Nós “Pimba”

No dia em que li no jornal Expresso que o Oliveira e Costa pediu prescrições no caso BPN e vai poupar assim cerca de 9,9 milhões de Euros…
Depois de através do mesmo jornal ter tomado conhecimento de que uma deputada do PSD eleita pelo círculo do Porto, Maria José Castelo Branco, ter chorado em plena reunião do seu grupo parlamentar porque se via forçada a mudar o seu voto e a chumbar a co-adopção porque caso contrário perderia lugar nas próximas listas eleitorais do partido…
Depois de ter lido a afirmação de Pedro Santana Lopes a referir que “José Sócrates foi um Primeiro-Ministro com visão”…
Após ter ouvido António José Seguro afirmar que o PS “sabe governar com rigor, disciplina orçamental e pôr as contas públicas em ordem…
Confesso que nada me surpreendeu a escolha pela RTP, via Festival da Canção e para representar Portugal na Eurovisão, de uma canção assumidamente pimba da autoria do Emanuel.
É que neste país, se não emigraram já, a poesia e a música estão “enterradas” numa campa rasa ao lado de uma outra onde enfiaram a decência, o pudor, a consciência, a honestidade, o bom senso… e tantas outras coisas fundamentais à dignidade das pessoas e das nações.
A RTP foi ao panteão dos verdadeiros festivais, fez uma homenagem ao Ary e ao Eládio, entregou flores ao Calvário e à Simone; e de seguida rendeu-se ao produtor que com músicas pimba lhe anima as tardes de fim-de-semana naqueles indescritíveis programas em que os apresentadores estão reduzidos a máquinas repetidoras de números setecentos e “o raio que os parta”, os números que dão Euros e são apontados como solução para a crise das bolsas de cada um.
E assim estaremos representados na Dinamarca pela Suzi, uma loura que dança de perna aberta porque tem medo de cair dos saltos altos, e que pela voz que apresenta, eu diria que é uma espécie de mulher-a-dias da Madalena Iglésias emancipada por se ter amantizado com o homem do talho, o “fundo monetário” que lhe patrocinou assim esta aproximação ao microfone da patroa. Com todo o meu máximo respeito pelas mulheres-a-dias e pelos homens do talho, que em ambos os sectores de actividade tenho muito bons amigos.
A letra da canção tem uma dimensão que cabe no talão de uma compra no talho e parece ter sido escrita naquele hiato em que na paragem se espera o autocarro, com a inspiração incrivelmente tolhida pelo cansaço de um dia de trabalho, a pressa de apanhar o dito transporte, e também o maldito peso do saco da carne, que hoje foi dia de levar o chispe para o Cozido:
- “Quero ser tua, oh oh oh oh!”.
No resto do país a situação é exactamente igual, e haverá sempre o detalhe de um perverso interesse económico para justificar porque estamos rodeados e condenados ao “pimba” e a este “inestético” fado da miséria que começa na inspiração da ausência de honra de alguns e depois nos mata à fome por entre uma desafinada incompetência.
E como as eleições estão muito próximas, confesso-vos que vou aplicar a estes imbecis o verdadeiro método do Emanuel:
“Se eles querem um abraço ou um beijinho… nós pimba…”
Nós pimba… não votamos neles, seguindo então o conselho do Pedro Abrunhosa:
“Vamos fazer o que ainda não foi feito”.
A escolha até pode ser difícil mas se isto não dá depressa uma cambalhota e não destruímos este arco execrável do poder… não sei, não…
Acho que iremos todos directamente para Berlim, sem direito a passar por Copenhaga e sem direito aos pouquíssimos votos que sempre nos calham em sorte. 

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