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A mostrar mensagens de fevereiro, 2013

Um Fevereiro tão breve...

De intensidade de viver se escreve o tempo, e também os Homens, cuja grandeza jamais estará à mercê da banalidade avaliável pelas tão racionais métricas que se debruçam sobre a quantidade. Não interessa quanto se vive, mas sim o que se vive e como se vive. E assim, Fevereiro tem tudo para ser o maior mês deste ano e quiçá de todos os anos das nossas vidas… Pela força das palavras que transpiram a melhor poesia da alma, pelas cumplicidades ao luar, sorria ou chore a lua seguindo-nos o rasto do sentir, pelo conforto dos olhares partilhados, esses olhares que sorriem com a verdade que os lábios por vezes não sabem ter, pelos silêncios que os olhos enchem de palavras, pelas mãos dadas ao alento e ao alívio de todos os caminhos, pelos beijos com ou sem lábios, pelos infinitos abraços, pela música, o fado, a guitarra, a desafinação, pelo amor, pelo riso, pelas lágrimas travadas ou não por beijos, pelas rosas, pelas esperas que morrem sempre nos encontros, pelos golos do Benfica, pelo

A minha geração

Quando era inverno juntávamo-nos na cavalariça do lado direito, na posição de quem entra ao portão principal do nosso improvisado mas eterno liceu. Era um longuíssimo espaço rectangular que abordávamos por uma entrada situada num dos topos e que mantinha as manjedouras em ambos os lados. Apesar do balcão e do bar, este espaço era o que menos conseguia camuflar as funções iniciais do edifício, construído para albergar os equídeos “motores” das viaturas que serviam os Senhores Duques de Bragança. Colocávamos em círculo, as cadeiras de plástico de cor laranja e pés de metal preto, e planeávamos juntos, um incrível futuro. Quando a primavera eliminava as nuvens, permitindo que o sol do Alentejo brilhasse e colocasse a descoberto os perfeitos aromas do campo, passávamos por vezes o portão da Tapada Real e buscávamos a Fonte dos Castanheiros para ali podermos planear esse futuro, inspirados pelo odor a poejo e hortelã que nos era oferecido pelas margens das ribeiras onde nos sentávamos

Vergonha e revolta por sob o luar de Lisboa

No horizonte, o sol já desapareceu há um par de horas, deixando-nos esse breu, marca da noite, onde emerge o infinito ponteado das estrelas agrupadas em constelações, e a lua, que por estes dias, cheia e redonda, se oferece generosa às mais doces cumplicidades. Soam carros ao longe, e só eles e os nossos passos, quebram o silêncio que o frio impôs às ruas, empurrando a gente para a quietude dos seus lares, confortáveis abrigos devidamente aquecidos. É hora do jantar. E jantar buscará por certo, e quiçá em vão, o homem a quem a necessidade e o desespero empurraram para o intenso vasculhar dos contentores de lixo dispostos num semi-círculo. Metodicamente e sem nunca deixar cair algo de cada contentor, abre saco a saco, colocando o resultado da sua recolha num outro saco de plástico que lhe pende do braço. A necessidade matou-lhe a vergonha de ir procurar a comida no lixo e, vergonha de tudo, mas sobretudo de mim próprio, é o que eu sinto quando cruzo o meu com o seu olhar e o

Transumância

Quando rumo ao sul deixamos a Estrela, cedo e aos primeiros passos do caminho, percebemos a sarracena pertinência de chamar Refúgio, Guardunha , ou para nós, Gardunha, à montanha que se impõe ao nosso olhar, gozo sublime e privilégio único do caminhante. E se por estes dias de inverno, altiva, a Torre exibe a neve, deixai vir a primavera, e toda a encosta da Gardunha que a mira buscando o norte, sem rival, de branco se vestirá na imponência da flor dos imensos cerejais que Maio, o maduro Maio, pintará de um encarnado tom de fruto. Busco Alpedrinha mas a surpresa revelada por cada curva do caminho, revelação feita de fontes, árvores e granito, justifica este impulso que me obriga a parar. A água escorre encosta abaixo, sangue da montanha por veias e artérias feitas de pedra, terra, plantas, musgos, líquenes…, festa das infinitas cores do campo para as quais a palavra é impotente na hora de buscar definição. E o som da água rima com o registo das lendas gravadas no granito e qu

Heranças

Por mais que o tempo voe e por mais vida que passe, guardarei para sempre em mim a esperança e a preserverança de uma sementeira de trigo que as chuvas de inverno fazem seara, e pelo pisar de um campo já ceifado, em horas de sol de estio, saberei que é calor, essa brasa que tem infinitos tons de amarelo e laranja num horizonte que parece não ter fim, e tem ares de fogo. A frequência do meu coração vive ao ritmo da roupa, quase sempre branca, batida contra a pedra dos ribeiros, na arte das mãos mestras das minha avós, nessa magia de saber roubar ao campo, os aromas de poejo e esteva. E de poejos, coentros, hortelã, alabaças, beldroegas, em sopas ou açordas, sempre com o pão amassado pela avó Natividade, se me fará sempre o paladar, ideal gosto e supremo prazer, regado a água das fontes bebida pela cortiça de um “coxo” recentemente roubado ao tronco de um imponente sobreiro. E o vento? Eterno será para mim o voo a ritmos diferentes das azeitonas e das folhas das oliveiras, nesse la

Os filhos tristes dos palhaços

No Largo do Rossio, em Vila Viçosa, mesmo ao fundo da minha eterna Rua de Três, as caravanas ao redor de uma colorida tenda, rompiam por vezes a previsível pacatez do espaço onde só nas manhãs das Quartas-feiras havia mercado e nos dias 29 de Janeiro, Maio e Agosto, as feiras anuais. Com melhor ou pior qualidade, passámos a ter uma animada banda sonora feita dos êxitos do momento, e tínhamos por dias, a estranha vizinhança de gente de quem, ao contrário dos demais, não conhecíamos nem o nome, nem a história. Era a chegada do circo. Nesses dias em que um carro com megafones apregoava ruas fora, leões, crocodilos, serpentes, palhaços, malabaristas, mágicos, trapezistas, contorcionistas… e a incontornável sessão de “grátis às damas”, apareciam sempre na nossa sala de aula, uns meninos diferentes, invariavelmente acompanhados por umas folhas de papel, e que se sentavam naqueles lugares que nas carteiras de madeira onde nos alinhávamos a par, permaneciam vazios durante o resto do an

Os Anjos acabam sempre por ir morar no Céu

Não me recordo exactamente da data mas sei que foi algures num final de tarde de Abril de 2005. Eu estava a trabalhar num congresso no Porto e terei manifestado um entusiasmo tal pela presença da fadista Kátia Guerreiro na cerimónia de abertura do congresso, que uma colega que me acompanhava e que jamais tinha ouvido falar da fadista e muito menos alguma vez se tinha disposto a ouvir fado, por curiosidade, me acompanhou e sentou-se junto a mim na última fila da enorme sala já repleta de gente. Acreditei que ela aguentaria o primeiro fado e de que ao segundo inventaria uma desculpa e sairia da sala. Vi-a sorrir aos primeiros acordes da guitarra Portuguesa tocada pelo Paulo Valentim, e ao segundo fado… “Prendo o mundo nos meus braços Quando me abraças nos teus E por momentos escassos A terra dá-nos os céus.” Não saiu. Segredou-me ao ouvido: - Fantástico. Deixámo-nos ficar na cumplicidade dos sorrisos, dos olhares e da comoção, no ambiente de silêncio que a alma nos imp

Aquele dia em que eu comecei a morrer

Diz-se em Vila Viçosa que pela noite, as corujas abandonam as torres do Castelo, do Palácio ou das dezenas de igrejas e conventos, para vir pousar e piar nos nossos telhados e chaminés, sempre que a morte de alguém próximo, está para acontecer. O mau agoiro chega assim a voar por cima das nossas cabeças, mas pode chegar também pelo pontapear das latas contra as pedras da calçada ou quando se mantêm as pernas cruzadas sempre que os sinos dobram. Superstições à parte, a morte nos dias da minha infância tinha o ruído de um carro de mão com roda de ferro a rolar sobre o granito dos paralelos da rua, transportando uma urna a céu aberto que acabava sempre no domicílio do defunto, lugar onde invariavelmente era feito o velório. Desmanchavam-se quartos e salas, importavam-se cadeiras das casas da vizinhança, cobriam-se os espelhos, mantinham-se abertas as portas da rua para que entrasse uma “multidão” de gente vestida de escuro, e havia sempre essa recomendação de silêncio para as noss

Os passeios de um Flâneur

Há domingos assim, dias em que o sol apenas se pressente na ténue luz filtrada na imensidão das nuvens muito densas, que não nos deixam ver muito para lá, no horizonte. Dias em que a chuva, arrastada e ao ritmo irregular do vento, bate sem compasso na vidraça, abafando sem piedade o chilrear dos pássaros que há dias recomeçou, indicio de primavera, numa pequena árvore aqui mesmo por debaixo da minha janela. Há dias assim, nascidos apenas para nos devolver a nós. Não liguei a televisão. Não estou predisposto para a selecção no menu de imagens e de sons que as centenas de canais prepararam para me oferecer. Ouço António Zambujo, por imposição da alma. Na voz carregada da dolência do Alentejo que nos une, e pela doçura tão latina importada dos sons de terras quentes, as palavras dos poetas levam-me sem hesitações para onde eu quero ir… E embalado pela rima de João Monge, insisto em voltar várias vezes à “Casa Fechada”: “aquela casa fechada onde o sol tinha a morada e entrava sem

Quando a lua sorri…

Por sob o intenso luar, há uma especial nobreza que se prova quando os olhos se entregam ao casario do Camões, ali ao redor da praça do Poeta, onde o quiosque iluminado nos chama ao calor de uma ginjinha, com ou sem elas, porque nobre, mas sempre com marca de povo, é esta Lisboa tornada eterna pelo querer do coração de quem a vive. E em Lisboa impõe-se o Tejo, que no passo de quem deixa o Chiado, se revela ao fundo da Rua do Alecrim. E, porque a noite lhe roubou o brilho azul, pressente-se o rio apenas pela dolência da luz móvel de um cacilheiro que busca o sul. No campanário do Loreto, um sino assinala as horas, repica a fé e marca o compasso de uma multidão que não resiste e se entrega à inevitável sina de Lisboa: o fado e a viela. Soam os acordes da guitarra que pronto arrancam da alma a voz, e é de destino, o canto em tom sofrido de uma mulher que para nós passantes, não tem rosto, mas que a voz revela ser tão eterna quanto a sua, quanto a nossa cidade. É Fevereiro, sob a

Meteoritos, asteróides, magia negra e coisas de Homens

Um asteróide que hoje entre o fim da tarde e o principio da noite passará muito próximo da Terra, um meteorito que caiu na Rússia, nos Montes Urais, ferindo centenas de pessoas, um raio que durante uma violenta trovoada atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano, em Roma, horas depois do Papa Bento XVI ter anunciado uma quase inédita resignação, hóstias roubadas dos sacrários em igrejas da Diocese de Bragança para utilização em ritos algo estranhos... Tivesse eu uma inclinação para interpretações metafísicas e hoje durante o meu vício diário de acompanhar o pequeno-almoço com as notícias da manhã e a revista de imprensa nacional, e rapidamente, quão Gonçalo Anes Bandarra do Século XXI, aqui estaria, à semelhança do sapateiro de Trancoso no Século XVI, a emitir as minhas profecias, reconhecendo que as bruxas reunidas algures no Nordeste Transmontano estariam alinhadas com os mais estranhos e ocultos poderes do universo, no patrocínio a uma tempestade cósmica com claros si

Amor

A saudade tem o teu nome, e pela força de te querer, resgato-te dos sonhos, e a lembranças, te faço presente em cada segundo do meu ser. E doces são as memórias dos beijos, aqueles que jamais te dei e que a paixão inventou com gosto a urze e giesta, a campo, vivos sobressaltos, imparáveis impulsos semelhantes aos da água que pelas encostas escorre para nos vir alimentar as fontes. Estendo as mãos buscando as tuas, gesto da alma, ansiado granito que pedra a pedra alimenta a fortaleza que o meu desejo impõe à vontade de te guardar em mim. Por ti e para ti, sou guarda-mor dos abraços, castelão dos desejos na salvaguarda do prazer maior. Anseio o infinito dos teus olhos entregues aos meus, nesse estranho cativeiro de ser teu, e só assim, me tornar herói e pássaro em pleno e doce voo da mais pura liberdade. A liberdade nascida da suprema vontade de ser eu. Brotam de mim palavras que não têm fim, nessa ansiada partilha que alimenta cumplicidades e cria indestrutíveis raízes. E

Cinzas

Morreram as palavras, e jazem agora inertes no silêncio da laje arrefecida pela ausência. Fogo apagado. Restos, pó, memórias vulneráveis ao tempo. Ao tempo, vento, sibilina e imparável brisa que insiste em apagar lembranças e abafar a ressonância, o eco do tanto dizer sem letras que o teu olhar gritou ao meu ao ritmo do intenso crepitar da lenha. Sentado, e aquecido agora apenas pelos sonhos, olho o infinito sem vontade de ver, entregue que está o pensamento à empenhada e incessante luta de te guardar em mim. A ressurreição da minha vontade no panteão das noites que já não trazem o acender nervoso dos cigarros que breves, fazes passar pelos teus lábios que esboçam mágicos sorrisos. E das cinzas? Quiçá um dia nasçam rosas, nesse canteiro tecido a granito e adornado a musgo e trevos, de onde se avistam castanheiros e carvalhos, árvores da primavera e de todo o ano, fiéis companheiras dos nossos tão desejados e perfeitos passeios pelo campo.

O pecado do Entrudo

Eu, traidor das Finanças Públicas da nação Portuguesa me confesso: hoje, dia de Entrudo, não fui trabalhar. E foi carregando a culpa, por via da consciência do impacto altamente negativo desta minha atitude sobre o Produto Interno Bruto, que me levantei e me dispus a enfrentar um dia que amanheceu demasiado cinzento. Depois de ter dormido até mais tarde, num acto inaceitável de “rebeldia contributiva”, com um longo café na mão, ligo a televisão e apercebo-me de que todos os canais estão focados no Carnaval colocando imagens dos corsos que saíram e vão sair à rua por todo o país. Salvo raríssimas excepções, visão do inferno mais dantesca que o dito do escritor Florentino. Por mais que se esforcem em explicações, jamais conseguirei entender o que move as mulheres Portugueses a sacudirem as lusas celulites alimentadas a leitão, farinheira e pastéis de nata, ao som do samba, e com pele de galinha, debaixo desse “calor abrasador” proporcionado pelos oito graus centígrados da Mealh

Renúncia

Sendo católico, nunca nutri uma particular simpatia pelo Papa Bento XVI. Para lá das grandes e objectivas divergências de opinião ao nível, sobretudo, da Doutrina Social da Igreja, reconheço que o seu todo germânico jamais facilitaria uma sucessão com pelo menos igual carisma, ao longo pontificado de João Paulo II, durante o qual, ele, o Cardeal Ratzinger, se foi afirmando como um pragmático pilar do conservadorismo e obstáculo à renovação da própria Igreja. Recordo-me da tarde da sua eleição e de como saíram defraudadas as minhas expectativas, e de um grupo de amigos que me acompanhava, pois esperávamos que do conclave saísse fumo branco para um Papa com instintos renovadores mais activos. O seu pontificado de quase oito anos confirmou mais teologia do que acção social e mais continuidade do que renovação, nunca ninguém deixando de considerar que nos encontrávamos num discreto e morno período de transição para um momento muito mais marcante que chegaria um dia pelas mãos de ou

É carnaval

Não seria necessário ter acordado hoje às seis horas e quatro minutos da manhã com um grupo de animados e bem bebidos foliões a improvisar canções brasileiras com sotaque alentejano, aqui por debaixo da minha janela no Terreiro do Paço, para saber que hoje é Carnaval. Já ontem desci no elevador com um índio, tomei café na companhia de uma princesa de cabelo armado pela arte de combinar laca e ganchos, vi as fotos de um cowboy em grande estilo e cheguei a Vila Viçosa ao fim do dia e deparei-me com uma invasão de filhós e azevias, mais do que de Natal, uma marca de Carnaval aqui pelo Alentejo. Confesso-vos que sempre me dei bem com o Carnaval, pois amante como era (e nem sei porque escrevo isto no passado!) da brincadeira e de “pregar” partidas, estes dias eram uma bênção que legitimava todos os meus disparates, por mais absurdos que pudessem ser. Nunca fui muito adepto da previsível farinha que a grande maioria dos amigos e colegas usava e abusava à porta da escola, o que era um

A cruzada dos mestres da hipocrisia

Aproveitando o momento difícil que o país atravessa em termos económicos, algumas personalidades, entre as quais o Prof. César das Neves e o Dr. Bagão Félix, tomaram a iniciativa de uma petição que visa a revisão de leis como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a interrupção voluntária da gravidez e o divórcio. Afirmam os mentores desta iniciativa que a grave situação em que o país se encontra tem raízes na corrosão que estas leis provocaram no tecido social, nomeadamente na sua célula fundamental, a família. Confesso-vos que reconheço uma pertinência nestas justificações semelhante à que admito existir entre os terramotos no Japão e o elevado número de pessoas que nesse pais decidiu começar a dançar flamenco. Zero. Reconheço-lhes no entanto um elevado sentido de oportunidade, para que agora que a dança está desacertada, virem desta forma ridícula atribuir as culpas ao facto de o soalho estar ligeiramente inclinado, ilibando-se a si e aos seus amigos políticos e banqueiros

Os patrocínios

Uma amiga que comercializa em Portugal várias marcas da área do grande consumo, foi recentemente abordada pela responsável de um blog, para que lhe oferecesse um conjunto de produtos em estilo presente de aniversário, que ela se encarregaria ao longo do ano, de publicitar os referidos produtos e sugerir a sua compra. Partilhou comigo esta história, sugerindo-me em jeito de brincadeira, que eu apresentasse o POMAR à Ferrari, porque poderia “cair” qualquer coisa no sapatinho. A Pepa Xavier e a sua famosíssima carteira Channel que desejou para 2013 numa campanha de marketing viral da Samsung, juntamente com mais tempo para estar com o “namoraaado”, deve estar a ser muito bem paga pela marca de luxo que possivelmente até já lhe ofereceu a dita carteira preta, uma daquelas que segundo ela, “dão com tudo”. Quase ao mesmo tempo, uma colega lembrou-se de me abordar questionando-me se as pessoas de quem eu falo e elogio neste blog , são assim tão fantásticas como eu digo que são, perg

Zé Artur

Recordo-me deste dia há 42 anos. Eu estava a cinco meses de cumprir 5 anos de idade. O berço de madeira que viu renovada a sua pintura em tons de amarelo e que recebeu novos bonecos decalcáveis, tinha sido colocado ao lado da cama dos nossos pais, havia grande agitação, alegria e um incessante esforço para me retirarem do centro de operações, o que me causava alguns transtorno pois esta minha crónica “curiosidade” já vem de muito longe. Depois, finalmente, apresentaram-nos e achei estranho, seres tu, em vez da tal mana, a “Maria Bonita” que se chamaria Elisa, que, muito antes da Era das Ecografias, andaram meses a dizer-me que iria ter. Não terei entendido então, mas hoje sei que terias mesmo de ser tu quando passámos a ser quatro à mesa e em tudo, porque sem ti, a minha vida jamais teria este toque de perfeição que Deus lhe tem oferecido, e pela qual serei sempre o mais grato dos Homens. Quando brincávamos aos índios colocando os lençóis presos nos ferros da cama, quando par