A minha luta com o anti-ciclone

Escrevo de frente para um mar demasiado inquieto, o Atlântico à mercê de um vento fortíssimo que também parece querer entrar à força pela janela do meu quarto, uma brisa tão violenta, que entre gritos e sussurros, me faz acreditar que o Adamastor deixou o seu “Cabo” e veio para aqui espalhar as suas tão temidas “Tormentas”.
Aqui ao leme da nau deparo-me com uma série de consequências práticas: voo cancelado, mais uma noite em São Miguel, uma ida forçada à Loja Chinesa aqui do lado para comprar cuecas e meias (e a minha mãe que sempre me repete que não devemos trazer a roupa à conta dos dias porque pode acontecer algo…) e lá vou ter de fazer esse tão grande “sacrifício” de comer mais um Bife à Regional carregadinho de “Pimenta da Terra” e uma Morcela com Ananás, quando chegar a hora de ir jantar.
Fosse eu dado a superstições e facilmente diria que num dia treze e à beira de uma Sexta-feira, isto seria mais do que expectável.
Sofresse eu da mania da perseguição ou carregasse em mim uma tendência depressiva para achar que exerço uma atracção pela desgraça, e a coisa seria ainda mais complicada.
É que vou com os meus pais no último sábado ao Politeama para assistir à Revista à Portuguesa do La Feria e sou confrontado com a substituição de uma das actrizes principais por não se encontrar bem de saúde; vou no domingo até ao Estádio da Luz para ver o Benfica – Sporting e começa a cair lã de vidro sobre o relvado, caiem placas da cobertura e adiam o jogo; venho para os Açores e até anulo os efeitos do anti-ciclone com a meteorologia a desencadear um temporal medonho que adia todos os voos…
O Instituto Berlinense que baptiza e dá nome às tempestades ainda se pode lembrar de chamar “Joaquim” a alguma delas; identificado como uma espécie de “Midas das Desgraças” podem começar a impedir a minha entrada em qualquer recinto desportivo ou a bloquear o meu passaporte para alguns destinos mais pacíficos; quem sabe até, com tal anti-clímax à minha volta, se não boicotam a minha entrada no Santuário de Fátima em dia de Procissão das Velas, pelo risco elevado de as ditas se apagarem todas como reacção à minha presença?
Pois…
Mas não estou nada preocupado.
As senhoras da SATA já me deram um Cartão de Embarque para amanhã à tarde, apesar de eu lhes ter dito irritado que sou um bombista perigoso e suicida com a mania de pôr bombas em frascos de doce, quando me avisaram que não há problema com tudo o que comprei há pouco no Free Shop, excepção feita a dois frascos de compota de ananás que são potencialmente perigosos.
Por favor!
São bombas, mas calóricas, claro.
Mas, como sou mesmo um optimista e vejo sempre o lado positivo de todas as coisas: olha que grande oportunidade me deu este mau tempo para sentir as vossas preocupações e a vossa amizade em tantas chamadas e mensagens…
Tudo é sempre bem mais fácil na presença dos amigos e eu estou destinado a gostar muito de todos vós. Mesmo!
E depois, e como dizia o simpático taxista que me trouxe de volta ao hotel ainda há pouco:
- Bem-vindo aos Açores porque isto sim é viver nos Açores.
Pois que seja. Não será por isso que os Açores deixam de ser um dos sítios mais fantásticos de Portugal.

Comentários

  1. Uma descrição com conhecimento se distingue com classe ....gostei de ler e meditar nas suas palavras......boa tarde!....

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