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A mostrar mensagens de abril, 2011

A liberdade está a passar por aqui

À já clássica pergunta: - Onde estavas no 25 de Abril de 1974? Terei de responder: - A frequentar a 2ª classe na Escola Masculina de Vila Viçosa. Apesar dos meus sete anos de idade, recordo-me bem dessa 5ª feira de tempo chuvoso, vindo-me logo à ideia a inquietação sentida nos adultos que me cercavam, pela escassez de informação que ia chegando à nossa terra, a duzentos quilómetros do epicentro da revolução. Cedo me apercebi de que algo importante se passava porque a vida mudou a partir desse dia, fazendo com que a previsibilidade do tempo antigo se transformasse num tempo de coisas novas e diferentes. Passei a ver cartazes coloridos espalhados pela vila, as pessoas passaram a manifestar-se e a gritar palavras de ordem, lutando por tudo aquilo em que acreditavam e repudiando o que de todo não queriam. Liberdade, povo unido, vitória e igualdade, passaram a fazer parte do vocabulário do dia-a-dia. Passei a ouvir falar de política e passei a ouvir confrontar ideias, porque todos, mesmo to

De novos ricos a velhos pobres, ou o destino de Portugal.

Recordo-me bem de 1984. O FMI andava por cá, havia manifestações constantes repletas de bandeiras negras, gritava-se fome nas ruas de Lisboa, havia uma taxa elevadíssima de desemprego, em cada canto só se ouvia falar de crise e até o Herman no Tal Canal, apresentava a moda crise feita de jornais ou tapetes transformados em roupa, parodiando ao mesmo tempo uma Filipa Vacondeus, cozinheira mestra na arte de aproveitar as sobras. Depois de uma maioria de direita (AD) e de uma gorda maioria do centro (Bloco Central PS e PSD), a política vivia também de crise e de indefinição. Vivíamos na esperança de entrar na “Europa”, leia-se CEE, o que veio a acontecer logo ali, em 1986. E veio então o dinheiro e entrou-se na cultura do subsídio, indutora da doce ilusão da riqueza que conduziram sem grande resistência aos tiques e aos hábitos pérfidos do novo-riquismo. Tornámo-nos importantes. Deixámos de alugar casa para viver porque em cada um de nós nasceu alma de proprietário e com os bancos a incen

Monte do Zambujeiro

Encontrei-o por acaso, ao virar da esquina na Internet. A poucos quilómetros a sul de Vila Nova de Milfontes, os 3 últimos percorridos em estrada de terra batida, num anfiteatro de vistas privilegiadas para o Rio Mira, está o local ideal para fazer a terapia da alma, tal o conforto dado ao corpo e o requinte da festa proporcionada aos sentidos. Repousamos a vista no horizonte verde da planície, inspiramos os perfumes da primavera alentejana, tacteamos de esteva em esteva até encontrar o caminho para o rio e nos deixarmos embalar pelo som do suave correr das águas, provamos o pão único e quente pela manhã, e não há sentido nenhum posto à parte por aqui. Nem um sexto se descura, porque é constante o intuir que ali mesmo, a curto espaço atrás de nós, está o Atlântico. E a magia talvez nasça do facto de estarmos exactamente nesta zona mista, neste ponto de encontro em que o imenso mar se entrega à terra e passa o testemunho às espigas para que embaladas pelo vento, prologuem horizonte fora

O Jorge, o José e a Arte da Pantomina

Aquecem os dias trazendo a Abril um inesperado verão, e também vão quentes as lutas e as campanhas pelo sucesso, quer falemos de taças ou “tachos”. O Jorge é há muito presidente de um clube de futebol e é nas últimas três décadas, o ícone maior do designado Futebol Português, instituição que apesar de algum sucesso internacional, associamos sobretudo a casos de arbitragem, corrupção, negócios estranhos, actividades ilícitas, etc. À frente do seu clube, a motivação e a agregação da sua massa de adeptos fá-las com base na existência de dois inimigos: o sul e o maior e mais representativo clube nacional, eleito seu directo rival. Esta perseguição é de tal forma que depois de D. Afonso III ter definido o que são hoje e desde há oito séculos, os limites de Portugal, se trata por certo do maior agente desagregador da unidade nacional. Instiga ódios, incentiva à violência e é incapaz de afirmar a superioridade do seu clube pela positiva, fazendo-o sempre pela destruição e a agressão ao rival

Nobre, Povo? ou Presidente?

Três meses após ter disputado as eleições presidenciais afirmando-se como ícone da cidadania e acima dos partidos políticos, Fernando Nobre aceitou ser cabeça de lista do PSD pelo círculo eleitoral de Lisboa, com o rótulo de candidato a presidente da Assembleia da República, não se assumindo como candidato a deputado do PSD. A cidadania, comprova-se mais uma vez, não é mais do que um argumento de marketing político tendo em vista o sucesso e a chegada ao poder. Foi assim no passado com Helena Roseta, cabeça de lista de um grupo independente na corrida à Câmara Municipal de Lisboa, e hoje transformada em parceira de António Costa. E foi assim com Manuel Alegre quando após ter mais de um milhão de votos nas presidenciais de 2006, tudo fez para ter sucesso nas de 2011, tendo vendido a alma a dois partidos tão opostos que acabou por criar uma explosão de efeitos negativos. Fernando Nobre, escolhe agora uma via “contra-natura” para chegar ao poder pois estou certo, a sua base de apoio nas p

Açorda a maravilha!

Na onda da definição das 7 maravilhas de tudo um pouco, chegou este ano a hora de estabelecer as da gastronomia Portuguesa, o que após um longo período de votação, será comunicado em Santarém (a terra do Festival de Gastronomia) no próximo mês de Setembro. Foi definida uma lista de 70 pratos divididos por 7 categorias, de onde sairão os vencedores, um por categoria. Realço o facto de o Alentejo ser a região com mais pratos nomeados, nada mais do que 12 (e vão ver que ainda cá faltam muitos), só não estando representado na secção dos mariscos. Eis a lista: ENTRADAS: Alheira de Mirandela, Bôla de Lamego, Bolo do Caco, Lapas da Madeira, Espargos com Ovos, Muxama de Atum, Pastel de Bacalhau, Pézinhos de Coentrada, Presunto de Barrancos, Queijo Serra da Estrela. SOPAS: Açorda à Alentejana, Caldo de Cascas, Caldo Verde, Canja de Borrego, Gaspacho com Carapaus Fritos, Sopa da Pedra, Sopa de Cação, Sopa de Castanhas, Sopa de Peixe da Figueira, Sopas do Espírito Santo. PEIXE: Açorda de Bacalhau

Crónica de uma morte anunciada

Com o ar grave que a situação impunha, o primeiro-ministro acabou de anunciar que Portugal solicitou auxilio à União Europeia para fazer face à muito séria crise financeira que atravessa. Fê-lo na mesma sala onde há dois dias, em entrevista à RTP, negou que o fosse fazer, fê-lo com a desfaçatez habitual que o caracteriza, empurrando a responsabilidade para cima de terceiros e auto elogiando a sua heroicidade solitária na luta para evitar o que anunciava. Fê-lo como sempre, com maior preocupação com a pose do que com o conteúdo, com alguns canais de televisão a denunciarem-no colocando-o no ar durante os ensaios com o teleponto, a sua muleta de actor à qual se socorre para nunca nos falar olhos nos olhos. Todos sabíamos que iríamos chegar aqui, e Sócrates também desde há muito. Por isso não quis “morrer” sozinho, fazendo do PEC IV e de todos os contornos do seu anúncio que tornaram inevitável o seu chumbo pela oposição, a bóia de salvação à qual se agarrará durante toda a próxima campan

Se um diz “Mata”, outro diz “esfola”!

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Nas lembranças da minha infância guardarei para sempre os espaços que foram cenário desses dias felizes, porque é impossível dissociá-los do tempo e sobretudo das pessoas que os tornaram assim tão especiais. Era um tempo em que tínhamos mais tempo para passear, para estar uns com os outros porque sem computador e sem uma infinidade de canais de televisão, a rua era o melhor local para se estar bem, e os amigos a melhor companhia. Como vivia à altura na Rua Gomes Jardim (Rua do Hospital) tinha o privilégio de ter duas opções de luxo como espaços de brincadeira: se subia a rua tinha a Praça e se a descia tinha o Rossio e a Mata. Na Praça brincava às escondidas, na placa central entre a fonte e o monumento ao Henrique Pousão. Havia umas árvores grandes e a maior era mesmo a primeira do lado direito de quem sobe, que por ter encostado ao seu tronco o cartaz do cinema, era aquela onde nos apoiávamos para fechar os olhos e fazer a contagem que permitia que os outros se escondessem por entre

A arte do simples

O arquitecto Souto Moura recebeu o Prémio Pritzker que está para a arquitectura como o Nobel para a literatura, para a medicina ou para a economia. Depois de Siza Vieira em 1992 torna-se assim o segundo Português a ter o seu nome na lista restrita de vencedores. Sou desde sempre um admirador confesso da obra de Souto Moura e o que mais admiro nesta obra é a forma como se chega ao requinte da arte num ponto muito elevado, sempre partindo das linhas e traços mais simples. O estádio de Braga espantou o mundo durante o Euro 2004 e não foi só pelo enquadramento magnífico numa antiga pedreira, foi pela elegância das suas formas que dissecadas ao detalhe nos permitem chegar às linhas e formas geométricas mais elementares. A mais recente Casa das Histórias da Paula Rego, em Cascais, permite-nos antever logo à partida o mundo de sonho e de fantasia para a qual nos transporta a obra da pintora. Souto Moura coloca aqui a arquitectura como expressão de uma leitura atenta e sofisticada feita por si

O dia das mentiras ou o dia do fim das ditas

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Não ouso chamar-lhe casamento, matrimónio, boda ou outras palavras sinónimas, porque de todo quero ofender os proprietários, os detentores da patente de semelhantes conceitos. Longe de mim beliscar as instituições de âmbito social ou religioso que se afirmam as legítimas donas deste passo avante para a constituição de uma família. Deixem então que lhe chame uma reunião dos amigos e da família para celebrar o amor e para afirmar à sociedade civil, que pela força desse mesmo amor, há duas vidas que, entrelaçadas numa partilha profunda, se vão unir numa só vida, solicitando a essa mesma sociedade civil que reconheça esse acto de entrega e compromisso. Em minha opinião, não há nenhum cidadão à superfície do globo que não tenha o direito de fazer esta celebração, e hoje, dia 1 de Abril de 2011, é isso que vão fazer o José e o Rámon, dois amigos meus que há alguns anos conheci em Sevilha. Assumindo a verdade das suas vidas, encontraram-se e encontraram o amor que os une numa mesma casa há ce