Feriados, "pontes" e dias de descanso

Empenhados os anéis do novo-riquismo e da falsa abundância das décadas do nosso passado mais recente, de volta à triste e quase eterna condição de pobres, laboriosa tem sido a busca nos últimos tempos, de formas e mecanismos de mais produzir e de maior poupança.
Os feriados têm estado no centro deste labor e à quase unanimidade em torno da necessidade de redução do seu número, junta-se o total desacerto quanto aos dias que deverão permanecer ou não como festivos.
Sobre este assunto, há uma discussão entre Igreja Católica e Estado, impondo-se mutuamente quotas, num processo que tenho dificuldade em entender à luz da laicidade do Estado.
Discute-se nos jornais e discutem os líderes de opinião porque à população em geral importa apenas o número total de dias de descanso e de “pontes”, pouco importando os que ficam e os que vão. Aposto que mais de 80% da população Portuguesa desconhece os motivos que se celebram nos dias feriados.
Se nos fixarmos nos quatro feriados que se diz que deixarão de o ser já em 2012, tenho a mais firme convicção de que para a generalidade das pessoas:

• O dia de Corpo de Deus é aquele feriado jeitoso que calha sempre a uma quinta-feira e que permite fazer uma “ponte” entre finais de Maio e Junho numa altura em que no Algarve a água do mar já está quente;
• O dia da Assunção de Nossa Senhora (15 de Agosto) é aquele feriado fantástico que há em Agosto que nos permite colocar sempre um dia extra nas férias de verão, se nos fixarmos na quantidade de dias úteis atribuídos às ditas férias;
• O dia da Implantação da República (5 de Outubro) é aquele feriado por alturas do Outono que nos permite ir à terra tratar das vindimas e das colheitas, ou então apenas para caçar;
• O dia da Restauração da Independência (1 de Dezembro) é aquele dia de descanso em que já tendo recebido o subsídio de Natal, podemos ir fazer compras, tendo sempre a possibilidade de optar por faze-las em Espanha dado que por ali não se descansa nesse dia.

Cortar estes ou outros quatro feriados seria praticamente indiferente para a generalidade das pessoas.
Para além disso, se nos fixarmos na história dos feriados em Portugal, verificamos que a quantidade e a natureza destes dias festivos são claramente influenciadas pelo regime político que se encontra no poder. Por exemplo, a República acabou com os feriados religiosos, o Estado Novo restaurou-os e acrescentou o dia 28 de Maio, o 25 de Abril matou o 28 de Maio e instituiu-se como feriado.
Neste contexto, permitam-me que apresente aqui a minha proposta de revisão dos feriados, proposta assente num critério major que é o respeito pela tradição Portuguesa que atravessa e atravessará regimes e momentos históricos:

• 1 de Janeiro / Dia da Fraternidade Universal;
• Terça-feira de Carnaval / Carnaval;
• Sexta-feira Santa / Páscoa;
• Domingo de Páscoa / Páscoa;
• 1 de Maio / Dia do Trabalhador;
• 10 de Junho / Dia de Portugal, Camões, das Comunidades e da Língua Portuguesa;
• 1 de Novembro / Dia da Memória e dos Heróis da Pátria;
• 25 de Dezembro / Natal.

Deixaria ainda um feriado de cariz municipal, fazendo com que de um total de 14 feriados passássemos a ter apenas 9, estando eu também a contribuir para irmos mais além do estipulado pela plataforma de entendimento com a “troika”.

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