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A mostrar mensagens de abril, 2016

Lisboa tem um pacto com o tempo e os seus dias são breves instantes da eternidade que a abraça...

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Estou “empoleirado” na grade do Camões que mira o Tejo pela Rua das Flores, e se é um facto que já não vislumbro a Genoveva, finada em tragédias antigas, vejo que em seu lugar o tempo plantou sardinheiras de todas as cores. Lá em baixo o Tejo sobrepõe-se azul ao casario do Cais do Sodré e parece que só o rio importa; a estrada de água que o olhar cruza até ao sul. O pensamento oferece o privilégio de um passeio em companhias eleitas, e por ele desço o Chiado ao ritmo do toque da bengala do João da Ega sobre a calçada desenhada nos passeios da Rua Garrett. Olhamos de relance à direita para o Grémio… Só que não vimos do Tavares e não falamos do Dâmaso ou da Gouvarinho, talvez desçamos apenas para um Pastel de Bacalhau na Rua Augusta, mas só depois do slalom entre a Babel de turistas que os low cost fizeram aterrar esta manhã na Portela. E depois de atravessar o Terreiro e chegar ao Cais das Colunas, eu vejo que dispensei o pensamento e as companhias que ele me traz, por

Os dias bons são estes sonhados por nós...

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Quando o Capitão Maia subiu para o Carmo já os cravos encarnados do Rossio se entrelaçavam nos gritos de liberdade do povo de Lisboa. Os dias bons são estes que fazemos nós, ousando sonhar para lá do tempo triste que nos oferecem como inevitável destino. Estes são os dias que mudam a História. E os punhos que erguemos por entre a brisa fresca da madrugada de um Tejo vestido de Abril, rasgam as dores, as penas e os medos que chorámos pelas margens das ribeiras ou então nas praias que a guerra foi deixando vazias de homens e de pão. O velho tempo já se rendeu ao Capitão Maia… E também já há cravos por toda a cidade. As praças estão cheias de gritos, flores e gente, mas por muitos que sejamos na primavera de Lisboa, nós seremos apenas o detalhe feliz de um povo e de um país inteiro que celebra a liberdade.

E por mais que as nuvens insistam em desenhar monstros à superfície do mar…

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À minha frente, a imensa montanha riscada pelos matizes de verde e pelas hortênsias, denuncia o vulcão por ora adormecido sob o silêncio azul do manto da lagoa. O fogo... a essência de São Miguel. O avião já se faz à pista adornando a descida com uma vénia ao Senhor Santo Cristo no seu altar barroco de basalto e cal. E por mais que as nuvens insistam em desenhar monstros à superfície do mar, eu sei que este Atlântico sob os meus pés preservará sempre a sua essência feita de água e do sal que perfuma, incessante, as manhãs de bruma nas praias destas balsas de terra e fogo, pedaços flutuantes de Portugal. As nuvens, tal como às vezes sobre os nossos dias, incapazes de calarem a essência de poetas de onde se desprendem lendas e detalhes de encantar. Aterrámos finalmente, e a D. Maria, sentada ao meu lado, assinala a travagem com o sinal da cruz, cumprindo no olhar a essência que lhe vem do mar. Só quem não conheça a saudade pode estranhar que se chore assim. Contou-me h

A nossa história esbate o silêncio do branco tom das ondas e das marés...

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A tempestade arranca o barro à montanha tingindo o rio quando se enamora do mar e nele se entrelaça na mais íntima cumplicidade das ondas e da espuma. Naquele instante em que espreitamos desde a nossa varanda, e olhamos as águas indecifráveis no abraço de um querer imenso. Sentimo-nos sempre irmãos desse destino, se tanto e tantas palavras a tormenta ligou à mágoa no decurso dos dias, e somos tudo e muito mais do que nós… ou apenas água, quando chegamos ao instante do enleio a que ousámos chamar o nosso fado, pela força e persistência com que o sonhámos. A nossa história esbate o silêncio do branco tom das ondas e das marés e carrega-nos o infinito na bagagem que levamos pelo mar fora… Quando abandonamos o previsível para nos deixarmos finalmente acontecer.

Enquanto as árvores se vestem e vão adornando aos poucos para a festa que Maio sempre oferece à Primavera...

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Enquanto as árvores se vestem e vão adornando aos poucos para a festa que Maio sempre oferece à Primavera, eu entretenho-me à conversa com o sol do meio dia, tomando-lhe as palavras em verso que depois cantarei por aí à esquina de um tempo qualquer. Os pardais já polvilham o silêncio com o seu chilrear rebelde, e o chão transpira verde a memória das águas que passaram por aqui a caminho da ribeira que por isso explode agora de aromas de poejo e hortelã. Levantei-me cedo, despertei o olhar na fonte fresca da beira do caminho, assobiei os louvores ao campo em rima com os sinos no bater das trindades em salmos informais sem versículos ou forma, e deixei-me ir ficando por aqui, sentado deste lado onde a vida não dói e onde tudo é diferente numa nova perspectiva. Quem ama deixa de ter a noção de que sorri, aqui sentado à conversa... com o sol e com os minutos que passam sentindo a primavera na memória da tua mão perfumada com a Colónia número dois da Claus de ACH Brito. O que

O instante perfeito em que as palavras acrescentam vida à magia dos dias de alguém

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Chamo Maria, mas poderia fazer uso de outro nome qualquer, à menina que há três semanas assistiu em Vila Viçosa à apresentação do meu livro "As bolachas mágicas da avó Inácia", no meio de muitos outros meninos. Inspirada pela história e pelos seus heróis, a Maria levou um livro para casa e pediu à mãe que cedo lhe preparasse as bolachas seguindo as regras que asseguram os seus poderes muito especiais. Depois comeu-as pedindo secretamente ajuda naquilo que mais a preocupava nesta fase dos seus sete anos: a escrita lá na escola não andava a sair muito bem. Numa destas manhãs, a mãe encontrou-a a saltar directamente da cama para a secretária e descobriu-lhe o segredo do pedido às bolachas. A Maria queria confirmar que a magia funcionara durante a noite, e as letras que desenhava com a esferográfica sobre a folha branca de papel, já saiam bem melhores do que as da véspera. E saiam mesmo... Porque quando nós acreditamos muito até aquilo que parece impossível se convert

E então haverá mel colhido pelos meus lábios na fonte do teu sorriso com aromas de açafrão…

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Por muito que Abril insista nas águas mil que lhe oferece a genética, jamais se desmanchará a primavera. E nem sequer será apenas por quaisquer detalhes ou subtilezas que cumpre o calendário... Há um destino inevitável de malmequeres que se pressente intensamente nos campos que por estes dias se espreguiçam verdes enquanto eu passo. Eu sei... Cedo ou tarde chegará o sol para aquecer a erva e nos oferecer um leito informal na sombra que roda levando-nos com ela como que bailando lentamente com o sobreiro. O baile na roda que não desperdiça nem um só segundo de um dia inteiro, quando as nossas mãos deixam de doer de vazias. E então haverá mel colhido pelos meus lábios na fonte do teu sorriso com aromas de açafrão. E as palavras todas que deixarmos entre os trigais contarão a nossa história de amor e serão rubras de liberdade como as papoilas a que Abril liberta as pétalas que o vento desenruga depois pela perseverança das suas carícias. É tão bom poder dizer que gosto