Nós... desfocados



Traçámos uma linha a preto que nos disfarça o olhar, e nas faces colámos um tom rosado que importámos directamente de um boião com código, anti-alérgico e devidamente padronizado.
Abrigámos o cabelo do ar rebelde com que usualmente o beija a brisa do mar, e mais tarde, mascarámos os gestos e as palavras vestindo-lhes um albornoz de sensatez e calçando-lhes as discretas alpergatas do correcto.
Sustivemos o suspiro e o grito, diluindo-os no interior de uma discreta máscara cinzenta; aquela que é preta, branca, que pode ser tudo... não sendo quase nada.
E não nos esquecemos do aplicador que espalha sobre nós o perfume da mediana discrição.
Nós... desfocados.
Talvez nos dispamos de disfarces e possamos mostrar-nos na transparência que nos revela a identidade e a vontade, nem que seja apenas no hiato breve de uma qualquer Terça-feira.
Que a riqueza do mundo é a diversidade na festa de sermos autênticos, e tudo mais é um ridículo e estranho Carnaval.

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