E ainda Natal…

Conheço de cor todos os caminhos, os recantos, as curvas da estrada, as pedras que aqui e ali convidam a repousar um pouco e a acariciar a terra entregando-lhe directamente as mãos. A intimidade e a sensualidade da pele e da terra ou o privilégio de um amor único para quem como eu é assim do campo.
As paredes das velhas casas caiadas de branco preservam todas as memórias e reflectem os rostos de tantos, e sobretudo dos mestres dos meus afectos, fazendo ressoar o riso, as palavras, e até o eco dos beijos, das carícias e dos abraços.
E tantas vezes se torna inevitável a saudade.
Cada esquina encerra uma história boa ou má, mas todas boas e indutoras de vida assim à distância de décadas. É impossível conter os sorrisos quando o pensamento se entrega sem pudor a todas as lembranças e quando às vezes sem destino, deixo que os meus passos me levem embalado pela mais doce liberdade.
Que aqui, minha alva terra beijada pelo sol, apenas importa serem estas pedras o meu caminho, ser este o ar que eu respiro, e muito pouco ou quase nada importa para onde eu vou.
As árvores, em especial essas doces mães das laranjas, são nossas irmãs e velhas cúmplices de todas as palavras, oferecendo a sua copa como um eterno abrigo, guardiãs fiéis de tantas conversas temperadas ao ritmo da vida, com o riso ou com as lágrimas… que muitas vezes também são elas próprias de alegria, ou não fossem as lágrimas a mais fiel expressão da mais profunda alma da gente.
Os amigos nunca morrem…
São eternos, crescem e envelhecem connosco ao sabor dos momentos que vamos partilhando no gozo dos benefícios que sabemos colher dos dias na festa despudorada de estar olhos nos olhos.
Os amigos, hoje ao redor de uma bica como antes à volta de uma qualquer brincadeira simples ensinada pelos nossos avós.
Estes são os dias tranquilos que nos fazem sentir senhores e donos do tempo, aqui onde nada mais corre para lá das fontes, onde os sinos repicam a fé a cada quarto das horas, no encontro das memórias que são raízes profundas do melhor de nós, no presente de tudo e de todos os amores… e no futuro que nos fará sempre saber e querer voltar.
Vila Viçosa.
E ainda Natal…

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