Nós somos os presépios que caminham alegres sob a aragem fria das manhãs de Dezembro...



Saiu cedo o poeta numa manhã fria de Dezembro, tomou a aragem e a neblina como abraço do céu que sobre ele se curvava, e a passo decidido foi deixando para trás as ruas debruadas de cal da vila, mergulhando feliz no campo que conhecia bem dos seus tempos de brincar.
Com os pés entretidos no beijo apaixonado ao seu eterno chão, hoje ornado de infinitos cristais da geada; sem temer o frio entregou as mãos à face norte das oliveiras, tomando pedaços do seu manto verde de musgo que foi guardando num cesto que levava consigo.
Parando infinitas vezes, perdeu-se nas horas e nas lembranças, e já desvanecia a neblina, rendida ao sol, quando decidiu regressar a casa, tomando da orla do caminho, um ramo quase seco de azinheira que o vento algures pelo Outono roubara ao tronco onde crescera.
Na casa aquecida, mais pelo beijo da sua mãe do que pela aparência rubra da lareira, procurou o recanto mais nobre da sala, e com tudo aquilo que trouxera do campo inventou uma cama para Jesus.
Era Natal...
Colocou luzes e cor sobre o presépio enquanto se lembrava e trauteava as quadras que o avô lhe ensinou ao som da zabumba nos dias felizes como o de hoje.
E sentou-se depois o poeta, num sofá quase em frente da sua obra, indeciso e sem saber se Jesus estava mais confortável na cama que ele lhe inventara, se na poesia que colhera do campo sob a aragem fria da madrugada que fora mãe desse dia.
Feliz Natal para todos.
Nós somos os presépios que caminham alegres sob a aragem fria das manhãs de Dezembro... 

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