O Dia dos Maridos ou o Dia do Regresso a Casa

Há uma última compra a fazer no Oeiras Parque. Simpática, a funcionária ajuda-me nessa sempre difícil escolha dos modelos e dos tamanhos de roupa.
A loja está demasiado calma em oposição ao caos instalado no hipermercado e eu comento isso com a funcionária.
Responde-me ela:
- Claro, hoje e amanhã, véspera de Natal, são os “Dias dos Maridos”.
E explica:
- Todas as restantes compras estão feitas e só os maridos têm pendente o presente para as respectivas mulheres. Nunca sabem o que lhes oferecer mas também não podem deixar a árvore sem um embrulho com o nome delas.
Meu Deus, ao que chegou o romantismo neste país.
Não estranho pois os lamentos do George Michael que escuto no carro quando no seu “Last Christmas” lamenta os desamores do último Natal e diz que este ano e para evitar as lágrimas vai dar o amor a alguém muito especial.
Condiz.
E de infinitas lágrimas de chuva e nevoeiro está cheia Lisboa quando passo a ponte em direcção a Almada, parecendo inacreditável que poucos quilómetros à frente, o sol brilhe quando passo pela Marateca e entro no Alentejo.
No Alentejo, nunca nos falha o sol.
Após atravessar infinitas pedreiras de mármore, em breve chego a casa nesse instante em que os muros caiados de branco por onde espreitam oliveiras centenárias me conduzem até à curva da Porta da Vila por onde vislumbro o Castelo e onde a Igreja da Senhora da Conceição sempre me “impõe” o sinal da cruz e uma Ave-Maria.
O momento alto vem a seguir nesse beijo e nesse abraço à mãe e ao pai que me esperam ao redor de uma fumegante e inesquecível Sopa de Tomate com todos os aromas do Alentejo, servida na mesa onde a braseira dá um fantástico toque de aconchego.
É Natal.
Está montado o presépio e na imediação já há filhós enroladas, azevias de grão e de chila, os rolos da massa dos nógados que estão fritos e aguardam o mel…
Dia dos maridos?
Talvez, mas nunca serão as compras a definir o Natal e o amor inerente à época do ano que mais gosto me dá viver.
Para mim, o melhor Natal e o melhor do Natal será sempre este regresso a casa.
E que muito tarde me falhem estes beijos.

Comentários

  1. Também eu estou de regresso às origens, nesta quadra natalícia.
    Um Bom Natal em família para ti e todos os teus.

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