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A mostrar mensagens de dezembro, 2013

2013

Os últimos dias do ano são propícios a balanços, e aqui pelo Pomar das Laranjeiras é tempo de cumprir uma tradição avaliando as “laranjas” da colheita de 2013, classificando-as pelos seus justos atributos: LARANJA DOCE – A Constituição da República Portuguesa Um país está sempre acima de quem o lidera numa determinada altura ou circunstância e a essência, o código genético da nação, está inscrita na lei magna: a Constituição. O assalto “pornográfico” feito ao país com o patrocínio da Troika e que fere demasiadas vezes a nossa autonomia tem em algumas situações esbarrado no juízo do Tribunal Constitucional, instituição que deve assegurar o respeito pela lei magna e que no presente tem cumprido a mesma função que antes tinham as muralhas quando os Filipes chegaram de Castela para nos “ferir” a liberdade. Valha-nos a Constituição. E os políticos que “cospem” na Constituição em miseráveis declarações comprovam não ter nível para estar à frente das instituições do Estado. L

À mesa com a minha geração

O hotel Solar dos Mascarenhas abriu ontem o restaurante exclusivamente para nós, estendendo-nos uma mesa onde muito comodamente nos sentámos os dezanove. Depois dos inevitáveis beijos e abraços iniciais, a conversa fluiu solta por muitos temas: - “Quantos anos te faltam…” ou “Há quantos anos fizeste os cinquenta anos?”. Não há dúvidas, entre uns e outros e numa boa média, estava ali à mesa a face humana de meio século de história de Vila Viçosa. E quanto charme… - “Vamos ver quem consegue rir mais”. E é sempre difícil eleger o vencedor. Conhecemos demasiado bem os pontos fracos uns dos outros e temos décadas de histórias e cumplicidades tantas vezes no território das asneiras. E então quando puxámos pelas fotos da juventude… - “O rosário das memórias”. São tantas e tão boas que nunca nos esquecemos de as revisitar. E aqueles teatros que nós fazíamos na catequese por alturas do Natal? - “Os nossos filhos”. Eu não os tenho, mas contas por alto e daquela mesa já nasceram dezoit

E ainda Natal…

Conheço de cor todos os caminhos, os recantos, as curvas da estrada, as pedras que aqui e ali convidam a repousar um pouco e a acariciar a terra entregando-lhe directamente as mãos. A intimidade e a sensualidade da pele e da terra ou o privilégio de um amor único para quem como eu é assim do campo. As paredes das velhas casas caiadas de branco preservam todas as memórias e reflectem os rostos de tantos, e sobretudo dos mestres dos meus afectos, fazendo ressoar o riso, as palavras, e até o eco dos beijos, das carícias e dos abraços. E tantas vezes se torna inevitável a saudade. Cada esquina encerra uma história boa ou má, mas todas boas e indutoras de vida assim à distância de décadas. É impossível conter os sorrisos quando o pensamento se entrega sem pudor a todas as lembranças e quando às vezes sem destino, deixo que os meus passos me levem embalado pela mais doce liberdade. Que aqui, minha alva terra beijada pelo sol, apenas importa serem estas pedras o meu caminho, ser este

Foi Natal…

E pronto… foi Natal. Se é que para tal existem dias específicos. O certo é que a pretexto de celebrar o nascimento de Cristo, nos reunimos em família à volta da mesa aquecida pela braseira para aí comermos o bacalhau com couves, o peru assado, a carne do alguidar temperada com pimentão vermelho, as filhós, as azevias, os nógados, o chocolate quente (infelizmente tivemos de inventar pois já não encontrámos a habitual mistura da Pérola Calipolense) e um bom tinto da nossa vizinha Adega de Borba; conversámos muito e voltámos a lembrar as histórias de outros Natais com a minha mãe a recordar aquele de há muitos anos em que recebeu uma boneca de cartão demasiado estática porque tinha as pernas coladas, e de como ficou triste com o facto; abrimos os presentes junto ao presépio mas só depois de o meu sobrinho João me ter perguntado se nas minhas conversas muito próximas com o Pai Natal eu tinha conseguido saber se todos os desejos da sua carta tinham sido satisfeitos, e que alegria quand

Um conto de Natal

Era uma vez um homem que não sabia o que era o Natal. A sorte não tinha sido definitivamente sua mãe, e madrasta, há muito o deixara sozinho num monte de onde avistava a planície e a vila mas onde nunca ninguém chegava para conversar com ele. Triste, habituara-se a viver assim no convívio com os seus próprios pensamentos, muito mais do que com as palavras, nada fazendo para mudar esta situação E mais triste se sentia por alturas de Dezembro quando as luzes da vila duplicavam o seu brilho na noite. Afinal, ele não sabia o que era o Natal. Enquanto dormia a sono solto numa noite de quase Natal, apareceu-lhe em sonhos um anjo que lhe disse: - Vou ensinar-te o que é o Natal mas para isso tens de cumprir três missões. Aceitas? E o homem triste conseguiu sorrir quando sem qualquer receio disse logo que sim. Disse-lhe então o anjo: - A primeira missão é muito simples. Amanhã é véspera de Natal e quando fores à vila para comprar o pão e os restantes alimentos, vais ter de faze

O Dia dos Maridos ou o Dia do Regresso a Casa

Há uma última compra a fazer no Oeiras Parque. Simpática, a funcionária ajuda-me nessa sempre difícil escolha dos modelos e dos tamanhos de roupa. A loja está demasiado calma em oposição ao caos instalado no hipermercado e eu comento isso com a funcionária. Responde-me ela: - Claro, hoje e amanhã, véspera de Natal, são os “Dias dos Maridos”. E explica: - Todas as restantes compras estão feitas e só os maridos têm pendente o presente para as respectivas mulheres. Nunca sabem o que lhes oferecer mas também não podem deixar a árvore sem um embrulho com o nome delas. Meu Deus, ao que chegou o romantismo neste país. Não estranho pois os lamentos do George Michael que escuto no carro quando no seu “Last Christmas” lamenta os desamores do último Natal e diz que este ano e para evitar as lágrimas vai dar o amor a alguém muito especial. Condiz. E de infinitas lágrimas de chuva e nevoeiro está cheia Lisboa quando passo a ponte em direcção a Almada, parecendo inacreditável que

A mulher que perfuma o Natal com incenso e a poetisa que vende versos avulso

A manhã de um intenso sol convida-me de forma irresistível a ir até ao Chiado para as derradeiras compras de Natal. Deixo o carro no Camões, bebo um café na Brasileira e chego aos Mártires a tempo da missa com horário mais estranho da cidade, treze horas e vinte minutos. “Vai nascer um Salvador”. Fala-se explicitamente de Natal e pelo Natal me deixo embalar até Centro Comercial do Chiado. Uma última incursão na FNAC seguida de uma entrada Natura onde selecciono os artigos que quero comprar e me dirijo à caixa. Reparo que imediatamente atrás de mim na fila para pagamento está uma senhora cuja idade por certo já ultrapassou ou setenta anos, e chegada a minha vez, e porque na mão tem apenas dois pequenos objectos, sugiro-lhe que me ultrapasse pois vou supostamente demorar mais tempo com os pagamentos e os embrulhos. A senhora agradece, sorri e deixa-se ficar no mesmo sítio respondendo-me: - Excesso de tempo é o meu problema. É a minha vez de lhe sorrir e enquanto a funcioná

O dia mais curto?

Sinto o sol nascer por detrás do monte, mas é sábado, e é apenas quando ele já brilha com uma intensidade tal que me tolhe a visão, que abro as portadas e me apronto para viver aquele que o calendário diz ser o dia mais curto do ano. Estou na Sertã e deixo-me ir subindo as serras, entre amigos e entre pinhos, alimentando o olhar desses montes que a fé dos Homens coroou de ermidas ao redor das quais os coretos denunciam festas em Agosto ou Setembro: Senhora da Confiança, Senhora do Pranto… E com o benefício da internet lá vou conseguindo saber as lendas por detrás das ermidas e das evocações dadas a Maria. Lembro-me de um restaurante em Cardigos onde o Padre Armando uma vez nos levou a jantar, precisamente a última vez que estivemos juntos, e vou até lá desta vez para almoçar. Fico ao lado da mesa redonda onde então nos sentámos junto a uma enorme janela, que na altura, sendo noite, não reparei que tinha vista para um olival. A mesa está vazia e por entre as saudades desse dia,

A brincar fazendo o Natal

A cidade não perdeu o charme de Natal mas já não apresenta as longas filas de trânsito que eram tão típicas desta semana sempre que procurávamos o centro para fazer as compras. A crise mudou definitivamente a face de Lisboa. Passo pela Calouste Gulbenkian, pela Praça de Espanha e só mesmo na António Augusto de Aguiar e já a quinhentos metros do El Corte Ingles , paro para enfrentar depois uns breves cinco minutos de pára e arranca até ao infinito caracol (ao estilo do intestino de um dinossauro) que me dá acesso ao estacionamento. Imprimi e tenho no bolso a carta escrita pelos meninos ao Pai Natal e, cumprindo as minhas funções de tio extremoso, começo as compras pelo piso dos brinquedos tentando encontrar os itens seleccionados a partir do catálogo. Sem “GPS” e só por mim não consigo encontrar um brinquedo sequer naquele imenso mar de caixas coloridas. Peço ajuda a uma assistente que deve ter vindo da Lapónia e deve ter estagiado durante alguns anos com o Pai Natal pois ent

Um encontro com a dor

Quando os meus olhos se fixaram na mãe que chorava a morte do filho, eu senti que tocava na própria dor. E mais do que nas lágrimas e nos lamentos soluçados já com tão débeis forças, a dor estava expressa no vazio do seu próprio olhar. Na dor maior do universo, a dor de Maria no Calvário de Jerusalém, Senhora das próprias Dores e Senhora da Piedade, uma mãe que perde um filho, perde tudo e até perde o próprio olhar. Sentimos momentaneamente a fragilidade de Homens no porquê que faz abanar a fé… Mas sabemos que o maior e melhor da vida não tem estatuto de palpável: o amor é divino. E pelo amor e pela fé sentimos que o Céu existe e Deus recruta os seus anjos, às vezes até num estranho (e para nós revoltante) abraço do mar, dado algures numa noite escura de quase inverno. Sentimos o conforto da fé mas não deixamos de ser Homens e isso nota-se nas lágrimas que se soltaram e nós nem sequer tentamos controlar. O Tiago, filho do meu amigo e colega Vítor, é desde sábado e na com

O interminável desfile de um perpétuo Carnaval

O PSD concluiu que o governo PS de José Sócrates foi o responsável por uma gestão ruinosa do país numa perspectiva geral e muito em particular nos contratos SWAP. O PS responde que não e que essa má gestão é da responsabilidade do PSD. E assim, quais “Pombinhas da Catrina” de mão em mão, as culpas vão sobrevivendo com o alto patrocínio dos nossos ordenados e pensões, até ao momento em que sucumbirão pelo tempo ao ritmo das prescrições de uma sempre adiada justiça… e acabarão por morrer solteiras. Somos nós que pagamos os adornos, as carroças, a banda de música, as atracções internacionais, os foguetes, as luzes… e o país é hoje um longo desfile de carnaval em que a mentira é aceite com toda a legitimidade como centro da festa, e os protagonistas são criaturas travestidas em que o melhor e o que recebe a coroa de Rei Mono é sempre aquele que maior eficácia consegue no disfarce. Das bancadas onde pelo preço elevado do bilhete patrocinamos o show há quem inexplicavelmente ainda

As insuportáveis guerras do Soutien e das Truces

No sábado quando estava à mesa do jantar com duas amigas, uma delas conta uma façanha ao jeito de “MacGyver abre fechaduras do coração” e a outra desabafa: - Isso é porque és mulher. Um homem não conseguia. E por aí já iam tão lançadas que a determinada altura foi preciso interrompê-las e dizer: - Meninas, eu não sabia que tinha vindo assistir a uma palestra do “Clube do Soutien”. E lá se calaram. Menos de 48 horas depois estou no Hospital de Santa Maria numa interminável fila para tirar uma senha para o café e não consigo evitar ouvir a conversa de duas senhoras atrás de mim: - Ai filha lá me escapei agora 5 minutos da enfermaria… Aquele homem está insuportável. - Oh filha são todos assim. Então quando estão doentes… - É verdade. O que seria dos homens se não fossemos nós? - Eu uma vez até disse à minha sogra: “morra descansada que eu tratarei bem da peste que você criou”. Confesso que me fiquei por um olhar daqueles mortíferos que calam até os papagaios mais selv

Uma noite e quase Natal

O rádio do carro embala-me num prenúncio de Lisboa projectando em contínuo a voz de Amália. “Não é desgraça ser pobre…” E pobre não é por certo quem assim num fim de tarde de Dezembro tem o privilégio de “mergulhar” na cidade já envolta nas coloridas luzes semeadas pelo Natal. Vai lento o carro até ao Camões atrasando-me esse decisivo encontro com o poeta mas oferecendo-me a possibilidade de desfrutar de cada detalhe do caminho, e como brilha ao longe o Castelo quando se espreita assim de São Pedro de Alcântara. Chego finalmente. E desço o Chiado… Quando eu partir e os despojos do meu corpo cumprirem a minha suprema gratidão pelo campo alimentando as raízes de um sobreiro que tenha vista para Vila Viçosa, de poucas coisas sei que sentirei saudades, mas a descida do Chiado assim num fim de tarde de Natal, não tenho dúvidas, far-me-á muita falta. Caminho por entre a gente, e num claro benefício dos anos que vão esticando a idade, raras vezes desço agora a Rua Garrett sem q

Esse inquestionável valor que têm até as mais simples palavras

Há em Londres um nevoeiro mais cerrado do que o habitual e as regras de segurança e a prudência exigem que permaneçamos por mais três horas na Sala de Embarque do Aeroporto de Lisboa aguardando a devida autorização para voar. Durante a espera, por ali fala-se Português mas com sotaque do Brasil, apercebendo-me que grande parte dos meus companheiros de viagem chegou das Terras de Vera Cruz e começou em Lisboa um longo percurso de férias pela Europa. Mas ao meu lado está uma senhora Inglesa que por certo terá uma idade já algures na década dos setenta anos, a Julie, com quem acabo por encetar diálogo a partir da partilha de informações e da tradução daquilo que os funcionários da companhia aérea nos vão passando. Diz-me que juntamente com o marido, tem uma casa na zona a que chama de “Silver Coast”, ali para os lados da Foz do Arelho, e que se divide entre Portugal e o Reino Unido. Aos poucos vai dando a sua interessante perspectiva de quem vê o país por dentro mas não deixando de

Reajustes à moda do Natal

Quando nós queremos muito até o que há de mais negativo pode ganhar um sentido positivo e útil à nossa existência. É a doce perspectiva do optimista que não é forçosamente um louco e irresponsável por assumir esta atitude. E o contrário também se verifica, com o maior prazer a poder virar um grande problema na antecâmara da mais profunda depressão. Assim, eu cidadão optimista me confesso, já não tenho a mínima paciência para as pessoas que se referem ao Natal como sendo o maior problema do século: ele é porque têm de comprar presentes e as lojas estão cheias de gente e está tudo demasiado caro, porque há intermináveis filas na compra do bolo-rei, das broas castelares e das filhós nas pastelarias da moda, é a logística desse improvável “casamento” de pais com sogros, são os litígios familiares que se foram acumulando ao longo do ano e que poderão ser explosivos quando todos se sentarem para a consoada, é a indecisão sobre a missa a que vão por causa das comidas e das bebidas, é a

Estas poderosas vozes dos simples

A procissão com a imagem de Nossa Senhora da Conceição iria passar daí a pouco na celebração do dia 8 de Dezembro. Já tínhamos pendurado a nossa melhor colcha na janela de ferro forjado e sentíamos a azáfama das pessoas que se dispunham de um lado e outro da estrada. De repente e quando já não circulavam carros, pára uma carrinha de transporte de peixe e dois homens saltam dela munidos de flores para num tempo recorde desenharem e construírem um tapete sobre a estrada. Um deles vai tirando as flores da carrinha e o outro vai dispondo cada uma delas como traço da sua obra de arte. Alguém ousa fazer a pergunta que a todos acudia: - O que é que o senhor está a preparar? E porquê? A resposta do homem não se fez esperar mesmo sem interromper por segundos que fosse, o seu trabalho: - Louvo a Deus e agradeço-Lhe pelas maravilhas que tem oferecido à minha vida. E depois de terem desenhado um crucifixo, os homens montaram-se na carrinha e desapareceram. A procissão começou a pa

A esperança dos dias de Mandela

Se um dia a vida me fizer tio-avô e me oferecer a possibilidade de partilhar as histórias da minha vida em algum serão mais frio passado à lareira, guardo já religiosamente no cofre mais seguro da memória, algumas “relíquias” que valorizam a minha história e muito me enchem de orgulho. Assisti ao 25 de Abril de 1974 e tive o privilégio de crescer e fazer a minha formação num contexto de liberdade e com um regime democrático implantado em Portugal, vi o Beato João Paulo II passar à minha porta em Vila Viçosa e juro que cruzei o meu com o seu olhar na esquina dos cantoneiros na Avenida dos Duques de Bragança, acompanhei pela televisão a queda do muro de Berlim com a consequente destruição da cortina de ferro que dividia a Europa vergonhosamente em duas, vi o top da dignidade em Madre Teresa de Calcutá quando chegou a Oslo para receber o Prémio Nobel da Paz com os seus parcos haveres colocados numa caixa de cartão, fiz uma viagem de Vila Viçosa para Proença-a-Nova na companhia de D. Ba

A Dieta Mediterrânica

Um pequeno-almoço composto por uma torrada de pão de trigo temperada com azeite, alho e tomate triturado, degustado na companhia de um excelente queijo fresco e na bênção de uma vista para o Tejo a usufruir da luz clara de Lisboa que sempre salienta os tons entre o ocre e o rosa do casario disposto em cascata pelas colinas, tendo na aparelhagem um CD que nos enche a casa com a voz inconfundível de Amália Rodrigues em rima com a Guitarra Portuguesa que geme os acordes de um fado que tem poema de Alexandre O´Neill e música de Alain Oulman; é um momento inconfundível, um património que entre o material e o imaterial é definitivamente rico e dos maiores da humanidade, para além de que faz muito bem ao coração, também, e mais uma vez, nessa dupla perspectiva do material e do… imaterial, que não há paixão ou grande amor que não se afague na presença de semelhante enquadramento. Nós há muito que o sabemos, e a UNESCO acabou agora por reconhecê-lo em dois tempos diferentes, depois do fado,