Telelixo

Faz hoje precisamente 19 anos que acabou em Portugal o monopólio da RTP, com o início das emissões da SIC.
Confesso-vos que sempre alimentei uma enorme expectativa relativamente ao aparecimento das televisões privadas, sobretudo para que fosse possível ter uma informação mais isenta relativamente à sempre governamentalizada estação do estado, por esses tempos de maiorias cavaquistas, de cor escandalosamente alaranjada.
Para além disso tinha a natural expectativa de mais variedade e melhores programas.
Confesso-vos que passados estes anos, e apesar de continuar a pensar que é importante termos mais do que apenas o canal do estado, e até não me perturbar a ideia de um do canais da RTP poder ser privatizado, sendo apenas uma questão de coerência, pois há já muito tempo que a RTP1 alinha pelo mesmo diapasão das privadas, tenho de reconhecer que a qualidade que eu esperava da diversidade, não foi concretizada.
Basta pensar em programas como o Perdoa-me, All you need is love, Amiga Olga, Bar da TV, Acorrentados, Big Brother, Casa dos Segredos, Malucos do Riso e a Quinta das Celebridades, para entender do que vos falo.
Verdadeiros atentados ao bom gosto e verdadeiras rolhas de entupimento cerebral.
A informação melhorou, sobretudo quando cada canal resolveu criar canais específicos só com noticias, embora por vezes e para preencher a emissão usem e abusem de discussões com painéis de entendidos mais entediantes que especialistas.
Na noite de ontem liguei a televisão para que esta me acompanhasse no serão.
A TVI estava em ligação a uma Casa onde colocaram cerca de duas dezenas de cromos representativos da sociedade do Silicone, do Bótox e das Tatuagens, que falam uma linguagem que ninguém entende e guardam segredos de fazer corar o mais descarado e tolerante dos seres.
A SIC estava a dar um programa rodado numa quinta no Alentejo, onde um monte de gordos, que se encontram em competição pela perda de quilos, se encontravam em volta de uma mesa com uma fonte de chocolate, para ver quem comia ou resistia ao dito.
A RTP estava a passar um concurso com perguntas de cultura geral, em que um apresentador-actor, com ar tão “inteligente” como os concorrentes, salvo apenas pelo teleponto da sua ignorância, manda as pessoas para casa atribuindo-lhes o título de elo mais fraco.
Desliguei a televisão e assumi comigo mesmo:
- O elo mais fraco sou eu.
Fui para a cama.
Há lá nada melhor que o silêncio quando só estamos rodeados de telelixo?

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