência de heróis, na consciência da esperança soterrada pela ganância vil dos que vestem a capa do patriotismo mas que são monstros cruéis que querem apenas ter, e sobreviver, nem que para isso

Viva a música!

Hesito entre assumir se a minha vida dava um filme ou uma telenovela da TVI, mas a avaliar pelo já elevado número de episódios, muitos deles “escabrosos”, talvez a segunda hipótese seja mais realista. Sobre o que não tenho a menor dúvida, é de que seja uma coisa ou outra, nunca lhe faltará uma rica e variada banda sonora. Hoje é dia mundial da música e decidi partilhar convosco algumas das canções que pela arte das suas palavras, melodias ou interpretações, ou tudo isso junto, sublinharam momentos importantes da minha existência. Não estão ordenadas por nenhum critério particular e acreditem que faltam aqui muitas outras que talvez num outro dia venha a partilhar convosco. Gaivota (Amália Rodrigues) À medida que se cresce e que o coração se exercita na arte de amar, aprende-se o real valor da saudade. Alexandre O’Neill fala como ninguém de Lisboa, do amor e da saudade, e a voz de Amália, a mais fiel expressão sonora do coração português, dá o toque de perfeição a uma canção que v

Acertar o passo

O Papa Bento XVI encontra-se em viagem pela sua Alemanha natal e nos discursos e homilias que já proferiu, para além de ter classificado de “chuva ácida” o nazismo e o comunismo, encontrou-se com algumas das vítimas da pedofilia em instituições católicas, tendo-se confessado perante elas “comovido e abalado”. Ao mesmo tempo e num encontro de jovens, o Papa afirmou que a Igreja jamais poderá aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Começa a ser um hábito estas desculpas tardias da Igreja e dos Papas relativamente a situações negativas do passado. Se o combate ao comunismo foi recorrente no tempo em que a cortina de ferro dividia a Europa, não consta que Pio XII tenha sido veemente nas criticas e no combate ao nazismo quando milhões de judeus eram perseguidos e mortos na Europa, nem tão pouco se assistiu à implementação de medidas duras logo que a questão da pedofilia começou a ser denunciada em algumas instituições católicas. As desculpas não se pedem, evitam-se. Os tratame

Nossa Senhora das Descobertas

Quando viajo pelo país em ritmo de passeio, algo que não dispenso nunca, é visitar os santuários, capelas e ermidas que vou encontrando no meu caminho, muitas vezes em lugares ermos e de difícil acesso, mas que já me possibilitaram muitas vezes o encontro com verdadeiras pérolas da arquitectura religiosa e popular, assim como a descoberta de lendas fantásticas. Nestes meus percursos de fim-de-semana e férias, em que me cruzei com as mais variadas e imaginativas evocações de Nossa Senhora, jamais tinha encontrado a de Nossa Senhora das Descobertas. Só a descobri na semana passada quando procurava no site do Patriarcado de Lisboa, um horário de missa que fosse compatível com os meus afazeres dominicais. Fiquei então a saber que a Igreja de Nossa Senhora das Descobertas se situa em Lisboa no sítio mais insuspeito que possamos imaginar: o piso -1 do Centro Comercial Colombo. Foi lá que fui à missa no domingo passado. O espaço não é grande mas é acolhedor, sobretudo se tivermos em cont

A “velha” Europa

Numa das manhãs desta semana, cruzei-me na Área de Serviço de Pombal, na A1, com o casal Mário Soares e Maria Barroso, que tal como eu e as restantes pessoas, se encontravam ali a descansar a meio de uma viagem para algum sitio a norte. Confesso-vos que nunca fui fã e adepto do Soarismo, nem nunca me senti identificado com o clã e a família, de sangue e política, que sempre gravitou à volta de Mário Soares, em jogos mais ou menos subtis pela conquista do poder das mais variadas instituições, mas tal não me impede de reconhecer nele um dos ícones maiores do Século XX Português, e, de entre os Portugueses actualmente vivos, reconhece-lo como aquele que mais positivamente influenciou a nossa história recente, pela conquista da liberdade e pela nossa integração na Europa. Se há coisas que a vida nos oferece é esta virtude de aliviar o absoluto das certezas, e também a capacidade de aumentar o enfoque no que é realmente importante e positivo, e por isso, eu que não sou um Soarista, não pu

A infernal vertigem do tempo.

O velho Largo dos Capuchos, formado pelo triangulo das igrejas de S. Luís, S. Tiago e Senhora da Piedade, cumprindo a tradição calipolense de cada largo ter três igrejas, no segundo fim-de-semana de Setembro, cobre-se de festa e converte-se na sala de visitas de onde qualquer natural de Vila Viçosa jamais quer estar longe. Ali, iluminados pelas luzes do arraial, andamos numa azáfama tão grande entre os Capuchinhos e as igrejas, a pesca ao pato, as farturas, as quermesses e o concerto da banda filarmónica no coreto, que até nem damos conta que às tantas já só respiramos pó, tal a quantidade de pés que se movimentam no piso amarelado e arenoso que cobre o largo. Antes que chegue a madrugada e antes que soem os morteiros que dão fim ao fogo de artificio, verdadeiro tiro de partida da corrida que põe os calipolenses de regresso às suas casas na vila, a pé porque é mais saudável e não há espaço para carros, o mais divertido e saboroso da festa é encontrar os conhecidos, os amigos de muito

Um cafezinho com… a amizade.

É sábado de manhã e o ambiente é de festa na praça maior de Vila Viçosa. Já rebentaram foguetes pela madrugada, anuncia-se a tourada e a largada do dia seguinte, há um movimento anormalmente maior de gente, prepara-se a ida nocturna ao arraial… Enfim, cheira a Capuchos e saboreia-se um dos mais agradáveis apelos de regresso a casa para a diáspora calipolense. A um canto da abarrotada esplanada do Café Restauração, há uma mesa com quatro pessoas que conversam animadamente. Há um pai de família, professor respeitado e empenhado, pessoa com militância católica muito activa sendo inclusive salmista nas celebrações litúrgicas da paróquia onde é um dos membros mais destacados. Há uma celibatária artista plástica, mestra e professora de artes preocupada com o painel de azulejos que tem em mãos e que a traz muito ocupada. Há uma senhora casada mas sem filhos, proprietária de um restaurante e de uma loja de artigos associados a práticas místicas e sobrenaturais, pessoa com reconhecido suc