Morto nos braços de si mesmo...
Eu nasci para percorrer sozinho todas as cidades do mundo, e no silêncio, rua a rua, vou-me diluindo na imensidão do universo, até à dimensão ínfima que me permite cruzar e entender todos os castelos, até mesmo os da diferença que aparenta ser mais impenetrável e impossível. Em modo pequeno entra-se e entende-se melhor o coração dos outros. Cruzo as ruas de Lyon até à margem do rio Saône e à estátua de um homem que caminha transportando-se a si próprio, morto, nos seus braços. Eu nasci para percorrer sozinho todas as cidades do mundo, e no silêncio, vou sentindo o quanto de mim sobrevive e respira, sentindo ao mesmo tempo o peso daquilo que deixei morrer sem pranto e sem dor, quando me tornei indiferente ao espaço e ao tempo. Quem não se dilui na dimensão do universo, toma o “importante” estatuto de uma montanha de pedra que jamais saberá o que é o amor. E um homem sem amor é um homem que jaz nos braços de si mesmo, mesmo que ainda consiga caminhar.