O amor planta girassóis na lua


Não importa qual a cidade, e nem sequer o nome do rio que a namora, para mim, todas as ruas, as praças e as calçadas, são memórias dos meus passos nas tardes em que saí para te procurar.

Não importa se as torres que me ofereceram sombra foram castelos guardiões de Homens, de Deus ou do tempo; o amor planta girassóis na lua, e não se prende com quaisquer humanos ou divinos detalhes, para além de que jamais necessitará de ver as horas.

Às vezes paro e sento-me para tomar alento, roendo lentamente uma maçã verde colhida na ousadia do pomar onde os corpos tomam a forma de árvores e o desejo nasce tão intensamente que até parece proibido.

Quem tem muitos rostos não tem nenhum, e o espelho por detrás do balcão do café onde depois me encosto, na pausa da bica, tem a sabedoria de milhares de luas, e nega-me um reflexo claro. Eu só serei eu depois de te encontrar no fim da história que os meus passos contam rasgando portas e desenhando as ruas.

Também construirei um barco de madeira ao jeito de uma casa de piso transparente, e afirmo aqui perante toda a gente, que se tu viveres naquelas montanhas que dizem existir no fundo do mar, eu usarei as mãos em concha para lhe retirar a água, até te encontrar.

Dia e noite, tomando alento e fogo de cada pôr-do-sol.

Depois, substituindo com flores a ferrugem de todas as grades, levar-te-ei comigo e adormeceremos juntos sob um sobreiro. Uma manhã, uma tarde, um dia inteiro… ou até mais, enquanto as palavras que dissemos um ao outro, e que até lembram versos desenhados por Pessoa, se entretêm a voar com os pardais.

 

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