Reajustes à moda do Natal

Quando nós queremos muito até o que há de mais negativo pode ganhar um sentido positivo e útil à nossa existência.
É a doce perspectiva do optimista que não é forçosamente um louco e irresponsável por assumir esta atitude.
E o contrário também se verifica, com o maior prazer a poder virar um grande problema na antecâmara da mais profunda depressão.
Assim, eu cidadão optimista me confesso, já não tenho a mínima paciência para as pessoas que se referem ao Natal como sendo o maior problema do século: ele é porque têm de comprar presentes e as lojas estão cheias de gente e está tudo demasiado caro, porque há intermináveis filas na compra do bolo-rei, das broas castelares e das filhós nas pastelarias da moda, é a logística desse improvável “casamento” de pais com sogros, são os litígios familiares que se foram acumulando ao longo do ano e que poderão ser explosivos quando todos se sentarem para a consoada, é a indecisão sobre a missa a que vão por causa das comidas e das bebidas, é a hora a que os cabeleireiros fecham na véspera de Natal, são os lutos sobrepostos às árvores de Natal e aos presépios, é a batata palha para acompanhar o peru, é o preço do bacalhau e do polvo que estão pela hora da morte, é o homem das couves que este ano já disse que a geada lhe comeu as folhas, são os dias de férias e essa incerteza de ir ou ficar…
Por favor, relaxem, façam o que vos der na real gana e o que o corpo e a alma vos pedirem, e vão ver se o Natal não vira uma época especial.
E já agora… reajustem o Natal.
Explico.
A minha mãe resolveu preparar o macro presépio de Vila Viçosa antes do dia de Nossa Senhora da Conceição, como sempre no canto mais nobre da sala e por debaixo do pinheiro artificial devidamente enfeitado de fitas coloridas e luzes.
Do alto dos seus super puros 6 anos, o meu sobrinho Luís adorou o presépio e a melhor forma de o demonstrar foi a interacção que estabeleceu com o mesmo.
Retirou a casinha de madeira e modernizou-a fazendo com que o burro e a vaca passassem a partilhar o espaço com o Faísca McQueen, utilizou a ponte de barro como elemento para completar a sua pista da Hot Wheels, trouxe o lago artificial de papel, com a respectiva lavadeira, para o centro da casa como elemento que humanizou a dita pista, colocou o Menino Jesus em interacção com o i-Pad que aqui o tio sempre lhe empresta, e remexeu todas as figuras fazendo-as interagir umas com as outras, de tal forma que até um dos magos parecia estar à conversa com o pastor.
Mas antes de tudo, o primeiro comentário que fez foi de que faltava a estrela do cimo da árvore, e lá lhe tivemos de explicar que a avó é baixinha e que está “proibida” de se andar a empoleirar em escadotes para não se pôr demasiado à mercê da osteoporose.
E fomos nós colocar a dita estrela.
Ah grande Luís.
É assim mesmo.
Experimentem vocês a colocar a estrela no vosso Natal, “enfiem-se” pelo presépio dentro e puxem o Menino Jesus cá para fora para o centro das vossas vidas.
Vão ver se tudo o resto não ganha o definitivo estatuto de ridículo e desprezível, e o Natal volta a ser aquilo que é e que deve continuar a ser: um tempo para sermos felizes.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM