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A mostrar mensagens de agosto, 2014

As cidades eternas

A bordo de um avião da TAP baptizado de Eusébio vejo Lisboa ficar para trás enquanto escuto a algaraviada de um grupo de Italianos que revisitam as fotos num i-Pad que sacaram de uma mala onde há Pastéis de Belém comprados no aeroporto e imagens coloridas de Santo António para colar nas portas dos frigoríficos. Por entre este histérico visionar das fotos, há uma criatura que de repente espreita pela janela e confunde o Shopping de Loures com uma enorme mesquita. De aqui a um par de horas aterraremos em Roma com a certeza de que todas as cidades são eternas. Mesmo que não o sejam no mapa redesenhado pela História e vulnerável a tantas opções de ordem estratégica e política, são eternas em nós. E não é só por causa das fotos, dos souvenirs mais ou menos criativos, ou até da lembrança do sabor de uns quaisquer pastéis; as cidades são eternas pelo que delas guardamos desses momentos em que foram o cenário perfeito para a realização da nossa felicidade, a sós ou especialmente acomp

As palavras por entre os silêncios

Há muito que o meu i-pad pessoal é “terreiro” preferido para as brincadeiras do João e do Luís quando me visitam, e por isso, e como tio extremoso, lá vou de vez em quando descarregando umas aplicações por sua indicação e segundo as suas vontades. Assim, com o aparelho bem composto de icons que abrem jogos de monstros, pássaros, ursos e afins; já me habituei a que às vezes durante a noite, estas criaturas abandonadas e vítimas da minha falta de jeito, paciência e tempo para jogar, vão rompendo o silêncio com sons algures entre o chiar de um boneco, o toque de um despertador ou o repenicado canto de uma ave. Vantagem: já estou imune a qualquer fantasma que resolva visitar-me, pois dormirei descansado julgando que se trata de uma mensagem enviada pelo i-pad. Fui buscar este exemplo com algo de caricato apenas para demonstrar que o silêncio não existe, nem mesmo quando ele parece o destino inevitável para a noite de um homem que está sozinho. Talvez porque estar sozinho não seja

“A nossa Merkel” é um genérico manhoso, de má qualidade e sem bioequivalência

Apesar de contribuir mensalmente para o “equilíbrio” das contas públicas com mais de metade do meu vencimento, entre Segurança Social e IRS, este fim-de-semana vou ter de fazer um esforço suplementar e retirar da minha conta mais alguns milhares de Euros que endossarei para o Ministério das Finanças por via bancária. O sucesso desta operação de “assalto à mão desarmada” às minhas poupanças e às dos meus concidadãos é apresentado sob a forma de números, rácios e outros indicadores do âmbito da economia, estatísticas onde se realça a protecção da banca e do sistema financeiro per si . Não interessa se recentemente tenho tentado ajudar um amigo que tem o pai no corredor de um hospital público há oito dias por ainda não lhe terem arranjado uma cama para o tratar com o mínimo de dignidade após o AVC que sofreu. Desde que o PIB funcione… Eu sei que me chamarão básico, iletrado e possivelmente populista por me socorrer deste tipo de argumentos, mas não consigo deixar de me sentir def

E pimba… o regresso!

Há sempre algo que vem legitimar o título de tonta atribuído a esta estação do sol e das praias, e talvez tenha sido isso que senti justificar o facto de estar parado num semáforo de uma esquina de Lisboa e ter descoberto de repente que a loura que conduzia o super Mercedes que estava ao meu lado era a cantora Ágata. Logo ali e em dia de regresso ao trabalho, a nossa fragilidade apela aos santinhos todos num pranto ao estilo de “Mãe querida, mãe querida…” e desliza para um secundaríssimo plano, o antecipado desconforto do regresso aos Mocassins depois de um mês de liberdade total para os pés em gozo de férias. Já para não falar do aperto que as gravatas me oferecem ao pescoço habituado à brandura dos pólos… Por entre o "perfume", que não de mulher, mas desse improvável dueto da Rainha do Pimba com um Quim Barreiros que não é o original; nada mais poderá constituir factor de risco para uma possível depressão pós-férias de verão. Saberá no entanto Deus qual a causa par

As sedes, os silêncios e o imenso querer dos heróis

O silêncio será sempre a melhor oportunidade para atribuir valor à música e às palavras; a ausência, a melhor forma de fazer justiça ao inquestionável valor de um abraço; e a saudade pode constituir uma fantástica e definitiva oportunidade para sentirmos que sim, este é o nosso definitivo amor de onde nunca iremos partir. Só valoriza muito a água quem sente ou já sentiu sede, o pão vale muito pouco para quem nunca sentiu fome, e a liberdade é um dom fundamental para todos, mas muito especialmente para aqueles que um dia sentiram a mordaça que lhes limitou o desfrutar da sua própria verdade. Depois… a adversidade é para os fortes uma escola de virtudes e para os fracos um fabuloso pretexto para dar brilho à sua “aura” de coitadinhos e desgraçados abandonados pela sorte. E às vezes, no fim das tardes quentes de verão, quando o sol tinge de vermelho o horizonte e nós lhe entregamos o olhar, enquanto à janela escutamos a voz brava de alguém que do outro lado da linha partilha connos

O último dia de férias

Já está, cheguei ao meu último dia de férias. Durante um pouco mais de três semanas tive tempo para passear no campo, na serra, nas cidades, nas ruas com muita gente, nos trilhos solitários e só meus, à beira mar, nas margens dos rios, dos lagos azuis, das ribeiras com aroma de hortelã e poejo… Cantei, assobiei, comovi-me, chorei, ri muito, encantei-me com as palavras dos poetas e com as canções que fui escutando. Li e reli Eugénio de Andrade e definitivamente fiz minha (nossa) a fantástica Where dreams go to die , de John Grant. Escrevi prosa, crónica, romance e poesia, à luz de um luar gigante ou de um sol mais ou menos envergonhado; a olhar o Douro, o Tâmega e o mar Atlântico; escrevi por entre o cheiro a flores, a campo, a maresia… mas sempre a pensar em ti. Sorri muito sob o privilégio do afecto dos meus pais a quem dei o braço em inesquecíveis passeios, e também sob o efeito doce das palavras e das memórias que soubemos ir semeando pelos dias. Bebi, brindei com vinho,

Eu jamais quererei morrer

As calçadas da Mouraria, pátria mãe de todos os fados, souberam esperar mil anos, por nós, pelos nossos passos e pelo canto tom de flor que sempre se solta do teu olhar. A noite a cair sobre a viela, e a alma a acender-se lentamente ao ritmo do velho candeeiro que lá do alto já perdeu o conto às lágrimas da gente na Rua do Capelão. E por entre este choro que transpira e ressoa das paredes cúmplices de tantos sofreres de amor, por entre a poesia que nos beija entrelaçada na brisa do fim da tarde, por entre a liberdade, fiel irmã e companheira de Lisboa, os teus braços foram o cais do melhor destino, e o nosso abraço foi aquilo que será sempre: o cumprir do meu melhor fado. Aqui mudámos o tempo e o ciclo vazio de duas tristes histórias. Agora, há muitos mais mil anos que esperam por nós, a eternidade e esta festa que matou solidões e encheu de amor e palavras de verdade, as tardes de Lisboa e os mais recônditos recantos da mais escondida e estreita viela. Há tantas calçadas at

“Arranjem-nos a água…”

Deixo o mar e cruzo o Alentejo com o sol a pique pela hora do meio-dia. A imperial solidão dos montes, a espera dos sobreiros, o tom de ouro do feno que preserva em si a eterna genética rubra das papoilas, o olhar perdido pelo horizonte que parece não ter fim, enquanto a alma relembra a sede das árvores de Florbela, e o corpo, mais do que tudo, pede uma gota de água fresca “colhida” algures numa fonte, daquelas do campo que são guardiãs de histórias de amor. Naquela casa que se avista quase a chegar à aldeia da Messejana, ali muito próximo de Aljustrel, pararia eu agora se pudesse para a frescura de um Gaspacho em festa de orégãos, daqueles que o Tio Filipe preparava sempre que vinha do campo e que nós repetíamos voltando a atestar a malga por duas e três vezes. Só nós Alentejanos e por entre este calor, reconhecemos que esta sopa é uma necessidade e um prazer supremo nestes dias quentes de verão. Mas hoje sigo e fico-me pela vontade. Mais à frente e por entre os olivais, co

A Coreia do Norte e a sacristia

Quando me sento perante o desafio de uma página em branco tento sempre ser fiel na transposição daquilo que sinto para as palavras que escrevo; e o resultado, uns parágrafos de mim, ficam soltos e à mercê das opiniões e do sentir de quem lê. Faço isto numa crónica, num poema e até no âmbito da ficção, num romance ou num conto, espaço onde as personagens carregam sempre algo de nós, nem que seja às vezes apenas um breve e discreto “julgamento” implícito. Gosto tanto da expressão de desacordo quanto da concordância total de alguém que me leia, porque acredito que deste confronto de ideias se constrói a verdadeira riqueza da humanidade. E a liberdade para podermos ser nós nestes diálogos é um bem de primeira necessidade, como pão. Foi noticiado recentemente que a prelatura da Opus Dei mantém um Index de livros proibidos nos quais se incluem 79 obras de autores Portugueses, com Eça e Saramago à cabeça; sendo que para mim o primeiro é o maior escritor Português de todos os tempos,

A remexer na areia

Deitado na praia olhando para cima e beneficiando da visão de 180 graus de céu, vou mexendo e remexendo a areia ao ritmo dos pensamentos. O meu sobrinho João, de férias em Vila Viçosa, fez-me chegar um fax com os personagens que ele quer ver na próxima história que eu escrever para ele e para o Luís. O primo Afonso tem de constar num enredo que terá de falar de monstros. E enquanto remexo a areia vou pensando como irei eu colar os meus agora três super heróis a uma história de monstros com nomes que ele já inventou, e que... valha-me Deus. Quando tratamos o amor por tu, por vezes tomamos o benefício de ser confidentes dos amigos que sofrem ou cantam amores. Tenho uma amiga tão apaixonada, que por estes dias de férias e estando afastada da sua paixão, sonhou duas noites seguidas que a mesma nunca iria chegar ao que deseja: partilhar todas as luas com o seu amor. Mandou mensagem e aqui vou eu alimentando de fé, a morte deste "monstro" chamado medo que lhe vai poluind

“Lindas, cheirosas e fantásticas”

Se são inteiramente gratuitos, a chuva e o nevoeiro em Agosto no alto do Monte de Santa Luzia, em Viana do Castelo; o acesso ao sol e ao mar supostamente quente do sul tem um elevadíssimo preço pago directamente por transferência bancária a partir da nossa conta corrente de tolerância e paciência. E a factura, sem direito a desconto no IRS, e ao jeito de portagem, começa logo a pagar-se nas Áreas de Serviço da A2, antecâmara do pior que nos espera por aqui. Escolhi um hotel numa zona não muito mediática e em que o acesso à praia até pressupõe uma viagem de barco, pensando desta forma evitar os malefícios do turismo de massas, mas foi em vão. As “pseudo-tias” genéricas de imitação barata que gritam nas filas dos centros comerciais aos fins-de-semana nos dias livres em que não têm de ir à repartição vieram todas para aqui comigo. Vestiram-se de rendas brancas e pretas por onde se espreitam os fatos de banho da La Redoute a tentar em vão esconder a celulite que não morreu com os

As flores cúmplices do luar

No jardim em frente ao meu quarto há um canteiro enorme com flores cúmplices do luar que só libertam o seu cheiro depois do sol se esconder para lá do horizonte. Um perfume intenso e inesperado que me abraça na noite enquanto caminho escutando o canto de cigarras, sentindo ao longe a perseverança do afecto das ondas enrolando-se na praia. Quem disse que não há encantos guardados nos momentos em que o sol não brilha? O segredo será talvez o "acender" de todos os sentidos e não amputarmos a hora do benefício de qualquer um deles. O sol voltará sempre, já o sabemos, tenha a noite a aparência de longa ou curta, tenha ou não o luar a companhia de doces aromas de flores... mas a espera da madrugada nunca é um tempo morto e é em si mesma um tempo de "prazeres" únicos a não rejeitar. A vida não é intermitente e nunca é ou será cativa do brilho do sol que nos faz os dias. A madrugada devolveu-me o azul do mar de que eu desfruto enquanto caminho só pela areia sen

Uma carta de amor

Meu amor, Nem as estradas de sempre conseguem ser velhas quando como hoje me oferecem um caminho novo: vou ter contigo. E a rota banal de tantos dias, traçada entre sobro e olivais, tem nesta tarde, e por ti, as virtudes do cumprir de um destino. Tudo faz sentido. Se na vida há sempre um primeiro amor, eu hoje sei que tu és o meu último e definitivo amor. Cheguei. Tudo o de antes ganhou estatuto de irrelevante e o depois deste amor não existe. Por ser tão grande e tão justo para com os meus maiores sonhos, este amor é a própria eternidade. Todos os meus passos, toda a minha história, foram para chegar aqui a este abraço. E se eu pudesse, mil anos viveria contigo. Enquanto espero que chegues e me sento à sombra de uma árvore num banco no Camões, olho em volta para as casas e a luz do Chiado, palpo no peito esta certeza de que tu vens, e consigo sentir uma estranha saudade deste momento que é em tudo perfeito. É a este momento que eu quero voltar sempre tal como Soph

“Não chores…”

"Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade" Dos idos de 1954, a minha mãe recorda-se de os meus avós lutarem pelo aumento de um escudo no valor pago para ceifar o trigo de sol a sol, valor que era há muitos anos de dezasseis escudos para as mulheres e de vinte para os homens. Recorda-se de o meu avô recomendar prudência à minha avó, sempre mais rebelde e de verbo fácil, porque no Baixo Alentejo já tinham assassinado uma mulher que lutava pelo mesmo objectivo. Tinha sido um soldado da GNR com um disparo da sua arma.   "Não chores pelos que te abandonaram e luta pelos que estão contigo" Era solidão o que sentia pelos montes fora nas manhãs de inverno em que de joelhos nas margens dos ribeiros de água límpida mas gelada, o pão se ganhava lavando a roupa das clientes endinheiradas da terra. As minhas avós falavam da solidão e do abandono pela sorte. Com elas vivia apenas a fé que desfiavam em perpétuas Ave-Marias rezadas à medida que os dedos c

O príncipe que não sabia o que era a poesia

No seu castelo com janelas grandes rasgadas para a serra, parapeitos adornados de tulipas que nos dias de vento deixavam entrar o aroma fresco da maresia, porque o Atlântico não ficava longe; vivia um príncipe de olhar sereno e sorriso feliz. O jardim era o seu mundo, e o seu confidente nas brincadeiras, nos sonhos e nas angústias, era um enorme pé de abacate que lhe dava abrigo, sombra e lhe retribuía em frutos verdes e gigantes, o afecto feito de tantos cuidados e carícias. Às vezes nas tardes mais quentes, sentado junto à janela do primeiro andar, ou mesmo junto ao seu pé de abacate, o príncipe lia os livros guardados na biblioteca do castelo, apreciava a prosa que o fazia sonhar, mas ficava sempre triste quando tentava entender os poetas. As palavras destes pareciam-lhe vagas e o príncipe ficava sempre triste por não poder e não saber entender a poesia. Este sentir manteve-se sempre igual, até que numa tarde quente e risonha de primavera, estando ele entregue aos seus pens

A poesia que se solta de um pôr-do-sol (Férias – Dia 14)

Primeiro começamos a conseguir olhar o sol de frente, e daí a pouco ele desaparece mergulhando naquele exacto sítio lá ao longe onde o mar parece tocar o céu. Sabemos que o pôr-do-sol é uma ilusão que a esfericidade da Terra nos oferece, e também estamos conscientes da relatividade de um momento que sendo para nós o anoitecer, para muitos será o inicio de uma nova manhã; mas deixamo-nos ir pela magia desta hora, que as ilusões são especiarias que nos dão sabor e gosto aos dias, e esmaga a poesia quem se faz escravo cego da razão. Da mesa do nosso último jantar de férias vemos o pôr-do-sol no mar de São Pedro de Moel, beneficiando da generosidade de quem nos pôs a mesa, quadrada, e deixou devidamente livre o lugar que condenaria algum de nós a não o ver. Vamos apreciando os tons do sol, do céu e do mar, falo da "hora dos mágicos cansaços" e dos abraços, de Florbela, e deixamo-nos levar pelas inevitáveis palavras. Levamos duas semanas a conversar, e de Florbela passamo

O mar é sempre azul (Férias – Dia 13)

Primeiro as badaladas das oito horas no relógio da capela da Casa da Ínsua, o fresco da manhã servido pelas janelas que miram ao pátio e à sombra dos plátanos centenários, e mais tarde um café acompanhado pela ousadia de uma fatia de Pão-de-Ló temperada por uma excelente compota de tomate que tem um inesquecível aroma de canela. O dia hoje vai levar-nos até São Pedro de Moel, e o GPS alia-se a nós “empurrando-nos” para o cumprimento do destino maior do ser Português: o mar. Em Portugal, por mais longe que estejamos do mar, estaremos sempre perto; e no contexto do universo, duzentos quilómetros são a largura perfeita para uma imensa praia. E mesmo quando cruzamos as serras mais altas, templos e altares de imponente granito; quando nos entregamos aos caminhos bordejados de vinho ou pão; ou então quando nos sentamos na margem de um rio ou na soleira de uma porta de uma aldeia lá longe junto à fronteira; o mar sempre se pressente. Carregamos no olhar uma genética de marinheiro; no

O amor é uma obsessão exclusiva dos poetas e dos loucos (Férias – Dia 12)

Adormeço embalado pela persistência da água que corre na fonte do pátio da quinta, e noite fora, quando acordo e me dou conta das badaladas suaves do relógio da capela, o ruído da água a correr lá está, sereno, rompendo o silêncio das noites no campo. E não há melhor despertar do que aquele que nasce de uma noite assim. Mas a manhã leva-nos à cidade, a Viseu, sem que saibamos que à Terça a manhã é de feira; e em Agosto, há uma imensidão de carros e gente a entupir rotundas e vielas, com as matrículas e a fala da gente, a indicar-nos que chegámos à "festa" onde se matam as saudades acumuladas por uma dolorosa eternidade vivida longe de casa. E chamo-lhe festa porque é isso que leio no olhar da gente. Compras, passeio, café, almoço... e a tarde traz-nos de volta à irresistível quinta para um longo e demorado passeio entre frutos e flores. E entre palavras e memórias. Numa varanda junto à casa grande há uma fonte de granito que mantém de fonte apenas a traça e a bic

Metamorfoses (Férias – Dia 11)

Imediatamente a seguir à noite da lua gigante que nos pôs a todos a olhar para o céu, a manhã trouxe o sol, e com ele uma nova face para a cidade que ainda ontem era um pranto de chuva. Não somos de desistir e voltámos a subir a Santa Luzia, mas desta vez para apreciar devidamente o Lima e o Atlântico, os dois em perfeita sintonia com um céu intenso de azul. Daí a pouco cruzámos o próprio rio Lima, e mais tarde o Douro sobre a Arrábida, olhando a foz à nossa direita. Já não passámos o Vouga… Saímos da A1 em Santa Maria da Feira e daí seguimos para Vale de Cambra, Arouca, e encetámos a subida à Serra da Freita. Um pouco mais de mil metros de altitude, a subida por entre a vegetação que vai dando lugar ao granito, rei e senhor no topo da Serra devidamente adornado por uma vegetação rasteira em tons de amarelo; o encanto da paisagem, e a sensação de que há um paraíso por descobrir ali mesmo ao lado da rota de tantos dias. Surpreende-me totalmente o caminho que se nos oferece

Travestis, shopping e bebidas quentes (Férias – Dia 10)

Chove copiosamente quando saímos do hotel em direcção ao Monte de Santa Luzia, e à medida que subimos, o nevoeiro adensa-se de tal forma que começamos a acreditar ser possível ver por ali o D. Sebastião, ou então, e embalados pela sétima arte e entre uma enorme profusão de almas penadas, a Nicole Kidman a protagonizar o fantástico filme “Os outros”. Mas não, espera-nos a missa das onze com o baptizado de um rapaz com nome impronunciável, e que será qualquer coisa entre “Gerson” ou “Jéssio” (todo o dia discuti o nome com a minha mãe e não conseguimos chegar a um consenso), o que para o caso pouco importa, mas que motivou inclusive uma confusão de género por parte do padre celebrante que começou a cerimónia a assumir que de uma rapariga se tratava. O padre que também não resistiu a confessar que durante o seu sacerdócio já tinha baptizado gente com nomes mais agradáveis. E se não vimos por ali o D. Sebastião perdido nos nevoeiros, com a ajuda de todos os convidados do pequeno G ou