As viagens e as manhãs com flores…


Das manhãs como esta, com sol e o oceano ao fundo, colho braçadas de flores que coloco junto ao peito, quando me encosto assim, ao parapeito, bebendo sumo de laranja e comendo um pedaço de pão com queijo.
Depois faço-me à estrada com o destino marcado no GPS, e, na lembrança e na voz, uma música qualquer que guardei de outras “viagens”. Hoje rumo a norte, e quilómetro a quilómetro, e rio a rio, vou-me relendo aos poucos em tudo aquilo que o coração vai debitando no pensamento.
Paro numa Área de Serviço para tomar um café, e reparo que chegou uma notícia ao meu telefone, confirmando a imprevisibilidade dos dias. Não há viagens nem caminhos iguais, mesmo que os pórticos das portagens possam ser os mesmos.
Agora acodem-me ao pensamento as tardes de Vila Viçosa, os meus amigos, as empadas de galinha da D. Cesaltina e o capilé que ajudava a repor forças entre as brincadeiras na travessa do Belhuca ou no passeio largo em frente ao café do Sr. Cândido.
Ainda bem que todos os dias me trazem flores, porque já depois do Porto, e no regresso ao sul, preciso de escrever algumas para as enviar a dois dos meus amigos mais especiais. Pego na braçada que guardei e escolho as palavras mais viçosas e com perfume mais intenso.
É relativamente cedo, está calor, e resolvo parar em Fátima para rezar e beber um pouco de água fresca. Fátima estará sempre entre o Céu e a minha sede.
Regresso a casa a tempo de sentir o ouro que o sol, quase de partida, semeou nas paredes da casa, agora, no lado oposto ao da janela de onde antes colhi flores.
Os entardeceres como este, oferecem-nos os primeiros parágrafos das histórias que a lua, em quarto crescente, continuará pela rota mágica das lendas que superam qualquer humana realidade.
Estou cansado e preciso de dormir, mas não resisto e sento-me no sofá para escutar aquilo que me diz a lua.
Um dia, se não souberem o que dizer de mim, digam apenas que eu repouso enquanto escrevo versos de amor.
Depois, já não me recordo qual foi o pensamento que me estendeu o sono para eu adormecer…

 

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