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A mostrar mensagens de agosto, 2016

Os beijos dos amigos são eternos

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O silêncio é o melhor refúgio para espreitar com nitidez todas as lembranças. São nove horas de uma Segunda-feira que vestiu o Tejo de um intenso azul, o instante em que muito provavelmente nos encontraríamos junto ao café: - A Anabela vem hoje muito bonita. - Muito obrigado, mas o Joaquim é um exagerado. - Não sou nada. Os poetas é que não sentem pudor em colocar palavras sobre a verdade. Hoje, aqui na igreja fria, resta-me o silêncio… Conhecemo-nos há oito anos e ficámos a trabalhar lado-a-lado juntamente com o Rui que era bem-disposto e nos fazia rir aos dois. Fomos trabalhando e conversando, descobrindo-nos cúmplices em muita coisa, e sobretudo, nessa forma tão completa de viver o amor pelos nossos pais. E havia sempre uma história bonita da Beatriz, o seu amor maior. - Joaquim, o mundo às vezes parece não nos compreender. - Anabela, o mundo está cheio da banalidade que nunca terá capacidade para entender quem é superior e especial. Às vezes ao fim de sema

Um pão que só o céu sabe amassar…

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Como é possível acreditar que o campo se apaga, se rende inevitavelmente à solidão na praia vazia e aos pés do mar? Não serão as ondas a festa de um abraço eterno que o querer não desafina nunca? As praias eternas, cais moldados pelas milionésimas partículas de um tempo artífice, casas de água que oferecem generosos recantos à alma dos poetas, grutas profundas onde os sentidos se desatam e desatam todos os nós, até mesmo aqueles que escondem as palavras certas. Comparadas com a alma e o pensamento, as gaivotas são na praia quem menos consegue voar. E as ondas da praia são como as tardes improváveis onde o trigo e o sal se abraçam num pão que só o céu sabe amassar.

Os segredos do mar

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O verão existe para revelar os segredos que durante muito tempo o mar tentou guardar só para si. Um esforço inglório, agora que os vejo nítidos e salgados a espreitarem sílaba a sílaba por detrás do meu copo a que alguém ofereceu o tom fresco do vinho branco com um indisfarçável aroma da fruta madura do pomar. Trouxeram um sofá para a praia e eu sento-me, recosto-me; a areia nos pés, uma escada suave de rochas e algas à minha frente. Parava aqui o tempo, travava o sol para que as ondas que sobem timidamente até aqui persistissem cor de fogo a falar-me de um amor que as águas tomaram por reflexo na margem de um rio. As águas que a foz depois perfumou de sal. Porque sempre à tua volta, eu sei que são redondos todos os meus pensamentos. E também sei que os segredos guardados pelo mar não são mais do palavras nossas que o sol destapa ao fim da tarde no despudor que lhe oferece o verão.

Vila Viçosa

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Acaricia-me com as tuas ruas Beija-me doce com a fonte da praça Sossego suave em todas as luas Leito eterno de laranjas que me abraça Sobre almofada em folha de oliveira Entrego então ao céu, fiel, o coração Com o castelo ali junto à cabeceira E uma prece à Virgem da Conceição

Quem nos fez assim sonhava a liberdade...

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Avançaremos juntos pelas tardes longas de domingo: roupa colorida, os anos oitenta a espreitarem pelo cabelo, viola a tiracolo, o riso entrelaçado às palavras, as mãos rebeldes acariciando a giesta ou os medronhos maduros, a fé à solta e livre nos abraços. Somos imortais cruzando as muralhas semeadas pelo tempo e tomando de cada pedra do caminho a esperança que soletra em prece… Ave Maria. Senhora do sorriso, Mestra Mãe da ousadia das nossas madrugadas… Em Vila Viçosa na hora em que o sol se prepara para fugir para lá do Jardim das Damas, a fachada de cal da igreja da Senhora da Conceição incendeia-se de luz, indiferente às sombras que as muralhas e as árvores tentam em vão impor-lhe ali bem dentro do Castelo. Senhora do sol, Senhora de todas as nossas horas… Quem nos fez assim sonhava a liberdade. Somos imortais como a cal que se incendeia nas tardes do sul.

Os amigos são abraços mas daqueles com sofá…

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Os amigos têm o nome desenhado a canela sobre dias de arroz doce, são o primeiro violino num solo feliz a rasgar o palco que parece vazio; os amigos enfeitam-nos todos os minutos com balões acesos e coloridos, e nas ruas por onde andamos, são hortênsias azuis nas varandas de onde melhor se abraça o mar. Têm olhares que nos oferecem sombra no repouso calmo da tempestade que amainaram, enquanto as suas mãos nos beijam com o aroma do mel e o fulgor da água fresca da melhor fonte. Os amigos são o luar que brilha sobre as noites de Janeiro, o sol das tardes de Março que puxam a primavera, os amigos são o café que fumega por sobre a sonolência com que nos descobre a madrugada. São abraços mas daqueles com sofá para que estejamos sempre cómodos e a gosto. Os amigos são a primeira página de um jornal que relata a nossa sorte, são o não ou o sim numa jogada feita para ganhar, são a bênção de limão sobre os instantes que não sabem a nada, o gelo na água assim-assim, os amigos são pal

Ofereço à mão o gesto redondo de uma nova caligrafia...

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Ofereço à mão o gesto redondo de uma nova caligrafia como quem polvilha de açúcar todas as coisas que ousamos dizer. Foi o vento que sob o céu azul de verão desenhou o cavalo de nuvens que me levou a galope até ao sopé da montanha onde repousas à minha espera. Enleámos o desejo, demos às mãos um sentido de carícias e deixámo-nos estar naquele abraço que nunca tem tempo de acabar. A sombra da enorme bétula escondeu por momentos o cavalo que segue feliz a brincar por agora com uma bola gigante que o vento lhe ofereceu. Terei de dizer-lhe que não quero voltar ao silêncio. E as palavras que segredamos um ao outro no exíguo espaço do abraço são um mapa, as coordenadas das nossas vontades, confidências expressas em letras que vou desenhando lentamente dando-lhes na forma a coerência doce da essência... com a minha melhor caligrafia.

Trouxemos o verão para a mesa…

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Trouxemos o verão para a mesa a bordo de um prato de ameixas roxas maduras; dispensámos a tão famosa meteorologia na hora de destapar com engenho o imenso cofre das palavras; fomos apagando o calor em copos de água fresca trazida da fonte… E a vela com aromas de alfazema há muito rasgava a sombra que o ocaso tecera sobre nós, quando auscultamos pelo seu respirar que nem a noite cansa a ribeira que corre aos pés do carvalho onde o melro já se deitou porque muito cedo terá de cantar à madrugada.   Estamos de férias no Gerês, eu e os meus pais, e quem nos vir assim de longe dirá que tirámos quinze dias para nos abraçarmos, rirmos e conversarmos; claro que por entre as cinco tomas de água bicarbonatada a quarenta e nove graus em dose medida em copos que parecem trazidos da “Montanha Mágica”. Quinze dias sem pressas e aparentemente todos iguais. Mas quem é que ousará chamar monótonos aos dias perfeitos onde o amor impera? E a ribeira que nunca se cansa por entre o seu riso d

Nós somos filhos e detalhes do sol...

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Sempre que chegava a primavera e as papoilas tingiam ousadas e rebeldes o chão verde do Alentejo, nunca resistíamos a tomar nas mãos uma cápsula ainda por “rasgar”: - Frade ou freira? E as pétalas amarrotadas no exíguo espaço onde até aí viviam revelavam-se “freira” se tivessem ainda um tom rosado, ou seriam “frade” se de vermelho “explodissem” nas nossas mãos. Havia um vencedor e um derrotado ali algures entre o canto feliz de uma roda, o jogo da macaca, o macaquinho do Chinês, as escondidas, o lencinho, o pilha três… As pétalas ficavam depois a estender-se ao sol da seara enquanto nós crescíamos em liberdade “riscando” as madrugadas com tantas… com todas as nossas cores. “Frade”, “freira”, vermelho, rosa… Pouco importa se havia ou não um vencedor. Estávamos apenas a brincar. O sol quando espreita pelas nuvens faz nascer um arco que não esquece qualquer cor. Nós somos filhos e detalhes do sol. -    

As ruas são instantes que entretêm de luz o olhar…

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Não fosse a cidade já assim perfeita e ter tanto de paraíso, e até poderíamos pensar que o eléctrico que sobe o Calhariz nos “roubava” a Lisboa para voarmos directos ao céu. As ruas são instantes que entretêm de luz o olhar silenciando qualquer dor que insista colar-se aos nossos passos, o Tejo corre azul enfeitando o voo das gaivotas de mar e liberdade, e os sinos que a fé semeou pelas colinas cantam alegres o meio-dia ou oferecem o tom á guitarra que desperta os poetas e os convida a estenderem palavras pelas vielas sob a luz clara com que a lua trai a noite… Lisboa é o céu que nos abraça sem que para tal seja necessário morrer, como tantas vezes por aí se diz. Sim Victor, e talvez haja mesmo um vendedor de fruta com um rosto bonito e a barba bem aparada, por ali a vender morangos no cimo do Calhariz.

Não há dia do qual eu não colha morangos...

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Não há dia do qual eu não colha morangos; doces, pequenos e rubros, cravejados por ali entre os instantes, tal qual as rosas que os beijos descobrem sempre entre os muros e a saudade. Eu não tenho dúvidas de que o tempo é sempre fértil quando o ousamos semear; as mãos na dor rasgando veredas de terra e água, despenteando o deserto. Porque os heróis nunca se sentam. O ribeiro soluça abraçado à hortelã e soletrando poemas ao rouxinol que os canta depois acima no choupal para que o vento os leve, não passando por nós em vão. E o sol conhece-nos de o esperarmos para o beijar incessantemente nas madrugadas todas tomando-lhe a força e a fé. Não há dia do qual eu não colha morangos... E não há minuto que eu deixe sem o toque de magia dos meus lápis de cor, desde o céu até ao rodapé.   

Um Homem feliz na sua versão de açúcar…

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Sento-me numa pedra do caminho que o tempo à chuva se foi entretendo a ornar de musgo, destapo os sentidos tornando-os vulneráveis às palavras, acaricio o ramo seco que o vento tombou e que suspira triste pelo beijo da sua árvore que apenas de longe o abraça de sombra; e são detalhes que me pertencem, todos os traços arrumados em letras que vou rasgando e tatuando sobre o chão de pó dos meus passos. Descubro-me doce nestas manhãs de Agosto que o verão acendeu com o sol intenso que a serra, contrariada, sopra de fresco e verde numa brisa que passa por mim como revelando fugazmente aos ouvidos os segredos guardados na intimidade da Terra. Descubro-me doce… Um Homem feliz na versão de açúcar que vou descobrindo e moldando entre o céu e as pedras do caminho com que a Terra me abraça.   Sentado tranquilo à sombra das árvores.  

A terra é cúmplice do tempo…

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A terra é cúmplice do tempo e às vezes amolece para que eu possa moldá-la e oferecer-lhe o tom que me apraz à alma. Aqueles dias em que parece faltar-nos o chão no deslizar inseguro que qualquer “chuva” deixou; o nada que se sente... É tão mais fácil impor a nossa cor a uma tela despida do que à sobreposição de outros traços que nos são alheios. E com o barro moldo pastores, os magos, a Virgem, São José, e crio um trono para o Menino, Jesus deitado entre pombas que não esvoaçam mas cumprem uma coerência de paz. E com os dias moldo uma escada para a minha mais íntima e profunda fé, às vezes partindo de um ponto que sabe a quase zero.

O imprevisto...

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Gosto muito do imprevisto que carrega cada madrugada; que o previsível é desinteressante e morno, e sem sim nem não, a vida nunca mais dará qualquer passo frente. No varanda manuelina da Torre de Belém namora o rinoceronte com uma gaivota que por ele se apaixonou, ensinando-a a voar pelas histórias das terras de África de onde chegou. Nem só quem tem asas pode voar; há mestres improváveis que andam à solta e disponíveis pelos nossos dias; e o amor rompe sempre tudo aquilo que parece impossível. O imprevisto com gosto bom e a sal. Coleccionarei num mealheiro de porcelana, milhões de histórias que colhi pelas varandas que espreitam o mar e que esperam as palavras para poderem voar.

Se uma só vida...

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Se uma só vida eu tivesse em mim talvez alguém pudesse dar-me um nome. Mas quanto mundo cabe nos sonhos que as minhas palavras vos deixam espreitar. A liberdade... Virão de madrugada todas as gaivotas de Lisboa, e de mim, sim, levarão o céu para revestir a mais perfeita cidade. Tanto azul... Trago comigo no peito e nos sentidos, um rio de beijos de água doce, um rio sem margens. O amor... Quando o vivemos assim com a vida toda, somos tudo, tanto... e são tantos os nomes com que nos poderão baptizar.

O Kimono não faz o Japonês…

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O Kimono não faz o Japonês, tal como nada para além de si próprio consegue cumprir o Homem; mas com dobras e redobras ao jeito daquilo que me impele a vontade, e às vezes até com fortes dores nas “mãos”, eu “teço” o mundo, faço uma casa, abraço-me aos pássaros… e ofereço asas à liberdade num Origami que tem o meu nome. Depois da Cerimónia do Chá talvez dance Yosakoi numa versão moderna do Awa Odori; que vão muito quentes os dias deste Verão.     Ouço Taiko, leio Haruki Murakami: “Escutem, não existe nenhuma guerra que acabe com todas as guerras”. “Kafka à beira-mar” ou apenas detalhes escritos de uma imensa solidão. A paz… Oscilo entre Sushi ou Sashimi mas sempre com Hakumai, que o arroz se quer assim branco e solto, antes do pôr-do-sol e de poemas suspirados ao luar. O sono é a paz que espera a madrugada, porque nós seremos sempre os filhos de um do sol nascente. Reinventamo-nos em cada manhã. O Kimono não faz o Japonês… Mas ajuda qualquer pessoa a inventar e

Desde que em mim persistam os sonhos…

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Desde que em mim persistam os sonhos ninguém nunca conseguirá matar-me. Às vezes reclino a cabeça à sombra das laranjeiras de Vila Viçosa sob as quais brinquei, e sou na face, no gesto e no pensamento, em tudo… muito mais do que apenas eu e a minha idade; sou a voz que persiste, o canto quente, dolente e rubro do sul com que me beijaram os meus avós. Rubro de sol e papoilas na festa do trigo em ondas ao vento nas tardes doces de entre Abril e Maio, de entre liberdade e ousadia. E sobre todos os versos antigos me reinvento em letras e formas de novas canções. Sempre de encontro a mim, reinventando-me e revendo-me no desenho e no travo especial que reveste os dias.   

Guardando o tempo em vinil…

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Fui guardando o tempo em vinil na memória de mil e muitas canções. As palavras recortadas da alma dos poetas e soletradas depois na voz de Brel , Aznavour , Serrat ... e Amália . E quantos olhares teus, e beijos, tenho comigo em baús de lembranças enrolados nessas letras de canções que a rádio tocou de uma forma tão intimamente secreta que até acreditámos que o fazia só para nós. Quando Mercury era o grito e a nossa liberdade, "I want to break free", com toda a legitimidade e fé, porque Jesus, "Mrs. Robinson", ama-nos muito mais do que alguma vez saberemos. E as gaivotas que trazem o céu de Lisboa fazem os problemas parecer tão distantes, "yesterday"... "I can’t get no satisfaction"... sim, mas nem sempre. Há tantos outros dias em que a imaginação se acende enquanto o tempo rola ao mesmo ritmo certo das pedras por uma encosta tingida de musgo e rosmaninho.

O amor é cego…

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O amor é cego da mesma forma que é invisível ao humano olhar, porque aquilo que é da alma não cabe, por ser maior, em qualquer detalhe do universo que se espreite ou que se possa tocar. O amor sente-se, é a própria vida e toda a fé que ela encerra, por entre o patético e incoerente tom do juízo de quem se diz do Céu e da alma mas se fixa “cegamente” na forma e na expressão corporal de um querer imenso que nos faz experimentar a eternidade. Um beijo nunca será o retrato racional dos lábios que se tocam.     O amor não tem género, não tem idade, não tem nome, não tem certo ou errado, não tem fórmula, prazo de validade, o amor não é previsível, pode ser azul, verde, encarnado, qualquer cor… É coisa da alma e verdadeiramente cego, o amor.