O povo unido

Numa entrevista a que assisti esta semana na RTP Memória, uma fadista pertencente a essa classe elitista dos intérpretes do fado de salão, manifestou o seu incómodo quando o entrevistador, o excelente profissional Eládio Clímaco, de uma forma perfeitamente apolítica, desabafava que o povo deveria ser mais unido.
Pelos vistos persistem as saudades do Estado Novo ou então o que persiste é a síndrome pós-traumática do PREC, esse momento da revolução em que o povo gritava com legitimidade e naturalidade que unido jamais seria vencido.
A semana decorre e no contexto das notícias emergem dois nomes: ETA e Kadhafi.
Após anos de atentados terroristas e de milhares de vítimas mortais, a ETA, o grupo separatista Basco, anunciou o fim das suas actividades, pondo um ponto final nessa guerra hipócrita que é o terrorismo, uma actividade que jamais ganhará legitimidade por mais nobre que seja a causa e o ideal.
Kadhafi, ditador, tirano, excêntrico e líder louco da Líbia, após décadas de ditadura e tirania, é barbaramente assassinado às mãos de populares, ficando o seu corpo exposto no chão sujo de um mercado, a fazer lembrar Mussolini há algumas décadas atrás pendurado num talho em Itália. Embora se compreenda a revolta e seja legitimo exigir justiça, um linchamento popular jamais poderá ser aceite como desfecho por mais cruel que seja o individuo em causa.
Nos dois acontecimentos desta semana, cessar-fogo da ETA e morte de Kadhafi, o que fez a diferença foi o povo.
Em Espanha, mais do que os políticos que fugiam sistematicamente a este tema controverso, foi o povo que sempre saiu à rua sem medo e que de forma mais eficaz se opôs às actividades do grupo terrorista. Para além disso faltou sempre à ETA a força do povo Basco, que na sua grande maioria, e por muito forte que seja o seu anseio pela independência do reino de Espanha, jamais alinhou e suportou os seus métodos.
Kadhafi e o seu regime só terminaram após o povo Líbio, alinhado com os ventos de liberdade que varreram os países árabes, se ter manifestado nas ruas e ter lutado com garra e convicção pela mudança do seu destino. A NATO só entrou em acção depois do povo ter decretado o fim do regime Kadhafi pois durante anos e anos, os mais importantes líderes mundiais se sentaram à mesa com ele apesar do seu reconhecido curriculum menos positivo.
Afinal, ETA e Kadhafi comprovam que o povo unido jamais será vencido no seu querer e na sua força.
Ao contrário da "nobre" fadista-tia, digo eu:
- Ainda bem.
Digo mais:
- Queira Deus que sempre assim continue.

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