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A mostrar mensagens de dezembro, 2011

2011

Estão descascadas e saboreadas as laranjas da colheita de 2011. Hoje, último dia do ano, sentados à volta de uma lareira que nos aquece aqui algures entre as laranjeiras deste “Pomar” e sempre à laia de balanço, partilho convosco todas aquelas laranjas que gomo a gomo se foram impondo à minha memória: LARANJA DOCE – Revoluções nos países árabes Saúda-se o fim de regimes totalitários pela força do povo unido nas ruas. Foi de dentro do Egipto ou da Líbia que nasceu este desejo de democracia, tendo os líderes das grandes nações secundado esta vontade, após anos de convivências e complacências hipócritas feitas ao sabor dos mais variados interesses. LARANJA AMARGA – Crise Financeira / Troika De PEC em PEC chegámos à Troika, e fomos obrigados a pedir empréstimo às instituições internacionais. Ataque à zona Euro? Crise financeira mundial? Nada servirá para disfarçar a incompetência de quem nos governou ao longo de décadas. LARANJA SUMARENTA – Eduardo Souto Moura O presidente Oba

A terapia do Feijão com Mogango e das Migas de Tomate

Por estes dias de entre Natal e Ano Novo, o Alentejo cumpre esta contradição que é parte da sua magia, de um sol fantástico e de um frio que enregela até as partes mais recônditas do esqueleto. Não me importo mesmo nada com isso. Se não fosse assim não era verdadeiramente Alentejo, não seria Vila Viçosa e eu jamais me sentiria em casa como agora me sinto. Quanto mais mundo conheço, mais reforço a convicção de pertencer a esta terra e de ser este verdadeiramente o meu espaço. Aconchegado de dia pela braseira que se encontra debaixo da minha camilha e de noite pelas pesadas mantas coloridas de Reguengos, faço por estes dias o meu atestar de paz, tranquilidade, amizade e força para enfrentar mais um ano. Não sei se por andar a fugir à televisão e à rádio, ou se por ainda não ter comprado sequer um jornal, numa assumida atitude quase monástica de um Cartuxo, mas até parece que já estou mais optimista quanto a 2012. O pior será quando eu acordar do sonho com o despertador da Troika a t

Os Natais dos dias simples

A simplicidade dos nossos dias Calipolenses fazia sobressair enormemente os dias especiais que eram os dos nossos Natais. Não que deixassem também de ser simples, nós é que os tornávamos diferentes pelo que melhor que nos vestíamos, comíamos, bebíamos e também, e sobretudo, pela alegria com que os preenchíamos, celebrando o estarmos juntos e em família. A alegria expressava-se pelo canto tradicional e acompanhávamos o “Eu hei-de dar ao Menino…” com as Roncas que construíamos colocando a pele de um animal, geralmente de um coelho, a tapar a boca de um recipiente de barro ou de lata, sendo esta cobertura perfurada ao centro por uma cana que friccionávamos molhada, criando uma ressonância perfeita para acompanhar as nossas vozes mais ou menos afinadas. Há medida que a noite avançava e os copos se iam esvaziando, aumentava a vontade de cantar, mas também a desafinação. No jantar do dia 24 comíamos peixe e este no Alentejo é sinónimo de Sopa de Cação. A moda do bacalhau com couves veio m

Natal 2011

Conta a história que há milénios atrás, quando Herodes era rei, só a pobreza de uma lapa fria, estava livre para acolher o carpinteiro José, que juntamente com a Virgem Maria, fizeram brilhar a Luz e a Paz, concretizando esse Mistério maior da história, de um Deus que se fez Homem e nasceu rapaz. Brilharam estrelas por todo o universo, viajaram com ouro, Magos de longe, pastores dançaram e alegrou-se o povo, acreditando que a vida seria uma festa, neste eclodir de um tempo novo, imaginado de Homens iguais entre si, sem ódios, rancores ou guerra, um tempo em que a justiça e a concórdia, viriam colorir e restaurar a Terra. Mas se foi Deus que fez o Homem, será sempre o Homem quem traçará a sua história. E se a bússola for o ter e a perversidade da ambição, jamais se chegará ao tempo de Homens solidários estendendo a mão, apostando em força na igualdade, na tolerância, na fé, na humildade e no respeito, que permitem construir a mais doce liberdade. Como era bom

Quatro horas de Natal

Com a total cumplicidade da alma, aceitei o repto e reservei quatro horas do meu calendário do Natal 2011, para o voluntariado na festa dos sem abrigo organizada em Lisboa pela Comunidade Vida e Paz. Quatro horas apenas, o suficiente para que centenas de histórias se cruzassem com a minha, histórias de gente que não precisa de falar para expressar a dor de uma vida triste e sem rumo, pois os olhares, os gestos, as rugas, a tez, denunciam desde logo esse destino de uma existência madrasta. Cruzam-se todos os dias connosco na cidade e nós não os vemos ou não os queremos ver, são uma multidão de gente que carrega às costas em mochilas sujas, todo o muito pouco a que podem chamar seu, gente que pela persistência no infortúnio, já incorporou a pobreza no seu código genético e que com a mesma naturalidade com que respira, afirma dormir na rua ou em alguma estação “quente” da cidade. É uma multidão que chega ávida de pão, mas também e sobretudo de afectos. Mais de vinte anos depois, reent

Os infantis no campeonato dos seniores

Imaginem se de repente Portugal decidisse apresentar-se num importante campeonato internacional de futebol de escalão sénior e com um elevado grau de exigência, com uma equipa de infantis… Não será difícil de prognosticar que perderíamos todos os jogos por goleadas vergonhosas e que o desfecho seria a descida de divisão. Revejam por favor o debate quinzenal que teve lugar ontem na Assembleia da Republica e que opôs Passos Coelho a Seguro, atentem ao nível abaixo de zero da discussão e confirmem por favor… …não temos jogadores para este campeonato tão duro. A guerra é feia e árdua e sem generais e com tais soldados, venha de lá mais um Alcácer Quibir.

Eduardo Lourenço

Foi ontem anunciado o vencedor do Prémio Pessoa 2011, e não posso deixar de me congratular com o facto de ele ser Eduardo Lourenço. Há muito que me habituei a ler e a ouvir Eduardo Lourenço, desenvolvendo por ele uma enorme admiração com raízes na lucidez, na inteligência e na oportunidade com que este Homem Maior pensa a vida e o mundo em geral, e Portugal, de uma forma muito particular. Não tenho dúvidas de que aos 88 anos, ele é um dos maiores Portugueses vivos, e por certo o mais importante humanista Português do nosso tempo. Afirmou o júri do Prémio Pessoa de que estando deprimida por estes tempos a nação lusa, era necessário premiar algo de grande que a ela pertence. E maior e melhor, digo-vos eu, era impossível. Um dia Eduardo Lourenço retratou assim Portugal: "Nação pequena que foi maior do que os deuses em geral o permitem, Portugal precisa dessa espécie de delírio manso, desse sonho acordado que, às vezes, se assemelha ao dos videntes (Voyants no sentido de Rimbaud

Essa insuspeita ligação entre as cavalariças e a amizade

Tenho a noção de que estou em pleno gozo do meu último fim-de-semana prolongado pois com a reforma “troikiana” dos feriados, as pontes ficarão reduzidas a estruturas de engenharia para cruzar estradas ou cursos de água, deixando definitivamente de existir as que ligam feriados a fins-de-semana e vice-versa. Por isso, tal como acontece com o último pedaço do bolo, o último bombom da caixa ou a última gota de cerveja, ele me está a saber tão bem. E depois, para saborear Vila Viçosa em plenitude, é preciso muito mais tempo do que apenas e só o que nos é oferecido entre sexta e domingo. Para entrar com eficácia na dimensão mais profunda das memórias é necessário esquecer o relógio e relaxar, deixando-nos embalar pela “calma” alentejana. Ontem resolvi deixar o carro na garagem e “viajar” a pé até à zona dos supermercados onde se abastecem os meus conterrâneos, tendo assim a possibilidade de passar ao portão da minha Escola Secundária, a antiga, a que teve as suas instalações provisoriame

Avé Maria

Mãe de Jesus: Senhora da Anunciação, da Encarnação, do Ó, da Visitação, da Natividade, de Belém, da Lapa, das Dores, da Piedade, do Pé da Cruz, dos Anjos, da Assunção, … Mãe nossa: Senhora do Amparo, dos Remédios, da Saúde, da Cabeça, da Vitória, da Pranto, da Agonia, da Graça, da Glória, da Vitória, dos Navegantes, da Boa Viagem, Auxiliadora, da Paz, da Boa Morte, do Parto, do Bom Sucesso, do Carmo, da Consolação, da Guia, do Leite, dos Mares, das Mercês, dos Milagres, da Misericórdia, das Neves, da Purificação, do Perpétuo Socorro, dos Prazeres, do Rosário, do Amor Admirável, do Bom Despacho, do Alívio,… Mãe de Portugal: Senhora da Oliveira, de Fátima, do Sameiro, da Nazaré, do cabo, do Monte, dos Mártires, do Incenso, D’Aires, da Enxara, da Abadia, da Ponte, da Boa Hora, da Boa Nova, da Luz, das Candeias, da Estrela, da Escada, do Livramento, da Pena, da Rocha, da Lapinha, da Fé, do Almortão, do Antime, da Serra, de Balsemão, do Nazo, da Ribeira, do Viso, dos Montes Ermos, da

Restaurar a independência

No passado dia 1 de Dezembro comemorou-se o 371º aniversário da restauração da independência de Portugal. Após 60 anos sob o domínio da coroa Espanhola, um grupo de bravos Portugueses correu com nuestros vizinhos para o seu lugar para lá da fronteira, e fez rei o Duque de Bragança, o Calipolense meu conterrâneo D. João, o IV na lista dos Soberanos de Portugal. O dia 1 de Dezembro não significou o fim do processo de restauração da independência, foi antes o inicio de uma longa guerra que demorou 28 anos. Passados quase quatro séculos, é triste mas inevitável pensar que Portugal persiste mas a independência, nem pensar. Não há “Filipes”, Duquesas de Mântua ou “Miguéis de Vasconcelos”, mas sobram “Mercados”, “Troikas” e sobretudo, um brutal endividamento. Na nossa economia doméstica como na economia de um país, se não dispomos de meios e dependemos de terceiros, até podemos dizer que existimos mas nunca poderemos sustentar que somos independentes. Sem pretensões a economista, políti

Feriados, "pontes" e dias de descanso

Empenhados os anéis do novo-riquismo e da falsa abundância das décadas do nosso passado mais recente, de volta à triste e quase eterna condição de pobres, laboriosa tem sido a busca nos últimos tempos, de formas e mecanismos de mais produzir e de maior poupança. Os feriados têm estado no centro deste labor e à quase unanimidade em torno da necessidade de redução do seu número, junta-se o total desacerto quanto aos dias que deverão permanecer ou não como festivos. Sobre este assunto, há uma discussão entre Igreja Católica e Estado, impondo-se mutuamente quotas, num processo que tenho dificuldade em entender à luz da laicidade do Estado. Discute-se nos jornais e discutem os líderes de opinião porque à população em geral importa apenas o número total de dias de descanso e de “pontes”, pouco importando os que ficam e os que vão. Aposto que mais de 80% da população Portuguesa desconhece os motivos que se celebram nos dias feriados. Se nos fixarmos nos quatro feriados que se diz que deix