O dia de Nossa Senhora

8 de Dezembro, com independência do ano, é e será sempre o dia maior de Vila Viçosa. Será sempre designado, conhecido e vivido por todos os calipolenses como “O dia de Nossa Senhora”.
Foi no Século XIV que o agora São Nuno de Santa Maria, então o guerreiro e patriota exemplar D. Nuno Álvares Pereira, fundou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Castelo de Vila Viçosa.
Mais tarde, em 1646, um dos meus conterrâneos mais ilustres, D. João IV, coroado rei de Portugal seis anos antes, entregou a coroa que era símbolo da sua realeza, à Senhora da Conceição, fazendo com que mais nenhum monarca português a usasse na cabeça, e nomeando Nossa Senhora rainha e padroeira de Portugal.
A história mais uma vez e sempre a ser a raiz deste orgulho de ser Calipolense, tendo o privilégio único de sermos da terra da Padroeira de Portugal.
Quiseram as circunstâncias da vida que hoje, ao contrário do que acontece na maioria de todos os anos, eu passasse este dia longe de Vila Viçosa, alimentando-o das muitas e grandes memórias que guardo do passado.
E a primeira imagem que me ocorre é sempre a de uma igreja, que para além dos muitos forasteiros, se enche sobretudo com todos os Calipolenses, que ao longo do dia entram para rezar ou apenas para marcar presença. A Senhora da Conceição é sem dúvida o elemento comum mais relevante, o elo mais forte que une todos os Calipolenses, com independência de todas as características e critérios que usemos para identificar pessoas e grupos.
A igreja de Nossa Senhora da Conceição é o lugar onde todos, todo o ano mas sobretudo a 8 de Dezembro, sentimos como a nossa casa, o sítio de onde nunca poderemos nem queremos sair.
E depois há as memórias de âmbito mais pessoal, e talvez a mais forte seja a imagem da minha avó Natividade perante a inevitabilidade de ter de deixar Vila Viçosa no dia seguinte de madrugada e tendo tomado conhecimento desse facto apenas na véspera à noite, se recusar a deixar a nossa terra sem se ir despedir de Nossa Senhora, tendo-me levado como companhia até à porta da igreja então fechada, onde se ajoelhou e rezou a sua despedida.
Jamais se apagará da minha memória esta imagem de mim menino a ser testemunha de um acto de profunda fé, e sempre me acudirá como lembrança nas muitas vezes em que apesar das minhas curtas estadias em Vila Viçosa, sempre reservo um tempo para atravessar as portas do castelo e encontrar-me com Nossa Senhora, jurando-vos aqui que são verdadeiros momentos em que me encontro comigo mesmo e de onde saio sentindo-me melhor pessoa, ou pelo menos com vontade de o ser.Hoje, com a distância, pela cabeça desfilam as memórias, o coração bate ao ritmo da saudade e deste amor maior à Senhora da Conceição que os lábios inevitavelmente expressam: Ave Maria…

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM