Pai

Sob o céu de um intenso azul, as pedras soltas das desenhadas calçadas de Lisboa “impõem” o meu abraço ao teu caminhar.
Lado a lado, damos passos curtos ao ritmo a que respiras; que pela linguagem única do amor, há muito os nossos corações se habituaram a esta cumplicidade que os torna apenas um, mesmo quando dispensamos as palavras e vamos absortos em outros pensamentos…
Eu sei, as pedras de Lisboa eram perfeitamente dispensáveis como pretexto para caminharmos assim. Há muito que o fazemos, a pé ou até de lambreta naquele tempo em que me seguravas à tua frente e eu me sentia o dono do mundo “cortando” o quente do estio e bebendo a brisa única carregada de aromas do nosso Alentejo.
Já passaram muitos anos e o tempo só mudou aquele pequeníssimo detalhe de quem ampara quem neste “voar” pelos dias, porque entre nós há o eterno destino de um abraço, perpétuo enleio em que os nossos braços copiam a alma, e onde eu serei sempre, por tudo e por minha mais pura vontade, um dos teus dois “gaiatos”.
Sabes, é que apesar de agora já não me pegares ao colo e já não correres descalço pelo chão frio lá de casa para me acudir nas noites em que os pesadelos me atormentam; enquanto eu estiver aqui no calor deste abraço e sentir entrar pela face este amor maior que carregas em tudo e também num beijo, não poderá jamais existir em todo o universo, uma criança tão ou mais feliz do que eu.
Pai, um beijo e este infinito amor.

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