A Batalha da Mealhada


Circulando hoje pela auto-estrada A1, entrei na Área de Serviço da Mealhada quando seriam umas 15 horas, e tive a percepção de ter chegado a um território em guerra, tal a profusão de polícia e veículos de pirilampo azul que ali se encontravam na zona do restaurante.
Confesso que estacionei a medo pois não tenho vocação de mártir e mesmo que um dia o possa vir a ser, que na génese desse martírio haja uma causa mais nobre do que apenas e só a ingestão de uma empada de leitão.
Maldizendo o hábito e o gosto de conduzir em silêncio e apenas com os pensamentos em on, desconhecendo por esse facto a ocorrência de um qualquer golpe de Estado ou revolução, decidi abordar um dos polícias tentando um registo que não me fizesse parecer em demasia com o Raul Solnado no seu inquirir acerca do Domicilio da Guerra:
- Muito boa tarde. É seguro deixar o carro estacionado neste sítio.
A resposta pronta elucidou-me logo sobre o motivo de semelhante aparato:
- O “xô” não tem qualquer problema. Estamos à espera da claque do Vitória de Guimarães mas temos a indicação de que os autocarros ainda vêm longe.
Subo os degraus de acesso ao restaurante em passo acelerado e paro para levantar dinheiro junto a uma caixa multibanco que também está rodeada de polícias.
De pistolas à mostra e bastões pendurados do cinto, conversam animadamente sobre música e ouço-os citar vários grupos Portugueses:
- Era dos Sitiados.
- Não. É de outro que não me lembro…
Olho-os, vejo-os ao melhor estilo Village People em versão renovada, e pergunto-me se não estarei envolvido em alguma cena de apanhados, tal o ridículo provocado pela diferença entre o aparato e a descontracção policial.
Saiem as notas da máquina e sai da casa de banho uma senhora de aspecto frágil e cabelo cor de cenoura. Um dos polícias não resiste e dirige-se a ela:
- A menina desculpe mas agora canta onde?
- Nos Amor Electro, responde simpaticamente a cantora, pondo fim à charada do animado grupo de fardados de azul.
Segurança, claques e bandas?
O festival estaria montado mas eu acelerei para sair dali para fora, após ter comido a empada de leitão, que nem pude saborear de jeito.
Detesto claques de futebol, e não me acusem de sectarismo pois tanto detesto as do meu clube como as dos clubes rivais. Considero-as formas camufladas de manter vivas, organizações com fins perversos que vão muito para além do apoio ao desporto.
Quem paga este aparato policial?
Desconfio que seja o Orçamento de Estado pela via do Ministério da Administração Interna e acredito que se estes sistemas estão montados para as claques de todos os clubes da primeira divisão, a verba total no final do ano, deva ser bastante avultada.
Avultada e demasiado perversa, num país com carências básicas que não tem dinheiro para suportar o transporte em ambulância de pessoas que necessitam de cuidados médicos continuados.
E se há a noção de risco e há práticas criminosas associadas a estes grupos, porque é que em vez de os escoltar, o Estado não os proíbe e desmantela? Acaso coloca um polícia a escoltar cada indivíduo perigoso e potencial homicida?
Os criminosos não se protegem, condenam-se.
Para além disso, e depois das declarações de Armstrong sobre o doping, não restam dúvidas de que o desporto de alta competição é uma farsa, e até o público, este público, é uma mentira.
Hoje são realmente outros, e contados a dinheiro, os valores do desporto.
E depois, desculpem, mas como cidadão, tenho o direito de manifestar a minha recusa em ter de realizar banais tarefas do meu dia-a-dia em ambiente de guerrilha, apenas e só porque um bando de acéfalos gosta de se entreter a partir sanitas e a roubar cervejas.

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