S. João do Porto


A minha tia-avó Maria Teodora, uma das mulheres mais fantásticas que alguma vez conheci, teria feito 103 anos no Dia de S. João.
Pelo facto do seu aniversário coincidir com o da celebração do Santo, sempre a vi defender o “Baptista” num campeonato por ela criado sobre o mais popular dos Santos Populares.
Sempre que falava com os meus queridos amigos do Porto já não era pois novidade para mim, ver defender a festa de S. João como a maior e melhor do mundo.
Para além disso, bairristas como são, enquadrava os seus argumentos com a normalidade com que sistematicamente me provocam dizendo por exemplo que os seus Pastéis de Nata são melhores que os nossos Pastéis de Belém.
Ao fim de 45 anos de vida fui finalmente “viver” o S. João do Porto e o mínimo que me ocorre é:
- Festa de S. João do Porto a Património da Humanidade, já.
Há milhares de pessoas, tenho dificuldade em dizer quantos, que enchem as ruas e as praças, das maiores às mais pequenas, que carregam consigo a singeleza de um martelo de plástico, de um alho-porro e, claro de um sorriso, e que apenas e só, com isso, diluem na noite de S. João, aquelas tolas e fúteis diferenças que nos dias e noites de “outros Santos” nos fazem virar costas aos demais.
Pela multidão que só sabe rir e através da “martelada” na cabeça dos desconhecidos que nos retribuem sempre com o seu melhor sorriso, o Porto prova ao universo que o amor é possível. Basta o Homem querer e predispor-se a ele.
Porque quando queremos, tudo é festa, até sabem a ouro, as sardinhas queimadas e secas servidas pela senhora anti-ASAE e anti- assepsia que pela manhã se tinha levantado do leito, posto um simples vestido demasiado apertado para as suas largas dimensões de anca, calçado os chinelos de quarto em turco e cor azul-turquesa, e que de forma simples respondia a alguma cliente com mais pressa:
- Oh filha levante-se lá e vá buscar.
Da simplicidade da gente se faz a luz de uma noite especial, o fogo que sobe ao ar em balões coloridos que carregam votos e desejos de mudança, a esperança e a fé em dias bons no futuro.
Que cheguem ao Céu os balões dos nossos sonhos e iluminem a Terra porque o Porto é mais que uma nação. Nesta noite, é toda a Humanidade.

Comentários

  1. AS festas populares só demostram o quanto é fácil manipular uma sociedade esquecer certas regras por exemplo o (o processo de sardinha com regras de (HACCP)
    RUI PEREIRA

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM