Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2013

“Aguenta, aguenta!”

Caro Dr. Fernando Ulrich, sou há muitos anos cliente do seu banco, e por isso um contribuinte activo através de juros, taxas e afins, para o lucro de 250 milhões que a instituição a que preside conseguiu em 2012. Felicito-o pelo facto de o senhor ser das muito poucas pessoas que neste país se pode orgulhar de ter crescido em termos financeiros no ano que passou, ano marcado por inúmeras falências de empresas de maior ou menor dimensão, e por um consequente e desmesurado aumento do desemprego que atirou muitos milhares de Portugueses para patamares bem abaixo dos limiares da pobreza. Tem portanto toda a legitimidade para estar feliz nas suas conferências de imprensa. Porém, permita-me que lhe faça algumas sugestões para que as possa usar, se assim entender, na pose e no discurso. Aprenda o que é o pudor e aplique-o activamente, evitando assim talvez, essa ridícula soberba de quem fala da riqueza que alcançou e reconhece por legítima a austeridade aplicada aos outros. O “Estado

No tempo do TV RURAL

Levantávamo-nos da cama depois do toque do despertador a que o nosso pai nunca se esquecia de dar corda na noite anterior, abandonando os lençóis cheirosos, invariavelmente brancos, lavados pelas mães nas águas correntes dos ribeiros ou então nos tanques de cimento que tínhamos em casa, com OMO, PRESTO, SABÃO CLARIM ou JUÁ, este último com a vantagem de nos oferecer brindes que poderiam ser Réguas Mágicas ou copos de vidro. A higiene matinal era feita com a ajuda da PASTA MEDICINAL COUTO e dos sabonetes FENO DE PORTUGAL ou LUX, antes do pequeno-almoço que tinha sempre o leite comprado na véspera na casa do primo João, que criava e cheirava a vacas, em recipientes de alumínio que nós nos encarregávamos de amassar enquanto vazios, fazendo-os bater contra os joelhos. Leite que para nós era acompanhado com TODDY, ou COLA-CAO no caso de alguém ter ido recentemente a Badajoz, e para os nossos pais, com BRASA, TOFINA ou MOKAMBO. Comíamos pão quente comprado na padaria mais próxima e que e

Viagem a Ítaca

Quando em Agosto de 2007 aportei na ilha Grega de Ítaca, o Juan Blas não se tinha esquecido do CD em que Luis LLach canta a viagem para essa ilha de todos os sonhos de Ulisses, e a saída do ferryboat ao som da voz e das palavras do cantautor Catalão, teve tudo o que têm os momentos perfeitos, aqueles em que é irresistível pensar: - Ganhei à vida. Hoje pela manhã e enquanto escrevia uma mensagem de parabéns para a minha querida amiga Ana Cravo, para todos nós, a Tina, recordei-me desse momento e fui à procura das palavras de Llach, ousando uma tradução do Catalão para o Português: “ Quando saíres para a viagem a Ítaca, ora para que o caminho se te faça largo, cheio de aventuras e experiências (…). Mantém sempre no coração a ideia de Ítaca. Tens de chegar pois é esse o teu destino, mas jamais forces ou tentes encurtar a travessia. É preferível que dure muitos anos e que sejas velho quando aportes à Ilha, rico de tudo o que haverás ganho pelo caminho, sem esper

Ser estrela e chamar a sorte

Quão vacina altamente eficaz, este post tem o assumido intuito profiláctico de me proteger no futuro contra as abomináveis mensagens que anunciam a sorte e a fortuna através da multiplicação e reenvio dessas mesmas mensagens. Há alguns anos em Vila Viçosa, recordo-me que a metodologia envolvia a colocação de cartas anónimas nas nossas caixas de correio, e não sei porquê, missivas muitas vezes acompanhadas por uma moeda de um escudo. É claro que a moeda patrocinava a compra de uma pastilha elástica e a carta acabava invariavelmente no lixo. Com as novas tecnologias, as contas de e-mail e os telemóveis via SMS’s, passaram a ser verdadeiros lança mísseis ao serviço destes intrépidos crentes na sorte fácil. No caso dos telemóveis, penso que sempre com o natural regozijo das operadoras. Hoje, após uma e hora e meia para percorrer na minha viatura os 15km que me separavam do centro de Lisboa, no exacto momento em que regressava à superfície após o estacionamento nas profundezas do C

A Batalha da Mealhada

Circulando hoje pela auto-estrada A1, entrei na Área de Serviço da Mealhada quando seriam umas 15 horas, e tive a percepção de ter chegado a um território em guerra, tal a profusão de polícia e veículos de pirilampo azul que ali se encontravam na zona do restaurante. Confesso que estacionei a medo pois não tenho vocação de mártir e mesmo que um dia o possa vir a ser, que na génese desse martírio haja uma causa mais nobre do que apenas e só a ingestão de uma empada de leitão. Maldizendo o hábito e o gosto de conduzir em silêncio e apenas com os pensamentos em on , desconhecendo por esse facto a ocorrência de um qualquer golpe de Estado ou revolução, decidi abordar um dos polícias tentando um registo que não me fizesse parecer em demasia com o Raul Solnado no seu inquirir acerca do Domicilio da Guerra: - Muito boa tarde. É seguro deixar o carro estacionado neste sítio. A resposta pronta elucidou-me logo sobre o motivo de semelhante aparato: - O “xô” não tem qualquer problema.

Rumo ao sul

Entrego o olhar ao horizonte, no momento em que finalmente acudi ao chamamento que por toda a noite, a chuva me fez, batendo ritmada e a compasso na vidraça da minha ocasional mas muito alta janela. Encontro a Foz, esse merecido aplauso do mar ao Douro, o rio que, por arte e esforço, suor, por bênção dos Céus no casamento perfeito de terra e sol, congrega em si o melhor vinho, o perfeito e divino milagre de Caná. Engarrafados brindes, ao melhor da vida. Vou rumar ao sul. Sou do sul. O meu destino de hoje é buscar Lisboa, deixando-me seguir pelos trilhos dos instintos de Tejo, o rio que para além de si, me devolve a planície e me faz chegar a casa. Todos os dias da minha janela vejo o Tejo, feliz na sua entrega ao mar. E o Tejo tem esse condão de em si carregar as águas temperadas de aromas de urze, que das Beiras ao Ribatejo, a água corrente baptizam a terra com a perfeição das Serras, as Terras da Neve. O Tejo bebe do Zêzere a essência da terra que me devolve à simplic

Por favor, privatizem-me!

Conseguiram. O recibo que hoje me foi entregue, comprova-o. Pela primeira vez em mais de vinte anos de trabalho, a quantia que me é descontada do salário, é superior à que me é entregue para eu poder passar nos pórticos das SCUT’s e na via verde, pagar o IVA, as taxas moderadoras, os juros do empréstimo ao banco, o imposto sobre combustíveis, etc. À semelhança do que aconteceu no ano quente de 1975, posso dizer que fui literalmente nacionalizado. Ironias do destino, os liberais, os Homens que idolatram os Mercados, por seu interesse, viraram gonçalvistas. Pela calada da noite da incompetência dos políticos, assaltaram-me, ocuparam os meus parcos haveres e neste momento ganhei a legitimidade de acrescentar EP (Empresa Pública) ao meu nome, uma vez que sou maioritariamente gerido pelo Estado, e sou uma importante parcela do Orçamento desse mesmo Estado. De caminho e porque tenho a consciência do que é o problema do desemprego neste país, ainda me obrigam a sentir-me agradec

Orgasmos dispersos

Só a ausência de uma cabal e eficaz satisfação das regulares necessidades de âmbito afectivo e sexual, no enquadramento familiar ou alternativo, e no contexto dos territórios e domicílios privados, poderá justificar essa incessante busca dos Portugueses por prazeres alternativos. E à mão, salvo seja, estão todas as situações normais do dia-a-dia. O Português gosta de chegar ao trabalho pela manhã e evidenciar a muito “macha” boa disposição do pós-orgasmo, na hora de tomar café com os colegas. E se o sorriso não lhe advém do tempo em que permaneceu em casa, por aborrecimento, falta de vontade, falta de companhia, dores de cabeça ou outra, só lhe resta o percurso matinal de carro para “sacar” o clímax alternativo: buzinadelas, gestos obscenos, palavrões vociferados de vidro aberto, entradas e saídas irregulares nas rotundas, ultrapassagem de traços contínuos e sinais vermelhos, desrespeito pelas regras de civilidade junto de quem com ele partilha as filas, etc. Tudo serve. E ao e

Entardecer

O cinza camuflou o sol que nasceu forte pela manhã, e por completo aniquilou o acréscimo de luz que Janeiro sempre oferece aos dias. De intenso negro e raro branco se faz a palete de tons que uniu o céu ao mar, e não fosse a vida alimentada a memórias e certezas das cíclicas primaveras, e diria aqui que o mar nunca existiu. Até as gaivotas vieram e estão por sobre mim, e é estranho o seu bailado ao redor de uma esguia e imponente árvore, por hoje apenas e só, um bouquet de finos e hirtos troncos abandonados à guerra com o vento que insiste em soprar forte. E ali mesmo ao lado, um canavial há muito se rendeu, e curva-se obediente à força e ao poder de cada rajada. Por todo o lado há gente que corre e se cruza comigo ao ritmo rápido ou lento que a vermelhos e verdes, o semáforo oferece. Do lado de cá do carro, são todos, autómatos com ou sem rumo, mas sempre sem fala. Os entardeceres assim, de cinza, chuva lenta e persistente, são espelhos abertos ao reflexo que expõe a despu

Gente maior

As pessoas, mais do que tudo, são as nossas maiores cúmplices no moldar dos dias. Em primeiro lugar pelo que são, e depois, pelo que são capazes de fazer acontecer. E os amigos, os verdadeiros, são aqueles que impelidos pelos afectos, nos tornam o tempo mais do que perfeito, ficando para sempre sublinhados nos capítulos indissociáveis da nossa história. Há alguns anos, inacreditavelmente muitos porque ninguém deu pelo tempo passar, são de amigos, algumas das melhores e mais requintadas memórias dos meus dias de Vila Viçosa. Por estes dias frios de entre Janeiro e Março, era necessário, por vezes, acender a lareira enorme que existia entre as manjedouras do corredor da nossa improvisada mas eterna Escola Secundária, à Ilha – Porta dos Nós, que por este tempo é dependência do Museu dos Coches e que muito pouca gente consegue imaginar ter sido perfeita, como espaço para aprendermos e para nos divertirmos enormemente. Os nossos impermeáveis coloridos, baptizados todos com a marca

Suas Excelências, os “Ex’s”

Desde sempre me habituei a conviver de perto com o ditado: “se queres ser bom, morre ou ausenta-te”. É um facto que a morte de alguém nos “adoça” o coração e tem o condão de aliviar os juízos negativos, mesmo em relação a pessoas com que não simpatizávamos muito. Por um lado, porque não nos sentimos bem a “bater em mortos”, no verdadeiro sentido do termo, por outro porque delegamos em Deus, o dito julgamento, e de caminho, por precaução, não vão os finados ter algum poder misterioso e fatal que nós desconhecemos, e venham acelerados das mais profundas trevas para nos infernizar os dias. A ausência tem efeitos semelhantes mas por não envolver uma componente mística e metafísica, tem sempre menos eficácia e menos impacto de perdão. Passa a ser uma questão de tempo e de alívio da memória. Nos últimos tempos, tenho-me apercebido que é total a adequação deste ditado à política Portuguesa. Por intolerância a telenovelas, programas de entretenimento, concursos e “Big Brother’s” ao e

Europa, essa pérfida mentira

Nada mais, para além da dimensão geográfica, é capaz de nos unir no espaço Europeu. A Europa é, apenas e só, um continente. Quem tem a oportunidade de interagir com indivíduos oriundos de outros países da União Europeia, sejam Nórdicos, Belgas, Checos, Gregos ou outros, rapidamente se apercebe que pouco ou nada nos une para além do espaço geográfico, porque até a história de cada país é contada enumerando as glórias das batalhas que vencemos quando estivemos uns contra os outros. Neste contexto, a solidariedade entre países é idêntica à de um leão esfomeado que nos vê entrar pela jaula para lhe fazer uma festa. Quando na primeira metade do Século XX e em menos de trinta anos, a Europa se viu devastada por duas guerras de dimensão mundial, acredito que o desafio de criar uma união económica, mais até do que política, tenha sido um sonho legítimo de Homens de dimensão maior. Porém, quem às vezes interpreta a música de um génio, nem sempre o acompanha em dimensão na arte. Quem

O vento

Toda a noite, o vento soprou forte. Grito, sussurros, a cumplicidade com a chuva arrastada para a vidraça, e esse desenho dos sons que a nossa imaginação faz parecer palavra. A voz do vento nascida da sua força, ou o mar perseguindo-me e impondo-se aos meus dias no Alentejo que só o pode sonhar, sendo como é, pedaço perfeito de terra lusa, que mira a nascente e corteja Espanha. No Terreiro, ao lado da minha janela, o cipreste que compete em altura com a imponência do Paço, agita-se desde a madrugada num estranho bailado que dá movimento à estranha e inédita Banda Sonora que povoa hoje a minha terra, e que nos matou por instantes esse privilégio da companhia do eco dos nossos passos sobre a calçada. Espreito pela janela, e daqui, do quente da camilha que esconde a braseira que pelo corpo me aquece a alma, vejo que o cinzento que se impôs ao céu, preservou e mantém intacta, a beleza do casario branco que por sob o tijolo dos beirais e numa quadrícula em amarelo e azul feita de

Dois mil e “treuze”

Tal como a roupa que vestimos, a quantidade, a qualidade e as marcas dos adereços e adornos que usamos, o número de beijos com que nos osculamos, também a expressão oral da língua Portuguesa é utilizada como factor diferenciador dos extractos sociais. E se os sotaques de cariz regional são uma inevitabilidade que advém da zona onde nascemos e vivemos, muito agradável e simpática em minha opinião; esta forma de articular palavras e frases é em muitas situações, um visto para a entrada em áreas exclusivas e de afirmação, nem que para tal, se mate a facadas, a língua de Camões e Pessoa. Vem isto a propósito do tormento que será suportar este ano, que para muitas pessoas é o de dois mil e “treuze” (treze). Ainda Janeiro vai a meio e já deu para ver que isto será duro… Embora sem poder afirmar o seu significado estatístico, a amostra que utilizei para análise parece evidenciar que esta é uma verdadeira praga que ataca sobretudo essa classe das super sofisticadas louras ao estilo mos

As camélias de um intenso tom rubro

Somos seis à mesa do jantar. Quando hoje nos despertámos em nossas casas para mergulharmos em mais uma semana de afazeres e altas prioridades, jamais imaginámos que iríamos terminar assim, juntos, as nossas tardes. Um SMS a meio da manhã comunicou-nos que a mãe da Fernanda, uma amiga comum, acabara de partir para o Céu, e, pelo compromisso com as amizades com marca de eternidade e por uma bendita imposição dos afectos, as prioridades foram imediatamente alteradas, e viemos todos. Em momentos assim, do “toca a reunir”, já sabemos há muito que instintivamente o GPS da alma nos encaminha para o “Centro de Operações Especiais para Actividades do Coração” que está montado na Fazenda das Figueiras na casa da Mina e da Natália. A comida surgiu por magia e sem Bimby, e foi apenas um detalhe, pois o que nos alimentou verdadeiramente, enquanto na lareira a lenha de sobro se entregava ao lume para nos aquecer, foram os frutos desse amor fantástico que nos une a todos e que insistimos em

Secret Story

Glória Maria da Silva Araújo. É deputada à Assembleia da Republica eleita pelo círculo do Porto nas listas do Partido Socialista, pertence à Comissão Parlamentar para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, e em 2008 participou na Comissão Interparlamentar da Segurança Rodoviária. No passado dia 4 foi detida por uma brigada de trânsito por conduzir com 2,41g de álcool no sangue. Ana Teresa Vicente. Presidente da Câmara Municipal de Palmela eleita nas listas da CDU, estando impossibilitada de concorrer a um quarto mandato, requereu a reforma aos 47 anos. O Governo da Austeridade. O Governo que quer “reajustar” o Estado Social despedindo funcionários públicos, nomeou até final do ano, cerca de 3.500 assessores políticos, todos com ordenados muito interessantes e com um grupo de cerca de 1.500, a receber os subsídios de férias e Natal. Escolhi apenas três exemplos recentes para ilustrar a minha convicção de que hoje a Política Portuguesa é uma verdadeira Casa dos Segredos, e

Cuidados domiciliários

Atacado pela incompetência, mais do que pela invalidez, Portugal é hoje um velho senhor falido que habita o seu castelo com 89.015 km 2 , para além dos dois anexos algures no meio do mar, gozando de boas vistas e com “salões” carregados de memórias, mas preso de movimentos e com total dependência de terceiros. Os filhos e netos, a quem entregou por testamento e voto de confiança, a gestão dos seus bens, esbanjaram a fortuna tratando das suas comodidades, e agora, por inabilidade ou má vontade, recusam-se a cuidar de Portugal e recrutaram recentemente os serviços de um prestador de cuidados, um tal de FMI. Há alguns anos, quando tomaram as rédeas do governo da casa, a coisa animou. Chegou muito dinheiro e restaurou-se o “castelo” para abrir uma espécie de “Turismo de Habitação”. Fizeram-se acessos, pontes, rotundas, parques de jogos e de diversões… Parecia que o futuro estava garantido e que tudo corria sobre rodas. Mas, rodas, agora só as da cadeira a que o velho senhor está pr

A oeste, Portugal

O retrovisor oferece-me o prenúncio do Lumiar e da perfeição de Lisboa, quando de relance observo o imenso vale de Loures, que deixo para atrás à medida que a auto-estrada me faz subir até aos moinhos que, antigos ou renovados, insistem em não desaproveitar a força dos ventos que sopram bravos nos cumes dos montes saloios. E os moinhos recortam as linhas, de Torres, da “memorial” Mafra, e de todos os horizontes até ao ponto em que Óbidos nos esconde Peniche e as Berlengas e nos fala das Rainhas, de quem sempre foi jóia maior que a própria coroa. Óbidos, o castelo que nem o mar resiste a beijar, tornando-se lagoa e criando o arrendado de terra e água que pelo Arelho e deixando a Foz, nos leva às Caldas, por D. Leonor baptizada rainha, e por Bordalo tornada o berço do Zé, que sendo povinho, tem afinal a cara e o gesto de todos nós. Antes de Leiria e do infinito mar de troncos que sustentam no alto o pinho verde semeado por D. Dinis, o Lavrador, o Alcoa traz-nos à memória o Baça e

Uma família à sombra da amoreira

O acesso à nossa família pode sempre ser feito por duas vias: o parentesco ou os afectos. E mesmo aqueles que acedem pela primeira via, apesar de inevitáveis na nossa árvore genealógica, são sempre sujeitos a uma prova natural de acesso e avaliação segundo as regras do coração, a qual, em caso de reprovação, os remete automaticamente para a longa galeria dos conhecidos. Considero-me um homem de sorte pelo facto de a vida me ter oferecido uma família grande e sem necessidade de “chutar” alguém para o Panteão dos Afectos”, tendo para além disso, a generosidade de me oferecer muitos amigos que pela intensidade com que o são, se tornaram membros de pleno direito, e indispensáveis, na família que me rodeia. Quando vim estudar para Lisboa em 1984, uma espécie de Maria Papoila na versão Estudante de Farmácia, fiquei alojado na sede da Fundação da Casa de Bragança, então ao Príncipe Real, onde tinha como companhia um casal, a D. Engrácia e o Sr. Francisco, pessoas que até aí eu desconh