Era uma vez…

Depois da revisão da ortografia que gerou mais desacordo do que acordo entre toda a gente que fala Português; depois da actualização do Código da Estrada e do estabelecimento de novas regras para a abordagem de rotundas; depois da avalanche “reformadora” imposta pela Troika que até levou à suspensão de feriados nacionais… Impõe-se que se proceda rapidamente a uma revisão das histórias infantis pois o conteúdo e a “moral” das ditas estão perfeitamente desajustados da realidade.
De facto, todos nós que somos pais, avós, tios, professores, etc; estamos a ser confrontados com um olhar de desdém por parte dos petizes que não conseguem entender em que raio de mundo é que nós fomos buscar semelhantes argumentos e a aprender a tirar tais conclusões. Não entendem porque ficamos felizes com desfechos impossíveis e sem qualquer aplicabilidade.
Por exemplo, na história do Capuchinho Vermelho as crianças têm dificuldade em entender a preocupação com a avó. Porquê vir o lenhador a retirar a idosa do ventre do “lobo”? Para quê? Para continuar a desorganizar o Orçamento do Estado beneficiando da sua reforma? Para sobrecarregar a família com a despesa do lar?
Morreu e acabou, o “Estado Social” até agradece. O Capuchinho tem é de se entender com o “lobo” e com a sua boca “tão grande” carregada de dentes letais (IRS, IVA, Portagens, Taxas Moderadoras…), para também não ser comido logo de uma vez.
Se passarmos para a Cigarra e a Formiga, outro claríssimo desajuste. Quando chega ao inverno quem se “amanha” é quem fala e canta bem. As “formigas” que trabalham arduamente já emigraram entretanto, ficaram sequinhas para alimentar as “cigarras” e muitas delas dormem ao relento.
A sorte premeia quem “dá música” e muito pouco quem trabalha bem. As cigarras até conseguem ser “formigas licenciadas” sem nunca se terem deslocado ao formigueiro.
E o Robin dos Bosques? Se tem alguma lógica roubar aos ricos para dar aos pobres? Os pobres sim, esses desgraçados que só estragam o ambiente e as estatísticas, esses é que têm de “aguentar” e pagar bem para sustentar a saúde financeira do capital, a face visível que cativa e atrai os “mercados”. Se fosse normal, a criatura que cirandava pelas florestas de Nottingham roubava os pobrezinhos para entregar tudo ao tesouro do reino.
Isso sim seria normal.
E a Gata Borralheira?
Alguém consegue entender a intervenção de uma fada que transforma uma criada em princesa? Por favor.
Agora substituam a fada pela Teresa Guilherme e vejam lá se através da “Casa dos Segredos” a história não passa a fazer muito mais sentido?
Essa sim é uma intervenção muito mais eficaz e que até garante capas em revistas de “princesas”.
E depois, com a profusão de plásticas que há hoje por aí, quem é que consegue identificar uma dama por um sapatinho de cristal. Agora cada “lady” tem o pé que quer. E quem diz os pés, diz as mamas, as nádegas, os olhos, os narizes, etc.
Depois, qual é a “Carochinha” que se põe à janela para encontrar marido? Abre uma página em algum site de engates ou publica um anúncio para encontro no Correio da Manhã.
E no mínimo o João Ratão tem de morrer triturado numa Bimby ou entalado na porta do microondas.
No Caldeirão? Isso é uma serra por onde passamos a caminho do Algarve.
Na “Branca de Neve” para além das suposições de âmbito afectivo-social e da perversão que se antecipa na presença na mesma casa de uma rapariga com sete anões, também não parece verosímil que a invejosa tenha de se vestir de velhinha para oferecer maçãs; disfarça-se de “Brasileira” e ataca o príncipe através do Facebook. A outra fica tão “apardalada” que acabará por morrer na casa das criaturas de baixa estatura.
Para além de que não necessita de um espelho mágico, liga para a SIC pela manhã e a “bruxa” que substituiu a Maya até lhe dá as coordenadas GPS da casa onde ela vive.
Depois há ainda uma questão que é transversal a algumas histórias e que está relacionada com o célebre “viveram felizes para sempre”.
Pode continuar a manter-se esta frase mas convém fazer uma adaptação: “viveram felizes para sempre, mas juntos só durante uma ano e meio, porque depois disso divorciaram-se e encontraram a felicidades junto de novos parceiros”.
É importante também não fazer apelo ao “tempo em que os animais falavam”, a criança pode ter inadvertidamente estacionado no Canal Parlamento, pode estar familiarizada com o “conseguimento” e sabe hoje perfeitamente que os “burros” falam.
Revejam-se pois as histórias…
Ou quiçá a História que talvez valha mais a pena.

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