Geração “nem, nem…”

Um estudo publicado esta semana refere ser já superior a 300 mil, o número de jovens que em Portugal NEM estuda, NEM trabalha, o que levou já à sua designação como “Geração nem, nem”.
São números deveras preocupantes e com a agravante de terem aumentado muito num passado mais recente. Vai assim muito composto o pelotão dos jovens que relativamente ao futuro, a única atitude que lhes apraz ter é encolher os ombros.
Sabemos que desta inércia até à marginalidade e ao recurso a meios ilícitos de financiamento, é um passo muito curto e, talvez não seja por acaso, olharmos para o lado e vermos como a criminalidade aumenta por todo o país, não poupando já qualquer região. E já não adianta tentar tapar o sol com a peneira, atribuindo as responsabilidades deste aumento da criminalidade aos imigrantes que chegaram ao nosso país, este é um problema mais profundo e com raízes na nossa própria sociedade.
E quando tento perceber como é possível que um tão grande número de gente se disponha a este estatuto de “nem ofício” chego à conclusão de que só pode ser porque não lhes falta o “benefício”.
Os tempos do “nem ofício, nem benefício” já eram, e hoje o lema é outro: “há sempre um subsídio que espera por si”.
Em minha opinião, é o estado que patrocina esta situação não exigindo a todos os cidadãos o cumprimento dos deveres que sempre devem acompanhar os direitos.
Para uns o estado é padrasto mas para outros é um pai demasiado brando e excessivamente benevolente.
Incluo-me no grupo dos que cedo procurámos sustentar a nossa existência através do trabalho, orgulhando-nos de o fazermos cumprindo simultaneamente as nossas obrigações para com o estado através do pagamento dos impostos de forma rigorosa. E o estado tem-nos sempre respondido com a ingratidão de um padrasto.
Somos os professores que têm sido ofendidos na sua dignidade para justificar as incompetências de um sistema de educação gerado pelo próprio estado, somos a gente do interior que para se deslocar dentro dos seus próprios concelhos tem de pagar umas portagens ridículas, somos os pagadores de um serviço nacional de saúde que nos maltrata como utentes, somos os que suportamos os aumentos do IVA, do IRS, os que pagamos as taxas moderadoras, somos as vítimas dos PEC’s com independência de serem 1,2 ou 3, somos os que temos a perspectiva de uma reforma tão ínfima que nos deixe à mercê de qualquer Santa Casa da Misericórdia, somos os que pagamos os submarinos, os carros blindados e as cimeiras da NATO, somos os que financiamos os partidos e suportamos as campanhas eleitorais, somos os que pagamos as rotundas e suportamos o descontrolo financeiro das Câmaras Municipais, somos os que suportamos as obras nos estádios de futebol, e, pasme-se, soubemos esta semana, somos aqueles que o estado até quer ver despedir com mais facilidade.
E ao nosso lado estão os outros, os “nem nem” equilibrando com os seus benefícios os pratos de uma balança que mesmo com os nossos sacrifícios, não aguenta e está cada vez mais tombada e à mercê de todos, dos mercados, da Sra. Merkle ou do Sr. Sarkozi.
Para além da indignação, acho que todos sentimos que é hora de exigirmos uma nova postura e exigirmos um estado que premeie o trabalho e o bom exercício da cidadania.
Com os intérpretes actuais parece-me difícil porque o seu problema é exactamente não terem inscrito no seu código genético: exigência, trabalho e sentido de cidadania.

Comentários

  1. E sabes o que é pior? É que os nossos alunos, filhos dos "nem, nem" encolhem também já os ombros a tudo, porque esperam um futuro como os dos seus pais! Para quê esforçar-se?! Para quê lutar?!
    Eu continuo a insistir, a tentar passar a mensagem, mas admito que há dias em que caio no desânimo... Quando vejo (exemplo muito recente) que um bom grupo de professores se disponibilizou numa tarde sem aulas a estar com os alunos em actividades lúdicas e estes, ao fim de 10 minutos (não estou a exagerar) já diziam: "Podemos ir embora? Isto é tudo muito aborrecido!"

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