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A mostrar mensagens de julho, 2012

O nacional "poucochinho"

Se há características que reconheço em nós portugueses, e com as quais pouco ou nada me identifico, elas são a falta de ambição e a resignação. A primeira encarna em si um pessimismo crónico e doentio que jamais assume o sucesso como destino, muitas vezes não é pela falta de vontade, garra e querer, que até existem, mas é tão só para jamais nos termos de arriscar a explicar o insucesso quando antes manifestámos publicamente a vontade de vencer. É que não faltarão vozes que no coro trágico da moral lusitana, a gritar e a condenar: soberba. Alinhados com este comportamento, não posso deixar de me manifestar chocado por em plenos Jogos Olímpicos, não haver um único atleta português que assuma que vai a Londres para ganhar uma medalha. “Não prometo nada”, “é muito difícil”, “depois logo se vê”… Esta mentalidade é a melhor semente para não colher nada. Estas frases são a vacina que previne a condenação do insucesso que é sempre colocado com maiores probabilidades de ocorrer do que

Ολυμπιακοί Αγώνες

Em Agosto de 2007 visitei Olímpia, na Grécia, e pude constatar o facto de se tratar de um local onde tudo dispensa legendas e onde as pedras, imponentes e resistentes às agruras do tempo e da história, nos falam dos jogos que paravam a guerra, e onde os Homens competiam para alcançar a glória de quem chega mais longe, voa mais alto e é mais forte: os Jogos Olímpicos. Hoje, a chama há alguns meses acesa precisamente em Olímpia em frente ao Templo de Hera, alumiará o Estádio Olímpico de Londres, onde as nações dos cinco continentes se encontrarão para competir, sob o mesmo lema de citius, altius, fortius , mas infelizmente já sem o compromisso de parar as guerras, todas as guerras. Os primeiros Jogos Olímpicos de que me recordo são os de 1976, em Montreal, os Jogos da Nadia Comaneci e da medalha de prata do Carlos Lopes nos 10.000 metros, atrás de um supersónico e super-suspeito Lasse Virén. Daí até hoje, guardo grandes memórias de momentos olímpicos, e o difícil hoje, foi escolh

Natividade e Francisco

No verão de 1974, enquanto saboreávamos uma liberdade nova e estando eu nas minhas férias grandes entre a segunda e a terceira classe, fiz com os meus avós, Natividade e Francisco, uma das viagens mais fantásticas e memoráveis da minha vida. Os sonhos, aqueles mágicos e que nos movem, são sempre redigidos pela ambição que existe em nós, ultrapassado o óbvio, o possível, e galgada a fronteira que nos abre à aventura, e por isso, para um rapaz de oito anos nascido e criado em Vila Viçosa, terra da qual se tinha afastado nunca mais de duzentos quilómetros para vir até Lisboa, esta foi indiscutivelmente uma viagem de sonho. Partimos numa madrugada de Agosto, daquelas que anunciam os dias quentes do Alentejo, num autocarro repleto de conterrâneos, famílias de Calipolenses, que tal como nós os três, se ofereceram nesse verão, um passeio de uma semana pelo centro e norte de Portugal.   Pela primeira vez na minha vida, visitei locais tão significativos da identidade lusa como o Jardim

Os quarenta

Na vida, a década dos quarenta encerra em si segredos que a tornam mítica e especial, talvez por ser uma real fronteira entre idades. Na melhor das hipóteses e imaginado que dobraremos os oitenta, ela constitui o verdadeiro ponto intermédio da nossa existência. Depois da década dos dez ter sido a da Explosão Hormonal, a dos vinte, a da Autonomia Familiar, e a dos trinta, a da Consolidação Orçamental, cheguei à década dos quarenta com essa curiosidade nascida da informação contraditória veiculada pelos mais velhos: “a vida começa aos quarenta” versus “com os quarenta chega o caruncho”. Quanto ao facto da vida começar aos quarenta, é mentira, o que é verdade é que há uma vida que começa aos quarenta. É uma vida nova e diferente, que em alguns aspectos até aprecio bastante. Confesso que gosto de me ver ao espelho e, perdoem-me a falta de modéstia, o grisalho da barba e do cabelo, assenta-me realmente bem. E nem é preciso socorrer-me dessas novas técnicas que melhoram o visual. Há

As quatro cruzes de pedra

Em Vila Viçosa e a uns três quilómetros do centro da vila, existe na direcção de Pardais, passando o Aldeamento de Peixinhos, um lugar chamado de Fonte Cebola. Só tem acesso por uma estrada de terra batida e tal como todo o campo ao redor da minha terra, obviamente aquele que ainda não foi esventrado para retirar mármore, tem o marcado viço que legitima o adjectivo que por ser assaz adequado, dá justo nome à “Princesa do Alentejo”. Corre por estes lados um ribeiro, e foram as suas águas cristalinas, o pretexto para que eu pela primeira vez visitasse este lugar, algures pelo inicio dos anos setenta, acompanhando a minha avó Francisca num dia dedicado à lavagem da roupa. Acima do ribeiro há um monte, alva construção que domina todo o vale, com traça marcada de Alentejo, que impressiona desde logo pelo facto de na sua fachada principal, fronteira ao vale, ostentar quatro cruzes em pedra, todas iguais, semelhantes a muitas que ainda hoje podemos ver em algumas fachadas do centro da

Um herói maior da liberdade

Recordo-me da tarde do dia 11 de Fevereiro de 1990. Era domingo e a RTP interrompia a sua programação para acompanhar em directo da África do Sul, a libertação de Nelson Mandela. Depois de em Junho de 1989, a revolta na Praça de Tiananmen ter aberto brechas no regime totalitário da Republica Popular da China, e depois das revoluções com mais ou menos veludo que em Novembro e Dezembro de 1989 tinham derrubado a “cortina de ferro”, deitando abaixo o Muro da Vergonha, de Berlim e da humanidade, confesso que nessa tarde acreditei que a última década do Século XX seria a incubadora de uma liberdade certa para todos na viragem para o terceiro milénio. Mandela tinha estado preso exactamente o mesmo número de anos que o Muro de Berlim tinha estado em pé: 28 anos, e a sua heroicidade, feita de resistência, luta e convicção, teve e tem a dimensão gigantesca da humanidade inteira, pois jamais será admissível que a diversidade, quer seja étnica, religiosa ou outra, diversidade que é expressã

Olisippo prodigialiter estas

Gosto deste cheiro a verão que a manhã me oferece quando abro a porta e saio de casa. Os sentidos, todos eles reunidos, dispensam o termómetro e garantem-me que os quarenta graus serão hoje uma realidade. O humor eleva-se automaticamente e quando entro no carro e ligo o rádio, não resisto a deixar-me embalar pelos Xutos & Pontapés, agarrando-me à voz do Tim para com ele cantar o “Mundo ao Contrário”. Muito a propósito. A crise, o preço dos combustíveis ou as férias de verão, libertaram a A5 e dez minutos são suficientes para que o Túnel do Marquês me conduza à Rotunda, a esta hora ainda sem trânsito e sem gente. Paro no semáforo, olho o Parque à esquerda e a Avenida que à direita nos oferece a cor e a luz dos indícios de Tejo. Lisboa no verão, a minha cidade ou a cidade perfeita. Subo a colina de “A Canção de Lisboa” e chego ao Campo Santana. O Dr. Sousa Martins continua no seu pedestal e abaixo, perdida no mar das lápides de pedra dos seus devotos, uma mulher deixa l

Às avessas

Uma pessoa que me é muito próxima, começou recentemente a fazer um curso sobre empreendorismo num instituto do estado, tendo recebido, no meio dos maiores disparates veiculados pela formadora e que são expressão da sua total incompetência, o conselho para nunca arriscar um negócio pois o momento é economicamente muito complicado. Apesar da incompetência, não parece faltar trabalho a esta senhora, ao contrário do que acontece com um elevado número de professores, competentes e com provas dadas, e conheço bem alguns deles, que estão a vislumbrar o desemprego no seu futuro. Para quê tanto investimento em estudo e dedicação? Tivessem passeado o charme pelas estruturas juvenis de algum partido, tivessem aderido a uma loja maçónica, pedissem as equivalências de modo a obterem a licenciatura com a frequência de 10% das cadeiras, e muito possivelmente não só não estariam no desemprego como teriam muitas hipóteses de conseguirem ser ministros e atingirem em poucos anos uma choruda refor

Sexta-feira, 13

Há encanto, magia, pragas, mistério, Histórias de bruxas e lendas de encantar, Há um terror que se diz ser caso sério, Miam gatos que são pretos e mestres de azar. Há queimadas, fogueiras e rezas com fé, Afugentam-se tristes agoiros e maus-olhados, Fazem-se cruzes para o Belzebu saber como é E ir semear desgraça noutras terras, noutros lados. Adivinhos e sábios, lêem nos astros do universo, Sinais de tragédias e coisas de acautelar, Profecias de um caos certo, e sem reverso, Como se o mundo vivesse a um passo de acabar. E afinal, tudo é tão simples e assaz normal, Ciclo, inevitável tempo, impossível de evitar, Um dia a mais, aos outros, em tudo igual, Duas dúzias de horas para ter fé e acreditar. Se por ser treze, a Sexta queremos diferente Positivos e unidos a saibamos viver, Com amigos, amores e com toda a gente Há lá melhor sorte para a gente hoje ter?

ESTADO…

DE SÍTIO para trabalhar é coisa que urge encontrar para muita gente. A economia afunda-se, as empresas definham, e os despedimentos, cada vez mais fáceis de concretizar, são uma realidade com que vivemos diariamente, atirando pessoas e famílias para lá do limiar inferior da dignidade humana, para os terrenos amargos da pobreza. CIVIL – SOLTEIRA morre sempre a culpa de quem ano após ano nos vai (des)governando e atirando para o caos financeiro em que nos encontramos. O bom ou o péssimo desempenho terá sempre a recompensa de uma choruda reforma ou de um cargo de nomeação política que permita a manutenção das mordomias. DE GRAÇA nada se obtém neste país de taxas e portagens. Saúde, acessos, transportes, justiça… tudo se paga e assim, pela via do ter mais ou menos dinheiro, tudo acentua a cada vez maior diferença entre ricos e pobres. Apesar dos impostos serem elevadíssimos, a má gestão e o descontrolo da despesa, obrigam constantemente ao pagamento de novas taxas por forma a equilib

O passeio dos etilizados

Na minha Vila Viçosa de há algumas décadas atrás, existia um homem que com muita arte e engenho, improvisava violas a partir de todo o tipo de latas velhas de que dispunha, quer fossem de atum, de azeite, de graxa de sapatos ou cera para madeiras. Com cordas também elas criadas a partir dos fios mais estranhos, percorria as ruas a cantar em verso tudo o que lhe acudia à boca. Eram rimas que não passavam pelo filtro do cérebro, pois o seu estado de embriaguez total e permanente, anulava à partida esta actividade censória habitualmente designada por bom-senso. Ninguém o levava a mal. Em primeiro lugar porque o seu curriculum era amplamente conhecido, e depois, porque na maioria dos casos, já ninguém se dedicava a escutar as letras das suas canções. Hoje consultei o sítio na internet do Diário de Notícias e deparei-me com uma afirmação do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, relativamente à implementação do programa de ajustamento em Portugal: "Foram feitos pr

À vida!

Há alguns anos atrás, as férias grandes eram muito maiores do que hoje, e era no inicio de Junho que nos despedíamos das aulas e perdíamos o contacto diário com alguns colegas, os mais afortunados, que cedo partiam com os pais para junto do mar. Mas mesmo assim, apesar destas ausências, nunca deixei de ter alguns amigos junto a mim, nas festas de aniversário que os meus pais me organizavam para que o dia 5 de Julho, o dia do meu aniversário, fosse sempre para mim um dia diferente, um dia feliz. A festa começava a ser preparada uns dias antes quando recortava as cartolinas e as decorava com desenhos, no meu caso não muito artísticos, elaborando os convites que entregava orgulhoso aos amigos cujos nomes constavam da lista antes elaborada em conjunto com os pais. O lanche era simples e nascia sempre da arte da minha mãe, tias e avós, sendo composto por sandes, pães-de-leite, empadas, rissóis de pescada, biscoitos, broas e claro, o bolo de aniversário, sempre feito pela minha mãe e

Portugal ou buscando o mar

O sol está a pique, e a planície arde no seu esplendor ocre, pincelado aqui e ali pela nobreza dos sobreiros que recortam o horizonte, impondo o seu verde neste namoro perfeito e imperturbável entre a terra alentejana e o mais intenso azul do céu. A estrada, recta infinita e persistente, é nossa cúmplice e transporta-nos, na ânsia e no clamor pelo Tejo que sabemos sempre, estar certo mais além abaixo na encosta, quando terminarem as giestas e as estevas. Chegamos por fim, e repousamos o olhar, entregando a alma à paz do lento correr das águas. Cruzamos o rio e subimos. Subimos nós e connosco sobe a Terra, que em braços de granito erguidos aos Céus, se faz Serra e se impõe, perfeita montanha, oásis doce e rubro de sabor cereja. A Gardunha é o degrau que nos dá alento e nos inspira a pular à Estrela, mágico, supremo e divino altar. Avança a tarde, e passando a Guarda, deixo-me ir buscando intensamente o sol, cruzando louco os caminhos traçados pela bravura lusitana de Viria

Santos dias

Isabel, mulher de Aragão que D. Dinis fez rainha e a fé do povo fez Santa, é celebrada hoje em Coimbra, dedicando-lhe a cidade dos estudantes, o dia maior do município. Entro pois em Coimbra com o privilégio da ausência de trânsito, e com tempo para simultaneamente conduzir e olhar em volta. Gosto particularmente quando a Rua da Sofia faz uma curva e nos coloca perante a Igreja de Santa Cruz. A bandeira da cidade e a primeira bandeira de Portugal, branca e com uma cruz azul, assinalam que ali repousa o Primeiro Português, título que merece o Inventor de Portugal, D. Afonso Henriques. A imponência da fachada faz jus à importância do local, por certo um dos mais marcantes do ser Português. Começo a subir, passo pelo mercado e, sinto-me a viajar na história pois acabei de chegar à Praça da República. Vejo em frente o Jardim da Sereia e penso na adequação geográfica pois bem próximas têm estado as agruras da República com o canto enganador de tantas sereias. Mas viro à direit