Um cafezinho com… a amizade.

É sábado de manhã e o ambiente é de festa na praça maior de Vila Viçosa.
Já rebentaram foguetes pela madrugada, anuncia-se a tourada e a largada do dia seguinte, há um movimento anormalmente maior de gente, prepara-se a ida nocturna ao arraial…
Enfim, cheira a Capuchos e saboreia-se um dos mais agradáveis apelos de regresso a casa para a diáspora calipolense.
A um canto da abarrotada esplanada do Café Restauração, há uma mesa com quatro pessoas que conversam animadamente.
Há um pai de família, professor respeitado e empenhado, pessoa com militância católica muito activa sendo inclusive salmista nas celebrações litúrgicas da paróquia onde é um dos membros mais destacados.
Há uma celibatária artista plástica, mestra e professora de artes preocupada com o painel de azulejos que tem em mãos e que a traz muito ocupada.
Há uma senhora casada mas sem filhos, proprietária de um restaurante e de uma loja de artigos associados a práticas místicas e sobrenaturais, pessoa com reconhecido sucesso na leitura das cartas do Tarot.
E estou eu, este solteirão barbudo e quarentão que se dá aqui a conhecer a cada conversa à sombra das laranjeiras deste pomar virtual.
Falamos com a desenvoltura proporcionada pela saudade dos muitos anos em que nunca deixámos de pensar uns nos outros, mas em que estivemos privados de estar assim cara-a-cara, a poder usufruir do brilho dos olhares que nos complementa as palavras e lhes dá mais vida e verdade.
É possível que alguém se pergunte o que nos une no meio desta diversidade de vidas que fomos construindo pelos caminhos tão diferentes que percorremos.
Vila Viçosa? A Festa dos Capuchos? Uma manhã de sol de verão? A nossa história passada?
Todas são razões óbvias e inequívocas.
Mas há mais, há um motivo maior do que todos os outros: a amizade.
A amizade que cresceu enraizada nas muitas cumplicidades do passado desse tempo em que éramos meninos e em que brincávamos no pátio do Convento das Chagas, mantém-se no presente, menosprezando pela tolerância, liberdade e respeito, as diferenças do que temos e do que fazemos, porque para ela o que importa é apenas e só aquilo que somos.
E quanto ao ser? Quando cantamos salmos na missa, quando pintamos um painel de azulejos ou quando lançamos as cartas do Tarot, somos iguais.
Somos todos, uma parte desta gente que se realiza procurando viver intensamente a vida e fazendo dela uma festa partilhada com os outros, fazendo-o com o recurso a diferentes expressões e linguagens, apenas e só para que cada um cumpra o seu carisma e possa ser fiel ao muito que lhe compõe a alma.

Comentários

  1. Obrigado pelos elogios,mas mais que isso a AMIZADE que nos une.
    De facto aquele foi um "bom bocadinho", no qual, juntando as pequenas histórias e vidas do presente, pudemos recordar o passado. Vimos que não há fronteiras na amizade, ela permanece, apesar de um estar em Lisboa, outro em Vila Viçosa, outra em Portalegre/Vila Viçosa e a outra mais distante em pleno Atlântico,na Madeira.
    Manuel

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  2. Bem-vindo, Manuel! Finalmente um comentário! Agora é continuar, porque sinto-me aqui muito só...

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