2011

Estão descascadas e saboreadas as laranjas da colheita de 2011.
Hoje, último dia do ano, sentados à volta de uma lareira que nos aquece aqui algures entre as laranjeiras deste “Pomar” e sempre à laia de balanço, partilho convosco todas aquelas laranjas que gomo a gomo se foram impondo à minha memória:

LARANJA DOCE – Revoluções nos países árabes
Saúda-se o fim de regimes totalitários pela força do povo unido nas ruas.
Foi de dentro do Egipto ou da Líbia que nasceu este desejo de democracia, tendo os líderes das grandes nações secundado esta vontade, após anos de convivências e complacências hipócritas feitas ao sabor dos mais variados interesses.

LARANJA AMARGA – Crise Financeira / Troika
De PEC em PEC chegámos à Troika, e fomos obrigados a pedir empréstimo às instituições internacionais.
Ataque à zona Euro? Crise financeira mundial?
Nada servirá para disfarçar a incompetência de quem nos governou ao longo de décadas.

LARANJA SUMARENTA – Eduardo Souto Moura
O presidente Obama entregou a Souto Moura, o prémio maior da Arquitectura Universal, o Pritzker, vulgarmente designado como o Nobel da Arquitectura.
Quem já visitou o Estádio de Braga, a Casa das Histórias ou a Pousada de Santa Maria do Bouro, não estranha este prémio pois estará habituado à genialidade de Eduardo Souto Moura.

LARANJA SECA – Aníbal Cavaco Silva
Cumpriu a regra da reeleição dos Presidentes da Republica do pós 25 de Abril, mas fê-lo com muito menor percentagem que Eanes, Soares ou Sampaio.
O discurso da noite da reeleição e o da tomada de posse no Parlamento, dividiram mais do que uniram. Num momento crítico para a nossa soberania não tem tido argumentos para criar sinergias entre os Portugueses e colocar reflexões no facebook é muito pouco relativamente ao que se lhe competia.
Ele e os seus próximos, um dos quais sentou no Conselho de Estado, estão demasiado envolvidos no escândalo BPN.

LARANJA MECÂNICA – Euro versus Mercados
Num processo demasiado amargo, o sistema de ataque dos Mercados ao Euro é de um rigor mecânico assinalável. E tem dado frutos.
Não será com políticos como Merkl ou Sarkozi que a nossa moeda europeia se irá salvar. É demasiada fragilidade para tão concertada acção.

SUMO GASEIFICADO DE LARANJA – Energia nuclear
O sismo no Japão e o consequente risco de um brutal acidente na Central de Fukushima puseram a nu a verdade do risco da energia nuclear.
Perderam gás os argumentos a seu favor.
Nuclear, não obrigado.

SUMO NATURAL DE LARANJA – Fado reconhecido como Património Imaterial da Humanidade
Já era há muito património nacional, esta música que é a expressão sonora da alma Portuguesa.
O rótulo mundial é mais do que legítimo e afinal quem desta decisão sai engrandecido, é o próprio mundo.

REFRESCO ARTIFICIAL DE LARANJA – Justiça em Portugal
É tudo uma questão de parecer e afinal não ser.
A justiça em Portugal não existe e de recurso em recurso se constrói o caminho da impunidade dos ricos e dos poderosos.
Um país sem justiça é um país sem critério e que merece muito pouco respeito e credibilidade.

LARANJA VERDE – André Villas Boas
Para mal do meu coração benfiquista, André Villas Boas ganhou com o Futebol Clube do Porto, quase tudo o que tinha para ganhar em Portugal e na Europa.
Abandonou a sua “cadeira de sonho” para responder afirmativamente aos milhões de Abramovich, o dono do Chelsea, mas os tempos mais recentes comprovam que ainda lhe falta amadurecer.
Pelos vistos, Mourinho há só mesmo um.

LARANJA PÔDRE – A dívida da Madeira / Alberto João Jardim
A factura das décadas do desenvolvimento feito de pontes, túneis, auto-estradas, carnavais e festas das flores, colocou a nu o descalabro financeiro de uma região que à custa do estatuto de periférica, liquidou a sua autonomia, cravando-se como sanguessuga ao resto do país.
E sempre com o beneplácito do poder central, independentemente da cor, que foi apontando a Madeira em múltiplas ocasiões como uma região modelo.
Afinal de contas há deficit gordo não Madeira e infelizmente para as bolsas de todos nós contribuintes, não é só democrático.

LARANJA CALIPOLENSE – Música na Pedreira
Original no contexto nacional, este aproveitamento de uma pedreira desactivada, das muitas que existem no nosso concelho, para sala de concertos, é uma ideia excelente e que pode trazer até nós excelentes momentos musicais num ambiente único.
A continuar e a melhorar em acessos, estacionamento, programas e conforto.

COMPOTA DE LARANJA - 2011 deixará para sempre a saudade de Vaclav Havel, o pai da Revolução de Veludo na ex-Checoslováquia, de Steve Jobs, o génio da Apple, Artur Agostinho e Cesária Évora.
E despeço-me ao som da guitarra Portuguesa de Luís Guerreiro e das vozes de Pablo Alboran e Carminho. “Perdoname” é para mim a canção do ano, a provar que de Espanha podem não vir bons ventos mas podem chegar bons casamentos, pelo menos os musicais.

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