E os “Judas” que nunca se “enforcam”…
Exceptuando
o contexto litúrgico e alguns enterros do entrudo realizados numas quantas
localidades, a verdade é que a comemoração da Quarta-feira de Cinzas não é algo
que se veja muito por aí.
Eu
acho que a principal razão se prende com a interminável Via Crucis e a contínua Quaresma de jejuns onde nos obrigam a passar
o tempo.
Jejuns
do corpo e sobretudo da alma, naquele estado em que já nada se estranha.
Vejamos…
O
fim-de-semana do Carnaval, supostamente de folia, é a estação perfeita para
anunciar que “Portugal cai pela enésima vez” com a cruz da Economia sobre os
ombros e com um “Simão de Cirene” em versão União Europeia que cobra demasiado
para nos “ajuda” a chegar… ao Calvário, que é afinal onde tudo isto sempre
acaba.
-
Classe média toma lá mais austeridade. Levas com uma folga no recibo de
ordenado e vai gastá-la na Galp.
A
multidão divide-se e inverte os papéis. Os que antes cantavam “Grândola” agora
assobiam (para o lado) a “Mula da Cooperativa”; e vice-versa.
Pôncio
“Costa” Pilatos lava as mãos e culpa “Caifás Passos”, mas o certo é que a coroa
de espinhos em versão “Lagarde” já ninguém nos tira.
Começamos
a ficar habituados a ela e às vergastadas:
-
Não andem de carro, não fumem e não recorram tanto ao crédito…
Toma
lá o rótulo de caloteiro e vai viver ao nível das tuas possibilidades, ou então
selecciona algum amigo que faça de “Verónica” e que te desafogue o rosto com uma
toalha, perdão, envelopes grandes cheios de notas.
Por
desespero pedimos de beber às “Mulheres de Jerusalém” ligando a televisão.
Em
vão.
Já
ninguém nos distrai por entre o epíteto de “esqueletos frágeis”, pobres
criaturas a necessitar de Calcitrin e
Cálcio Mais; sabendo que mesmo assim,
o melhor a que conseguiremos é ficar igual à Serenela Andrade.
Deus
nos livre.
Chamam-nos
fraquinhos e… novamente caloteiros:
-
Você por certo terá uma conta para pagar. Vá lá… ligue o 800 300 400
e vai ver como a sua vida muda.
Pois
muda…
É
o sorteio das nossas pobres vestes em números de valor acrescentado mais IVA.
E
o calvário logo ali, a cruz, os pregos…
Para
quando a Ressurreição?
-
Nós tentámos tudo mas os que estiveram antes de nós puseram uma pedra demasiado
pesada sobre o “sepulcro”.
Já
ouvimos isto tantas vezes…
E
entre negações antes (ou depois) dos galos cantarem, o problema persiste porque
nesta versão os “Judas” nunca se enforcam, antes pelo contrário, guardam as
moedas, fazem um restyling enquanto
atravessam o deserto, e voltam logo que possível para cumprir aquilo que melhor
fazem: a traição.
Dizem
que é o ciclo do poder e é possível que sim; nós acabamos por andar sempre à
volta do mesmo, cruxificados entre “ladrões”… à esquerda e à direita.
Comentários
Enviar um comentário