João

As crianças temperam de esperança a nossa vida, e os seus olhares, o seu riso, os seus sonhos e ilusões, são o melhor e mais eficaz antídoto para as agruras que os nossos dias por vezes nos oferecem.
O segredo é sabermos sair da nossa cátedra de adultos e não ter vergonha de entrar no seu mundo que nos devolve sempre aos tempos em que fomos crianças, os tempos em que vivíamos munidos da força de acreditar, da coragem para galgar impossíveis.
O meu sobrinho João cumpriu hoje seis anos de vida e na festa que fez com os seus amigos, todos com meia dúzia de anos de idade, bebi e alimentei-me dessa magia, da cor e da alegria que gostaria jamais poder esquecer e sempre conservar em lugar cativo no mais íntimo de mim, tornando mentirosa a imagem exterior da carapaça carcomida pelo peso dos anos, marcados a rugas e cabelos brancos.
Pelo que vos conto, e ao contrário do que possam pensar, nesta minha relação com o João, relação de tio e sobrinho, é ele o meu mestre pelas lições de vida, energia e fé que sistematicamente se encarrega de me dar.
Quando o João diz por exemplo que a noite é má porque os sonhos não entraram, aprendo ou reaprendo a importância dos sonhos, e de como, quer as noites quer os dias, fazem sentido quando deixamos que os sonhos entrem e nos injectem vida e garra na nossa própria vida.
Ou quando o João chora porque descobre que nunca poderá saber contar os números até fim, no dia em que lhe explicámos que os ditos são infinitos e que atrás de um virá sempre outro, choro que é afinal dor do crescimento, porque crescer é ganhar a consciência do que é possível, e eu aprendo que o envelhecimento se trava mantendo os nossos objectivos muito para além do que ao mundo parece razoável, nos territórios que por vezes nos parecem ter a marca do impossível.
Neste primeiro domingo de verdadeiro Outono, terminada a festa do João, termino eu o meu dia na Igreja de Fátima em Lisboa, a ouvir à luz dessa arte suprema expressa nos vitrais de Almada Negreiros, o evangelho que fala na importância de amar, de amar os outros, de nos amarmos e amarmos a vida.
Ser criança, termos sonhos, ambicionarmos para além do óbvio e sabermos amar.
O que é que necessitamos aprender mais para sermos e vivermos felizes?

Comentários

  1. Na realidade, não precisamos de mais nada! Porque a vida, para sermos felizes, tem que ter um sentido e o teu texto também fala dele: amar! Mas às vezes, inventamos que devemos ter mais coisas e, por isso, perdemos o sentido e ficamos infelizes... É, não é?!

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