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A mostrar mensagens de junho, 2014

O tempo e o envelhecer

À minha frente na sala de espera da consulta externa do Hospital da Luz está uma senhora lindíssima sentada numa cadeira de rodas. Não sou muito bom a reconhecer idades mas tenho a certeza de que o Cartão de Cidadã Nacional registará o seu nascimento numa data há mais de oitenta anos. Alguém a transportou e a colocou face a face comigo deixando que os nossos olhares se cruzem e ela acabe até por esboçar um ligeiro sorriso nesse preciso instante. A mesma pessoa a transportará depois para a consulta quando chamarem pelo seu nome. Imagino quantas histórias ela trará consigo “cravejadas” nas pernas já sem força e que impedem que caminhe... Quanta vida lhe trará tingido assim de cinza o cabelo imaculadamente penteado por alguém nesta manhã? E como olhará ela o tempo e o futuro por detrás daquele ser que já não existe de forma autónoma, independente? Que cor terá o ver-se assim envelhecido? Ontem domingo estive com os meus pais em Fátima na celebração da eucaristia no recinto, e

Escravos da regra no silenciar da fé

A vela acesa tem o acrescido benefício de me confortar as mãos na noite fria de Fátima. À minha volta há milhares de outras velas que resgatam rostos anónimos da penumbra da noite, e a vela acesa é assim a expressão de uma fé que nos une a todos. A mim e aos meus pais, ao casal de Irlandeses que desceu connosco no elevador do hotel e que acabou a falar comigo de Temple Bar , do jovem com a camisola da Selecção de Futebol da Colômbia que grita golo no hall do hotel, da mulher que se descalça à minha frente no santuário quando a procissão se prepara para sair, dos dois meninos americanos de riso incontrolável que passam o terço a tirar fotos com o i-pad do pai, dos Chineses que rezam o quinto mistério em Mandarim fazendo com que eu só entenda a palavra “Maria”, das duas mulheres que há minha direita eu percebo que se namoram…. E quantas mais histórias… Ali virado para a Capelinha das Aparições, penso também nos Jordanos com quem me cruzei há dias, ajoelhados nos seus tapetes e v

Os mistérios do amor numa conversa ao fim da tarde

Em Vila Viçosa, às vezes ao fim da tarde e quando o sol insiste em se retirar ali para as bandas da Rua dos Fidalgos, a mesa dos amigos convoca-nos para a esplanada do Café Restauração, sendo a bebida fresca apenas um pretexto, porque o patrocínio da conversa e do riso, é o afecto eterno que nos une. Ontem foi mais uma vez assim e as palavras levaram-nos até aquele momento “pirrónico” em que fui questionado sobre o amor e a paixão, expressos tantas vezes no que eu escrevo. Como então não tive tempo para responder, Manuela, Manuel, Ana Cristina, Joana e Fábio, meus queridos amigos, aqui vai a resposta: Perguntas tu se é uma paixão O que está por detrás dos meus versos E eu digo que não há coração Que não guarde segredos diversos Jamais existirá um poeta Que fale de amor sem o sentir Se é o sol que um dia completa E faz a noite à hora de partir É assim bem fácil saber quem é Que dá ao amor identidade Alguém que estando mesmo aqui ao pé Nos faz até chora

Uma absurda obsessão pela tragédia

Com mais ou menos fundamento, e com mais ou menos influência da nossa História antiga e recente, há em nós Portugueses uma quase absurda obsessão pela tragédia. Não é raro que quando alguém vem ter connosco e desabafa: - Sabes que tive um acidente e parti os dois braços? Nós respondamos: - Tiveste muita sorte… Concluindo logo de seguida: - É que poderias ter morrido. Mas a sorte associada a um acidente e à fractura dos dois braços é algo que efectivamente soa a muito estranho, a não ser para nós que pomos sempre o destino muito para lá da fronteira do jazigo. Agora que a Selecção Nacional de Futebol saiu do Campeonato do Mundo sem grande glória, o coro dos trágicos lá voltou a atacar com argumentos do tipo: - “Pelo menos o Cristiano Ronaldo marcou um golo”; Ou: - “De todas as selecções europeias eliminadas, a nossa foi a que conseguiu maior número de pontos”; Ou ainda: - “Afinal até não foi mau porque só fomos eliminados pela diferença de golos”. Pois foi,

Tu, o teu amor e o quase nada que eu sou…

Há instantes que nos resgatam da mágoa, nos transportam para os sonhos e fazem surgir a melhor versão de nós mesmos por entre sorrisos francos e com raiz na alma. Instantes que são fruto às vezes da aparência de tão pouco; que nunca nada é pouco quando nos torna assim felizes, e até o quase nada multiplicado com o amor resulta sempre no muito e no mais que perfeito. E os bancos de jardim que amparam solidões tornam-se fontes de afecto e de pura paixão… E as ruas, ao jeito da vida, ganham sempre um tom novo e doce quando o nosso olhar toca e beija o sorrir de quem carregamos na alma e nos pensamentos, mesmo que muito secretos. Os mesmos caminhos e a mesma vida, polvilhados de amor e de açúcar como uma imensa e irresistível Bola de Berlim. Esses instantes em que não travamos a vontade, chegam tantas vezes com a luz do fim da tarde, quando os nossos passos alinhados num paralelo desejo acompanham o ocaso por entre as palavras soltas e temperadas de uma indesmentível verdade.

Fraquezas musculares e outras da gente da pobre terra da má sina

Se existe algo de que nunca nos podem acusar é de falta de coerência, e a prestação da Selecção Nacional de Futebol no Campeonato do Mundo do Brasil, é afinal, apenas e só, um detalhe do país que já não põe bandeiras à janela, até porque muitas dessas janelas pertencem a casas entretanto entregues aos bancos por falta de liquidez dos proprietários que assim não conseguem pagar as suas prestações. Na minha urbanização, a Remax e os seus colaboradores em pose de candidatos à Junta de Freguesia, ganham por goleada ao espírito nacionalista da bandeirinha que foi criado há uns anos pelo Brasileiro Scolari. Assim, neste país de Estádios vazios e plantados no terrível silêncio de muitas dívidas, emerge sempre um problema de falta de músculo nas lideranças, e os jogadores a saírem do campo em maca têm claras semelhanças com as “saídas de comícios” de Seguro e Costa em KO’s conseguidos em dias alternados com base em “pontapés” dados mais ou menos à socapa. Nem precisam dos adversários para

São João e um brinde com limonada

A Tia Maria faria hoje 105 anos, e nos 86 em que andou pela Terra nunca se conformou com o seu segundo nome de Teodora, considerando que em homenagem ao santo do dia do seu nascimento, se deveria ter chamado Maria João. Mas nunca se dando por vencida e não aceitando como último destino esta má escolha dos seus padrinhos, tratou sempre de comemorar o seu aniversário em festa de grande louvor ao “Baptista”, não faltando à missa na ermida existente no Carrascal, preparando sofisticadas flores de papel para ajudar a decorar a sua Rua de Santa Luzia, e também com a montagem de uns altares encimados pela imagem de barro pintado que ela tinha todo o ano sobre a cómoda do seu quarto, e que ainda hoje lhe guardamos em nossa casa; altares decorados com as flores dos melhores vasos do quintal. E o quintal era um espaço não muito grande, sombrio e fresco, porque beneficiário da sombra de um velho limoeiro que jamais soube o que era não ter folhas, e que partilhava raízes com os coentros, a ho

O céu que cabe todo no teu olhar

Há muito que ouço trovejar, e por isso não estranho a intensidade dos relâmpagos quando às escuras me aproximo da janela da Cozinha que me oferece vista desafogada até ao Tejo e ao seu irresistível encontro com o mar. É um espectáculo único, este dos raios a tentarem contrariar a noite, iluminando assim intensamente o breu que é costumeiro palco exclusivo para o brilho das estrelas nas suas muito arrumadas e muito bem conhecidas constelações. Um espectáculo ao jeito da melhor sessão de fogo-de-artifício em qualquer romaria, ou então do disparo do flash de uma hipotética câmara fotográfica gigante e com direito a Guiness Book of Records . A noite de verão é denunciada aqui apenas pela temperatura, pois no demais tem tudo de inverno, e até a chuva que não tarda em cair com uma intensidade que faz tremer a vidraça. O prédio já está em silêncio depois daquele “desafio” de gritos, golos e impropérios, patrocinados pela astenia dos jogadores da Selecção Nacional de Futebol, uma apa

Sob o céu perfeito da primeira tarde de verão

O sol rompeu vigorosamente as nuvens, e Lisboa brilha assim sem pudor na primeira tarde de verão, fazendo emergir todos os tons garridos que lhe vestem o casario disposto em socalco pelas sete colinas que namoram irresistivelmente o Tejo. Sinto um indescritível prazer na hora de “aportar”. E uma cidade é muito mais do que apenas um espaço físico, é uma confluência de vontades. Em Lisboa, hoje há balões coloridos no Príncipe Real que se elevam juntamente com o orgulho de quem não se verga perante as convenções e se assume inteiro em todas as suas diferenças. A marcha do orgulho gay irá descer até ao Chiado que já “arde” de turistas de todas as nacionalidades e línguas, prova maior da universalidade da velha Olisipo. Eu deixo o carro no Camões no parque por debaixo da estátua do poeta da “lusitanidade” e de um palco onde uma jovem banda afina uns acordes para começar um concerto rock, e não tarda, descerei a Rua do Carmo a ouvir as palavras de ordem que chegam do Rossio. Os pr

O verão

Com um assinalável rigor astronómico, mas com alguma chuva, o verão chegou hoje pelas 11.51 horas. Há muito o pressentia, pelo ar quente que nos empurra para a melancia fresca e para os gelados; pela colocação do gaspacho e do “salmorejo” como opções a ter em conta na elaboração do menu; pelos dias maiores a convidarem a uma cerveja por entre a conversa ao fim da tarde numa esplanada algures na costa e a olhar o Atlântico; e também pelo esforço titânico de uma colega bem próxima de mim, que há duas semanas só almoça umas bolachas especiais que diz serem um compacto de salmão e outros alimentos, ingerindo simultaneamente litros de uma substância a que chama drenante, determinada que está a objectivamente urinar a parte do corpo que julga estar a mais e que a impede de vestir o fato de banho que seleccionou num catálogo a partir da fotografia de uma manequim que tem algo menos de metade do seu volume corporal. Hoje é o maior dia do ano, pelo tempo disponível de sol, e não pelo conce

Ainda se escrevem cartas de amor…

Meu amor, Num destes dias redesenharemos a lua no exíguo espaço de um abraço, e seguiremos pela noite na rota do seu brilho mais intenso, até aquele instante onde já não entram as palavras, e onde só os olhares conseguem ser fiéis e oferecer verdade a tamanho amor. Aí, entregues os lábios a um longo beijo, e libertas as mãos do férreo peso das Histórias, entrelaçaremos mutuamente os nossos dedos, ao jeito da alma; marcando o ponto zero de um tempo que será o da nossa própria e única História. Eterno: contigo, será o tempo cravejado de poesia. E chegados assim juntos às manhãs de todos os dias, por entre o aroma do café e o conforto de um pão quente com cheiro a lenha de Alentejo, os dois olhando o mar para lá da vidraça que empalidece com o nosso respirar apaixonado; nós galgaremos horizontes como pássaros livres voando por sobre a racional escravidão dos limites. Eu, tu e esse teu olhar irmão do céu que sabe incendiar-me a face do prazer dos mais rubros e intensos sorriso

O Dia de Corpo de Deus

Não sei se têm a noção de que hoje, dia 19 de Junho de 2014, não fora a má gestão e a incompetência de quem nos obrigou a chamar a Troika (e não vou aqui apontar directamente os culpados pois esta discussão acaba sempre ao estilo Madalena Iglésias versus Simone de Oliveira, consoante as simpatias partidárias); mas hoje, dizia, estaríamos a esta hora a regressar a casa depois do gozo de um Feriado Nacional, o Dia de Corpo de Deus. Os católicos talvez tivéssemos ido à missa ou à procissão, e os não praticantes, ateus, agnósticos e afins, talvez tivessem acudido a algum areal da Caparica, já que o dia esteve muito convidativo para uma ida até à beira-mar. Já que nos acusam tantas vezes de memória curta, aqui fica pois esta menção que contraria esse princípio. Eu não me esqueço, porque tenho memória; mas esperteza não devo ter muita pois não entendo a importância estratégica de tornar laboráveis estes dias que há muito eram festivos e de descanso. E juro, não cheguei hoje a casa c

A nossa terra

Tudo na vida é relativo, e por isso não estranhei que o motorista de táxi que me levou esta manhã do hotel em Ponta Delgada até ao aeroporto, ao saber que eu ia apanhar um avião para a Terceira e não para o continente, me tenha comentado: - Então o senhor ainda vai até às ilhas. Num processo em cadeia que vai no sentido do maior para o mais pequeno, o território onde se habita é assim uma espécie de “continente”, e os que se lhe seguem são as ilhas. E para as ilhas ia também o jovem jogador de uma equipa de futebol da Madalena do Pico, que regressando a casa vindo de Boston, se encontra atrás de mim na fila para o controlo de segurança, a carpir as mágoas junto dos seus colegas, não se conformando com o regresso à terra “onde nada acontece e a noite é para dormir”. Sentirá já saudades dos bares que frequentou na terra do Cheers, “aquele bar”. Na ilha Terceira vive também a rapariga que me serve um café pela hora do almoço na pastelaria em frente à Sé, e que nem de propósito

Os caçadores de piolhos

Um dos desportos mais em voga é a caça ao piolho, designação que eu atribuo aquele hábito tão lusitano e com raízes na inveja pura e dura, de conseguir descobrir algo menos positivo, um “piolho”, por entre uma amálgama infinita de excelentes atributos; dando então de seguida um desmesuradíssimo destaque a esse pequeníssimo detalhe que passa a ser o núcleo de qualquer apreciação. Um exemplo: - O Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo. - Sim…mas já viste como a irmã é pirosa? Outro: - O Jorge Jesus foi campeão pelo Benfica. - Sim filho… mas a mascar pastilha daquela maneira… E ainda outro: - A Ana Moura tem uma voz fantástica. - Sim… mas aquele vestido semi-transparente do concerto do Coliseu… Como se a forma de mascar pastilha ou a existência de uma irmã “pimba” fossem essenciais para ganhar jogos de futebol ou um vestido fosse fundamental para se afinar um fado. Nesta caça, tal como em todas as outras, há também aqueles que regressam sem peças conseguidas,

A verdadeira história do Tó Zé e da Fátinha

Nos tempos longos de viagem pelo deserto da Jordânia nas férias da semana passada, foi nascendo uma história cuja semelhança com quaisquer personagens reais, a existir, será pura coincidência. O nosso grupo de quatro, habitando no T0 na traseira do autocarro, deu assim argumento a esta história que bem poderia resumir os quatrocentos e noventa episódios de uma telenovela da TVI. Eu limitei-me a fazer as rimas. Divirtam-se e não pensem mais em futebol. Uma história de encantar Que do amor não prescinde O Tó Zé de Gondomar E a Fátinha de Ermesinde Estilo estranho beto rural Sempre, sempre numa boa Assim entre o "Pão sem sal" E a "kitada" Ana Malhoa Roupa três números abaixo Para ficar apertadinha Não se come nada do tacho Só se ingere uma frutinha E assim com grande astenia São gente de poucas falas Com muito pouca alegria A arrastarem grandes malas A Fátinha já mexeu na boca Que aquilo tresanda a bótox Os dentes

A insustentável “beleza” do ser

Ter o atraso de uma hora no voo que me levará do Aeroporto de Lisboa até Ponta Delgada, e partilhar a Sala de Embarque com uma "multidão" de Portugueses que vai de férias para Cancun, deixa-me na dúvida se estarei na fila do casting para as novas divas do Finalmente Club ou então no desfile das novas atracções para o Carnaval de Torres Vedras. Cada modelo é pior do que o anterior, e ao meu lado está uma que terá um metro e meio, mas que jurou a ela própria que um dia teria a altura da Claudia Schiffer. Com um vestido comprido colado ao corpo e uns sapatos que lhe exigiriam aulas de circo no Chapitô , a criatura desloca-se com a classe de uma pata choca e a desenvoltura de uma lesma. Surreal. Vendo esta performance das Portuguesas, as Brasileiras que não são de se ficar e vão em passo apressado para o seu voo numa porta mais à frente, começam instintivamente uma guerra ao estilo "Noite de Nomeações na Casa dos Segredos" com as pontuações a serem inversamen

O Chiado nunca falha…

Para quem chega a Lisboa depois de uma semana na Jordânia e carrega em si esse tão legítimo e luso sindroma de privação de uma Bica e um Pastel de Nata, nada melhor do que esquecer o cansaço da viagem, e, depois de ter devolvido a roupa pejada de sal do Mar Morto à neutralidade da água que passa pela Máquina de Lavar, ir até ao Chiado, cumprindo esse “divino” prazer tão queirosiano e terapêutico no que à cura das saudades diz respeito. Assim fiz ontem pela tarde, e com dúvidas sobre se o calor do deserto tinha ficado apaixonado por mim e me tinha seguido até casa. Entre turistas alucinados com a temperatura e a oportunidade de muitas compras, e enquanto eu imitava os passos do Carlos da Maia e do João da Ega, o Chiado permitiu cumprir mais uma vez esse prazer de nunca deixar de encontrar alguém conhecido e dar dois dedos de conversa. Conhecemo-nos há mais de quarenta anos, fomos colegas de escola até ao 12º ano e eu não a via há cerca de duas décadas. Eu a descer e ela a subir

Deus, pedras, guerras e esperança

Jordânia. O sol queima-nos os passos e o olhar sempre que nos fazemos ao caminho ladeados por uma terra árida e semeada apenas de infinitas pedras, uma terra onde até os espantalhos são feitos de muitas pedras sobrepostas umas nas outras num estranho equilibrio. E cada pedra que pisamos, tem um nome e guarda um detalhe na longa História do Homem e da sua fé. A fé que hoje brota dos homens ajoelhados na berma da estrada orando ao seu Deus; no adeus acenado das crianças que sorriem sempre quando passamos; e também nas casas sempre incompletas, expondo nos telhados, os alicerces para novos pisos que surgirão em épocas que se esperam de mais abundância. Mas a fé esmorece na subalternização e na escravidão das mulheres que são obrigadas a esconder o seu rosto e a sua identidade, sendo sombras negras que deslizam por entre o machismo doentio e brutal destes homens armados num absurdo “Deus Juiz”. Um Deus transformado convenientemente em móbil de uma guerra permanente designada “sa

Aquele abraço com gosto a céu

Na Lisboa de 2014 talvez seja difícil de acreditar que algures pelo inicio dos anos setenta do século passado, e estando eu a passar alguns dias em casa dos meus tios, me levaram de metropolitano até à estação do Parque para que eu pudesse ver e experimentar umas escadas rolantes. As escadas rolantes a terem estatuto de estrela equiparável à Feira Popular ou ao Jardim Zoológico. Senti-me então um herói a voar para o céu enquanto “mergulhava” naquelas estruturas metálicas que pareciam não ter fim, sempre por entre o ruído dos adultos, que ao estilo de coro de tragédia Grega, descreviam ao detalhe todos os mitos urbanos, como aquele da mulher que ficou sem coro cabeludo e morreu porque deixou que os seus longuíssimos cabelos se enrolassem nas escadas. E o perigo a aumentar ainda mais a minha adrenalina e a dar um toque radical ao meu “baptismo” de escadas rolantes. Estavas junto a mim quando ontem me recordei desta história, os dois muito próximos da estação do Parque. Na esqu