Restaurar a independência

No passado dia 1 de Dezembro comemorou-se o 371º aniversário da restauração da independência de Portugal.
Após 60 anos sob o domínio da coroa Espanhola, um grupo de bravos Portugueses correu com nuestros vizinhos para o seu lugar para lá da fronteira, e fez rei o Duque de Bragança, o Calipolense meu conterrâneo D. João, o IV na lista dos Soberanos de Portugal.
O dia 1 de Dezembro não significou o fim do processo de restauração da independência, foi antes o inicio de uma longa guerra que demorou 28 anos.
Passados quase quatro séculos, é triste mas inevitável pensar que Portugal persiste mas a independência, nem pensar.
Não há “Filipes”, Duquesas de Mântua ou “Miguéis de Vasconcelos”, mas sobram “Mercados”, “Troikas” e sobretudo, um brutal endividamento.
Na nossa economia doméstica como na economia de um país, se não dispomos de meios e dependemos de terceiros, até podemos dizer que existimos mas nunca poderemos sustentar que somos independentes.
Sem pretensões a economista, político ou guru de Wall Street, a mim, um modesto farmacêutico da terra do Rei Restaurador, parece-me que as batalhas a vencer para sair em triunfo desta guerra pela nossa independência, passam apenas e só por uma estratégia: aumentar a produtividade.
Operacionalizar esta estratégia também é simples e passa inevitavelmente pelo trabalho, pela motivação e pelo reconhecimento de quem mais trabalha, mais produz e mais cria riqueza para si e para o país.
Ao Estado compete ser juiz nesta avaliação e para tal e para que possa dispor de legitimidade, exige-se o exemplo no muito produzir e no pouco ou nada desperdiçar.
Até aqui tudo tem sido feito ao contrário pois não se premeia o trabalho, é-se tolerante para com a preguiça e permeável ao desperdício.
Qual é o estimulo e o reconhecimento dado a quem trabalhou durante décadas, nunca aderiu às baixas fraudulentas e sempre pagou os seus impostos?
Quantas pessoas “sobrevivem” à conta de subsídios dados pelo Estado sob a forma de Rendimentos de Inserção ou Cursos de Formação quando dispunham de condições pessoais e profissionais para exercerem uma actividade profissional que sistematicamente rejeitam optando pela comodidade do nada fazer?
Continuem a permitir que estas questões sejam classificadas de demagógicas e depois não se queixem da morte do “Estado Social” e da morte do próprio Estado.
Há pouco ao ler os meus jornais de domingo, cruzei-me com a entrevista feita a um dos pescadores das Caxinas que na sexta-feira foram resgatados após dois dias à deriva no mar. Quando o jornalista o questionou sobre o futuro, respondeu:
- Vou voltar ao mar. Tenho a minha família e necessito trabalhar.
É uma resposta normal de uma pessoa honesta e trabalhadora que se cruzou com a desventura algures no exercício da sua profissão mas que de forma responsável sabe que tem de continuar a trabalhar para assegurar a sua independência e da sua família.
Mas não deixa de ser interessante ver como o jornalista lhe dá destaque e rótulo de heroicidade pois talvez sem termos a noção disso, já quase todos interiorizámos que no país dos subsídios, este acontecimento seria razão mais do que suficiente para justificar um distúrbio de ordem psíquica, a incapacidade para trabalhar, assegurando uma “reformazinha jeitosa” que permitisse passar o resto dos longos dias a fumar cigarros na marginal de Caxinas ou sentado num café a jogar ao dominó.
Voltando à questão da nossa independência, tenho a certeza de que será pelo trabalho que lá chegaremos, e já agora com esperança, pois apesar de cada vez mais raros, ainda há, e bem vivos, Heróis do Mar.

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