Eu jamais quererei morrer

As calçadas da Mouraria, pátria mãe de todos os fados, souberam esperar mil anos, por nós, pelos nossos passos e pelo canto tom de flor que sempre se solta do teu olhar.
A noite a cair sobre a viela, e a alma a acender-se lentamente ao ritmo do velho candeeiro que lá do alto já perdeu o conto às lágrimas da gente na Rua do Capelão.
E por entre este choro que transpira e ressoa das paredes cúmplices de tantos sofreres de amor, por entre a poesia que nos beija entrelaçada na brisa do fim da tarde, por entre a liberdade, fiel irmã e companheira de Lisboa, os teus braços foram o cais do melhor destino, e o nosso abraço foi aquilo que será sempre: o cumprir do meu melhor fado.
Aqui mudámos o tempo e o ciclo vazio de duas tristes histórias.
Agora, há muitos mais mil anos que esperam por nós, a eternidade e esta festa que matou solidões e encheu de amor e palavras de verdade, as tardes de Lisboa e os mais recônditos recantos da mais escondida e estreita viela.
Há tantas calçadas atapetadas de fados que esperam pelos nossos passos cúmplices de eternos enamorados.
A eternidade…
Há tanta vida que se solta dos beijos que tu me dás.
Tu és a minha vida, e assim, eu jamais quererei morrer.

Há exactamente 26 anos o Chiado ardia num dia de verão em que chorámos por Lisboa.
O tempo devolveu-nos o Chiado a tempo de nos sorrir nas tardes perfeitas que Lisboa nos oferece para namorar.
Pelo sonho da Mouraria deixo aqui um beijo à cidade mais bonita do universo.

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