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A mostrar mensagens de 2015

Jamais importará qualquer numérico detalhe com que baptizarmos o tempo…

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O calendário assinala hoje a mudança de um ano velho para outro que chega com rótulo de novo, sendo tudo tão só e afinal, o fim de um dia e a chegada de outro dia. Jamais importará qualquer numérico detalhe com que baptizarmos o tempo no lógico e irreversível cumprimento da sua passagem, importa isso sim que os dias tenham o nosso nome inscrito nos benefícios nascidos do usufruto da mais doce liberdade.        O meu… o nosso tempo. Perdi-me na contagem dos dias no exacto momento em que chegaste. Sinto apenas as estações a passarem por nós, palpando-as no frio ou no calor, nos aromas… em tudo o que se vai incorporando na aragem do Tejo, o rio que nos oferece as margens para sonhar. Sei que entrançámos as nossas histórias na primavera lilás dos jacarandás, sonhámos e tecemos os dias à luz de um pôr-do-sol de verão, partilhámos vontades por entre as castanhas compradas numa banca que o Outono trouxe ao Rossio, ensaiámos passos e abraços à chuva dos entardeceres de inverno,

2015

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Refugiados, Costa, Esquerda, Direita, Islâmico, Jesus, Paris, Terrorismo, Chocalhos, Corrupção, Sócrates, BANIF… No primeiro de Janeiro do ano que agora finda propus-me escrever um diário, não deixando passar um dia sem um texto partilhado no Pomar das Laranjeiras. Missão cumprida. E de cada mês destaco alguns títulos que resumem o ano que por aqui vivi no privilégio da vossa companhia. Janeiro “Je suis Charlie”. “O aroma das rosas persiste entre os dedos muito para lá dos instantes em que as pétalas voam”. “O amor é um eterno abraço sem pausas para a solidão”. “O sofá de um Homem enamorado é um parapeito de vistas infinitas e ilimitados horizontes”. Fevereiro “Liberdade, frutos, flores, asas, amor… um rio azul e nós que gostamos tanto de nos ver assim”. “A laje de onde varremos as cinzas é a mesma que servirá de chão ao lume que nos aquece”. “Começou a terceira guerra mundial ou a segunda ainda não acabou?”.     Março “O meu país entre o pântan

As palavras que dizemos um ao outro são detalhes indistintos entre nós e o céu...

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As palavras que dizemos um ao outro são detalhes indistintos entre nós e o céu, o racional sobre o silêncio moribundo das hipérboles, palavras que são alpendre e abrigo onde nos sentamos nas tardes solarengas de Natal. O aroma de sempre do campo, mas o olhar à mercê da alma que o faz doce, o tempo que se esvai sem misericórdia tornando tão breves os quartos cantados pelo campanário, as lembranças que se vestem do tom vivo de festa das laranjas maduras, e o canto feliz da gente de vidas cruzadas em braços dados à melhor sorte. O tempo foge e contraria-nos nesta festa imensa de querer ficar assim. O aroma de sempre do campo, o mesmo chão... Mas o que importa o chão se nós somos do sonho e do céu. Os dois vestindo palavras doces.

Cavaleiros sem nome ao redor de uma mesa sem forma

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Paredes meias com as incansáveis fontes, há rosas nos canteiros que espalham no ar a paixão dos sonetos de Florbela, recitados ao ritmo dos nossos incansáveis passos, pais do eco que tinge de rebeldia o alvo tom de cal das ruas traçadas a régua e laranjeiras. As muralhas são varandas que rasgam fronteiras e horizontes, o poiso sublime de onde os olhares saciam a alma de impossível, bebendo dela as palavras e o traço, a arte dos poetas. Há lendas e heróis tatuados no imaculado mármore cinza do Paço, memórias de Portugal reinventando-se pela bravura, erguendo-se pela fé de um rei que à mãe de Deus deu trono e fez rainha. E há este chão com instinto de trigo e liberdade que foi terreiro e privilégio onde brincámos, o barro rasgado pelo toque certeiro do pião. O chão onde crescemos juntos entre a poesia e a fé que nunca se resignam aos horizontes, atirando-nos os olhares para longe, para aquilo que só o sonho alcança. Cavaleiros sem nome ao redor de uma mesa sem qualquer out

Temos a história guardada em memórias de vinil e em cassetes gravadas...

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Temos a história guardada em memórias de vinil e em cassetes gravadas que arrumámos no fundo das gavetas, memórias disponíveis para uma visita nestes dias curtos de sol do Natal que o sossego e o descanso estendem decisivamente. O Eurofestival de 1981 realizado em Dublin com a participação do Carlos Paião, como qualquer outro detalhe de um tempo a que legitimamente chamamos nosso, tão intensamente o vivemos, sem qualquer ruído de “ disco sound ” que nos distraísse do afecto que importa e que nos molda. É a este tempo que voltamos sempre, com as lembranças vestidas de palavras e gargalhadas a empurrarem a hora das migas e a porem a mãe a desesperar com o pão já partido para que eu as possa comer quentes. Em Vila Viçosa, no Café Restauração, o sítio onde a conversa acontece à volta da mesa da esplanada numa roda onde cabe sempre mais uma cadeira, um nome e um detalhe da história. Um beijo ou um abraço como password e as memórias do vinil, soltam-se como raiz de uma verdadei

O Natal apaga-nos a idade, entre amigos eternos, e quando o almoço é o minuto zero de uma tarde passada a brincar…

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O chão por onde caminho agradece-me reconhecido as carícias imensas das tardes do berlinde, e oferece-me generoso, um rumo a que posso chamar meu, a liberdade. O inverno debruou a ouro tom de laranjas maduras, o verde que é tecto para os meus passos, a orla de horizonte onde um pássaro ousou desafiar o frio para se juntar mim na manhã doce de Natal. Depois… Um café acorda-me as palavras, os amigos fazem com que se soltem entre beijos, abraços e as muralhas do castelo e da fé; beijamos o Deus menino, assinalamos o meio-dia com gargalhadas, e nem sei porque falamos dos cinquenta anos que vamos comemorar no ano que vem… O Natal apaga-nos a idade, entre amigos eternos, e quando o almoço é o minuto zero de uma tarde passada a brincar. Tomando balanço no mesmo chão do meu berlinde, o meu sobrinho João põe um avião a acariciar o ar, muito para lá do tecto das laranjas, e como quem busca o céu. Escuta-se o chilrear do mesmo pássaro e este instante é tecido pela mesma liberdade

Esta é a noite em que a memória rasga as dores das ausências causadas pelo tempo...

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Os dióspiros e a sua essência de Outono persistem na árvore deserta desafiando o Inverno e este Natal ornado pela lua cheia. Vejo-os entre mim e o céu na tarde que calou o nevoeiro e tornou nítidos os contornos todos dos campanários e do horizonte… À volta da mesa somos três mais a velha receita do “cacau” inventado pela “Pérola Calipolense”, e que ainda continuamos a poder comprar pela Vila; mas o fumo intenso e com o aroma de sempre já não é prenúncio do regresso a casa envolto no xaile que a avó emprestava para que o frio não pudesse desmanchar-nos o rosado tom das faces que o lume aceso e intenso ajudara a criar pelo serão fora. E caminhávamos lentamente pela avenida e cruzávamos a praça no beneficio de quase dormidos, que os braços dos pais são berços eternos e seguros onde todos os impossíveis se esbatem. À volta da mesa… Esta é a noite em que a memória rasga as dores das ausências causadas pelo tempo e resgata pela memória, o riso e a alma daqueles que estenderam pa

Nós somos os presépios que caminham alegres sob a aragem fria das manhãs de Dezembro...

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Saiu cedo o poeta numa manhã fria de Dezembro, tomou a aragem e a neblina como abraço do céu que sobre ele se curvava, e a passo decidido foi deixando para trás as ruas debruadas de cal da vila, mergulhando feliz no campo que conhecia bem dos seus tempos de brincar. Com os pés entretidos no beijo apaixonado ao seu eterno chão, hoje ornado de infinitos cristais da geada; sem temer o frio entregou as mãos à face norte das oliveiras, tomando pedaços do seu manto verde de musgo que foi guardando num cesto que levava consigo. Parando infinitas vezes, perdeu-se nas horas e nas lembranças, e já desvanecia a neblina, rendida ao sol, quando decidiu regressar a casa, tomando da orla do caminho, um ramo quase seco de azinheira que o vento algures pelo Outono roubara ao tronco onde crescera. Na casa aquecida, mais pelo beijo da sua mãe do que pela aparência rubra da lareira, procurou o recanto mais nobre da sala, e com tudo aquilo que trouxera do campo inventou uma cama para Jesus. Er

Depois voaríamos juntos pelas manhãs de Natal que nos fazem poetas…

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Dois copos de tinto realçam o charme do fim de tarde de inverno, e ateiam de liberdade as palavras que se soltam furtivas de entre os beijos com que desenhamos a nossa história. De dentro deste nó onde se cumpre o desejo e a que chamam abraço, é muito difícil acreditar que lá fora Dezembro acontece, e a noite arrasta o frio para lhe fazer companhia. Mas eu embacio a janela quando te leio uma carta de amor; palavras, gotículas de um ar e vapor de beijos que se instalam entre nós e o inverno. Sim, estará frio. Mais um brinde, os teus olhos... Eu conheço este instante porque fomos nós e um querer imenso quem o inventou aos poucos, há muito tempo. O tempo por onde fomos deixando perdidos e órfãos, o silêncio e a dor. Eu desenharia um abraço dos nossos no espaço todo que me oferece a vida; depois voaríamos juntos pelas manhãs de Natal que nos fazem poetas. Ainda bem que hoje vieste ter comigo meu amor.

Ser tio é... ir ao "Toys R Us" ao fim da tarde do dia 21 de Dezembro

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Ser tio é... ir ao "Toys R Us" ao fim da tarde do dia 21 de Dezembro. Primeiro, o prazer de tomar um café e trocar presentes com o Álvaro, com aquele benefício acrescido de adiar o inevitável. Depois, rumar a Cascais. Filas na A5, estacionamento caótico a exigir a perseguição a peões que se dirigem lentamente para a sua viatura carregados de sacos, uma fotocópia na mão com o pedido expresso pelo João... Da porta da entrada avista-se a multidão e logo ali pela zona dos jogos, a voz dos fracos e a tentação soa na conversa entre duas amigas: - Porque é que não desistes e lhe dás dinheiro. Fracas. Penso enquanto me encaminho para o corredor da marca do objecto pretendido onde já está o Santiago a fazer uma birra e a soltar gritos e urros. A primeira constatação é a de que na hora da birra, os Santiagos de Cascais berram exactamente como os Brunos Vanderleis da Musgueira, com as mães Teixeiras da Cunha a serem tão impotentes na gestão do assunto quanto as suas c

Nunca ninguém dirá que o amor é velho... ou que é velha a liberdade...

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Eu sou da idade da espera que olha o mar desde esta janela, a minha preferida; tão velho na eternidade antes do teu beijo, tão breve e tão novo agora nos teus braços, heróis que tão bem sabem apagar o tempo e toda a mágoa. Eu sou da idade do tanto que me falta e quero viver contigo, por entre aquilo que se vê e o tanto que é só nosso em doce segredo. Nos teus braços sussurrando palavras como abrigo, rasgando o tempo, galgando as noites, o Outono, pulando para o Inverno... e sentindo sempre que aquilo que muito se deseja nunca envelhece. Nunca ninguém dirá que o amor é velho... ou que é velha a liberdade.

O tempo recorta instantes onde nós nos sentamos confortavelmente a conversar

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O tempo recorta instantes onde nós nos sentamos confortavelmente a conversar. E dizemos o tempo, pelo intenso sabor a destino, esquecendo-nos de que ornámos tantos dias com esta vontade. Sentamo-nos sempre na plateia; que o palco mesmo quando transparente e permite espreitar o céu, é sempre para os actores entregues às deixas que os outros teceram para os enredos de comédia, drama, de non-sense e tantas vezes até de uma infeliz tragédia. Na plateia somos nós, sem palmas mas por entre o doce aplauso da maior honestidade com a história, somos nós com as nossas palavras no enredo definido pelo uso e fruto da mais intensa liberdade, quando nos deixamos acontecer, por sermos tanto e quase tudo daquilo que queremos ser. Na plateia… Onde os beijos são sempre transparentes e com vista para nós, os dois sentados por entre um imenso céu.

Não adianta inventarem mais coisas acerca do Natal: ele é apenas Cristo que acontece

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Não adianta inventarem mais coisas acerca do Natal: ele é apenas Cristo que acontece. E nem adianta que as palavras dos humanos credos se revistam de ouro nos recantos sumptuosos dos templos ou nas vias imensas e caras das cidades; Cristo mora nas nossas mãos às vezes cansadas, e acontece quando elas se tornam as mãos de quem espera, e semeiam vida. As mãos e os gestos tão insignificantes e simples como recortar palhaços para enfeitarem uma árvore de cartão. Numa manhã de sol... Que a tarde trará uma brisa suave para abençoar os passos da solidão onde o poeta repousa e colhe os seus versos. Quando as árvores nos abrigam e nem damos pela ausência do céu; tal o tanto de infinito que mora na brisa do beijo que desejamos. Cristo também mora na honestidade íntima dos afectos. E entre os gestos e a poesia vai acontecendo o meu Natal.

Há notas que se acotovelam felizes à saída de um piano na expressão da mais inspirada e perfeita melodia

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Sobre os escombros da mágoa que ruiu no calor das nossas horas, construí uma casa com varanda e vistas para o desejo, onde os sentidos, todos, se sentam à conversa com o destino, alinhando os seus planos com a vontade expressa nos mais ousados sonhos. Nas noites de Dezembro, quando o luar intenso disfarça o frio, e as mantas são retalhos de palavras de amor sussurradas ao ouvido; há notas que se acotovelam felizes à saída de um piano na expressão da mais inspirada e perfeita melodia. Brinda-se ao futuro com o vinho generoso que o sol de Julho adoçou, e por entre vivas e saúdes, jamais vacilará a certeza de que esta sorte tem asas; não para fugir mas para cruzar assim connosco o tempo. Há rosas, bailes, canções, fado vadio, a voz dos poetas, repuxos de água... E das janelas vizinhas acena feliz a gente que nos quer bem. Tantos nos conhecem por ali, dos anos todos em que por lá morámos na companhia da mágoa.

Quando as tuas e as minhas mãos se enfeitam umas às outras de liberdade…

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Entre " todos os Homens têm o seu rio " e " as palavras que me dirás por entre o despertar das madrugadas " escrevi mais de trinta mil outras palavras numa história que num destes dias te irei oferecer como presente. Sentado quase sempre no recanto mais discreto da sala, deixei que do silêncio dos muitos serões emergissem as memórias, e com elas o tanto de vida semeado pelos teus beijos nas tardes frias de Lisboa. Quando as tuas e as minhas mãos se enfeitam umas às outras de liberdade. Só na aparência o escritor é um solitário; no seu íntimo carrega mundos inteiros, gente, o mar, craveiros de flores, cidades... que às vezes desenha assim sobre um papel e na forma de arrumadas letras. Com sentido e com a verdade que a arte sempre pressupõe... E pelo amor que me vais ensinando beijo a beijo; que a cada um deles aportam navios e especiarias, detalhes inéditos do universo que se fazem meus.

Nestes dias de açúcar…

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Nestes dias de açúcar nascidos de namorar contigo, todas as nuvens sucumbem ao nosso alado querer, como o rasgar fácil de um muito frágil, velho e usado véu. Há uma incansável poesia a calar as sombras, a revestir-nos todos os segundos… E os beijos são mestres de instantes de um perfeito abrigo, a casa onde os sentidos se enfeitam de variantes de azul, na cumplicidade que confunde aquilo que é nosso e da Terra, com aquele sentir suave e doce onde tudo parece acontecer a nosso jeito, e que a fé nos diz só poder existir no céu.

E às vezes é Dezembro!

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Degustamos sonhos “amassados” pelas nossas próprias mãos sob a bênção de ancestrais receitas herdadas da nossa história; sonhos doces polvilhados de açúcar… Colocamos luzes, desenhamos caminhos, contamos histórias, ousamos falar de esperança… sobre o musgo acumulado pelo tempo ao longo de tantos dias em que não vimos o sol… Escrevemos listas para não esquecer ninguém dos que amamos. Todos têm de estar sempre presentes… Perdemos o pudor e as reservas todas para à vontade falarmos de amor, mandarmos beijos, abraços… Até conseguimos dizer e escrever: “eu gosto muito de ti”… Não poupamos nas palavras; as doces e as de revolta perante a injustiça da dor de alguém… Não intrometemos a nossa sábia racionalidade entre as crianças e a magia e a poesia que se soltam delas… Não nos rendemos às coisas banais que sustentam as desculpas para adiarmos por mais algum tempo aquele jantar, um encontro; às vezes só uma conversa à volta de um café… E vamos seja onde for, fazemos quilómet

Um Homem grande é do tamanho dos seus sonhos

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Com a festa que me ofereces aos sentidos pintei de cores garridas todos os barcos que guardo em mim por entre este infinito impulso de navegar. Colho astrolábios dos teus abraços, um tudo de firmamento, e remo pelo mar fora na bênção de Neptuno; sabendo que os dias nunca serão de naufragar, mas tecidos daquele chão que só o querer sabe que existe. Os dias que nos fazem heróis pela única métrica que conta: um Homem grande é do tamanho dos seus sonhos. De todas as cores. Os meus desejos. E vou tomando os horizontes pela força dos instantes que vestem os teus beijos.

As palavras são de quem as lê, tanto ou mais quanto de quem as escreve...

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As palavras são de quem as lê, tanto ou mais quanto de quem as escreve. E muito grato se sente o escritor ou o poeta quando se senta à conversa com um amigo algures na fonte onde correm os seus versos. Amigos de alguns amigos que temos em comum, eu e o Carlos nunca nos tínhamos visto pessoalmente, apesar de quase todas as manhãs trocarmos gostos e comentários sobre as laranjas que vão nascendo no espaço virtual do meu Pomar. Conhecemo-nos ontem no seu restaurante em Aveiro. Eu levei palavras escritas, ele desenhou a poesia que o paladar sabe ler e acabámos os dois a conversar muito e a fazer uma foto junto à parede onde moram imagens de Pessoa e Saramago. Contou-me também o Carlos que junto a uma das paredes exteriores do edifício existia uma fonte que os Aveirenses baptizaram dos amores; e que há alguns anos, a autarquia resolveu mudar o fontanário para um sítio onde não corre água, porque essa continua a jorrar intensamente do sítio original. As fontes inesgotáveis que n

O amor é o doce e perfeito sossego que se colhe de dentro de uma alma alegremente desassossegada

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O trovador jamais resiste à madrugada, e no seu despertar que abraça o dos dias em berço de sol nascente, eleva o pensamento para quem ama e espreguiça-se depois em versos que não têm fim. Quem o vê assim em explosão de festa, dirá que o amor lhe enfeitou os modos e o sorriso, que estendeu longas e garridas colchas desde o seu olhar, a mais indiscreta das janelas, aquela por onde a alma nunca resiste a debruçar-se e a espreitar. E quando o dia depois corre veloz, porque sempre voa o tempo para quem está feliz; entre o pensamento e o assobio instala-se uma doce e infinita cumplicidade por onde também às vezes se soltam palavras, mas daquelas em rima e tecidas ao jeito de cantar. Diz-se que o amor é o doce e perfeito sossego que se colhe de dentro de uma alma desassossegada. Alegremente desassossegada. Digo eu que sim, é verdade. E provo-o pelo ritmo a que as palavras fluem do pensamento onde tu moras, todo o dia e a começar nos instantes em que comigo se espreguiça a madrug

Há beijos...

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Há beijos que iludem o tempo, que não embarcam no inevitável comboio expresso em ritmo acelerado dos minutos, e que assim permanecem eternos nas nossas vidas contrariando os verbos; não seguindo a norma lógica que alimenta quaisquer pretéritos, alojando-se perfeitos no presente do indicativo... Nem que passem mil anos. São invariavelmente também os beijos que não se dão ou se recebem, simplesmente acontecem por entre a festa da simbiose perfeita que anula quaisquer fronteiras entre emissor e receptor. São os beijos que não se contam por serem inacessíveis às palavras, e que até mesmo os poetas têm dificuldade em cantar na sua hora mais inspirada. São beijos maiores do que nós porque foi deles que nascemos, que dão abrigo sem serem casa e que alimentam sem que sejam pão. Há beijos... São os nossos beijos… como perpétuas flores.

No lado direito da saudade

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No lado direito da saudade, na esquina contrária à mágoa, plantei um vaso de orquídeas que fui regando nas noites de luar enquanto cantava, no intervalo das palavras de um livro que fui escrevendo para ti. Sentado por ali em sossego nos dias de te não ver, dei ao corpo assento num sofá grená tecido de nuvens e pétalas de flores, e dei sonho á mente em voo rasante sobre o querer, e num impulso de liberdade. Eu sempre soube que voltarias por aquele lado onde a intuição previu a minha sorte, e que os dois daríamos um abraço sem prazo de validade, cúmplice de todas as flores. Das orquídeas. E também das palavras; porque o livro descreve um herói que tem tudo de ti, e fala do mais perfeito dos amores.

A eterna poesia...

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A oliveira envolve-me com os braços que há séculos o sol tinge de luz, da essência doce das candeias. Somos da mesma idade... Filhos do mesmo chão, cúmplices do sol e do tempo; que aquilo que vivemos, pouco ou nada importa comparado com o muito que queremos viver. No campanário já soou o Angelus , é meio-dia, e o sol disfarça o frio de um Dezembro denunciado pelos medronhos e as laranjas maduras. Esta é a hora em que os poetas se levantam e saem vestindo com a alma as cidades nos enfeites das palavras que lhes oferecem, os versos sem rimas e sem forma desenhados e pintados sobre tudo e sobre o barro que nos oferece chão. E eu escrevo para ti à sombra da minha idade, escrevo sem tinta, sabendo que a memória nunca se distrairá com o tanto do caminho e jamais me desmanchará os versos. Porque tu és a poesia, a eterna poesia. 

Senhora da Conceição, Mãe e Casa…

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A fé à solta em louvor e prece chamou ao Céu as mãos que pelos dias tecem vida e liberdade, arados vivos e informais rasgando a terra, os dedos entrelaçados como redes fortes tomando dos mares, sustento e sal, o sentido mais perfeito e divino dos heróis. Maria de Nazaré. Senhora da Conceição. Mãe e casa, muito mais do que tudo... Mãe de Jesus que em nós persiste Ressuscitado... e Mãe nossa. Esperança dos pobres, refúgio dos moribundos, pão dos famintos, sustento de dignidade para os desempregados, amparo dos explorados, tecto dos sem abrigo, abraço dos marginalizados, palavra e atenção dos incompreendidos... Mãe do nosso tempo. Com o riso da alegria e as penas de chorar, tecemos um rosário que desfiámos nos serões frios onde o silêncio deixou livre a alma a segredar aos lábios... Ave-Maria. (A foto foi tirada ontem em Vila Viçosa no Santuário de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira e Rainha de Portugal, aqui coroada pelo Rei D. João IV no Século XVII).

Um pouco mais de Céu...

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Nascida em 1909, a Tia Maria Teodora contava-me que quando criança e por alturas da Primeira Guerra Mundial, ao chegar a novena da Senhora da Conceição, as mulheres iam para a igreja com os mesmos xailes grandes e de cadilhos com que de manhã se abrigavam do frio de Dezembro na apanha da azeitona. Sem bancos corridos e com as cadeiras reservadas para aqueles que se oferecem estatuto de mais próximos de Deus, restava pois o chão para as mulheres se sentarem a ouvir o pregador, que afortunadamente não falava em latim. Afinal, o chão nunca é coisa estranha para quem cuida a terra. Durante esse tempo de serão, em que o cansaço as vencia e elas dormitavam, os rapazes e as raparigas entretinham-se a atar os cadilhos uns aos outros ligando os xailes que caíam todos numa longa linha no instante em que elas se levantavam. Ontem fui com a minha mãe à novena pisando o mesmo chão mas sentando-nos nos bancos de madeira. A fé será a mesma de há um século, o castelo, a igreja, o ar fri

Coisas da poesia de um sábado à tarde…

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O que poderá unir o Largo de São Carlos, em Lisboa, com o Terreiro do Paço de Vila Viçosa? Por certo a música, D. João IV era um melómano e foi na sua dinastia, no reinado de D. Maria I, que a casa da ópera de Lisboa foi inaugurada. Depois a poesia, Fernando Pessoa nasceu numa casa em frente ao teatro, Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa a curtíssima distância do Terreiro do Paço. Mas no sábado solarengo de um Dezembro do Século XXI, aquilo que une um e outro são os meus passos envoltos na claridade. Se a riqueza de um homem se mede pelas "cidades" que o abraçam, eu serei então dos mais afortunados do universo. Deixo que "O retiro" do Rodrigo Leão me envolva nos primeiros quilómetros dos quase duzentos que tenho de percorrer, e o artista, sem o saber, inventou a banda sonora perfeita para a magia dos sobreiros espreguiçando-se ao sol, oferecendo sombra à erva nova que a chuva já semeou. Depois deixo que o YouTube me faça uma mix muito pessoal,