Palavras

A noite, que caiu há pouco de manso sobre a cidade, devolve-me sempre ao silêncio que pode calar tudo, mas jamais mata as palavras.
Nada no universo pode falar mais do que o silêncio.
Porque há palavras inquietas que são gritos de memórias eternas, palavras com nome de tanta gente e registo de tantos dias, palavras soltas no silêncio como erva a nascer num campo que a chuva beijou.
Há palavras abertas nos braços que acolhem, palavras quantas vezes desprovidas de quaisquer letras e nascidas de olhares que são janelas por onde espreitam sorrisos de alguém.
Os sorrisos doces dos amigos.
Há palavras de amor em beijos dados à sombra do luar com a cumplicidade do bater incessante das ondas do mar, palavras em rabiscados pedaços de papel que dizem dar verdade ao coração; há palavras de amor nas mãos que se entregam sem reservas nesse instante em que sentimos que há muito a alma se deu à magia de um sonho que não é só de hoje, é eterno em nós.
Há palavras de paixão que se soltam às vezes numa tão simples rosa de cor vermelha.
Mas também há palavras de dor nos instantes em que tudo fugiu e ficámos nós envoltos pela solidão.
Tudo, palavras que não são ditas mas que andam loucas e à solta pelo silêncio.
A noite caiu há pouco sobre a cidade…
Não importa.
Se as palavras que o dia não trouxe são agora minhas e abraçam-me pela força com que o sonho as molda no silêncio?

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