Banhos de luz
Conheço o Manuel há mais tempo do que me conheço a mim próprio. Segundo a minha e a mãe dele, e não poderá haver fontes mais seguras, éramos bebes e já nos encontrávamos no dispensário da Santa Casa da Misericórdia, a fazer os chamados “banhos de luz”. Estes, parece-me, mais não eram do que radiações postiças e substitutos de banhos de mar e sol, que o Estado Novo se encarregava de nos facultar, a nós, meninos do interior com pais sem tempo e sobretudo dinheiro para nos fazer aproximar da beira mar em época estival. E quando começo a lembrar-me de mim, não vejo uma nesga de vida em que o Manuel não apareça. Andámos juntos no infantário na sala da Irmã Celeste, fizemos a primária em paralelo, o ciclo preparatório e o liceu. Crescemos a brincar juntos, a falar e a partilhar tudo, o riso, o choro, e nas cumplicidades das nossas vidas, amadurecemos ao mesmo tempo que entre nós nascia e crescia a maior amizade do mundo, a amizade que está para além de tudo e que é resistente e à prova de tu