A memória dos heróis

Com o objectivo de acompanhar uma colega no momento do funeral de um seu familiar, desloquei-me hoje ao cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. Mais propriamente ao talhão dos combatentes, um espaço próprio onde repousam os restos mortais daqueles que em alturas diferentes da nossa história, combateram pelos ideais da pátria lusitana.
Fiquei chocado com o estado de degradação e de total abandono deste espaço, numa dimensão que não tenho dúvidas em classificar como sendo de manifesta falta de respeito.
Há ervas daninhas por todo o lado, as placas metálicas enferrujadas, lixo acumulado, terra arrastada pelas chuvas e acumulada em todo o espaço, etc.
Não interessa se as guerras que os tornaram heróis foram mais ou menos aceitáveis e compreendidas, o que importa é que no seu tempo, estes homens levaram ao limite o seu amor à pátria Portugal.
Não interessa se estas pessoas têm ou não têm família. É ao estado que compete tratar dos seus heróis. O estado que é generoso a oferecer subsídios de inserção e de desemprego, tinha toda a legitimidade para recrutar de entre esses beneficiários, mão-de-obra para as tarefas de manutenção destes espaços, evitando simultaneamente a instituída cultura do ócio patrocinado que impera na nossa terra.
Ao lado de alguns colegas estrangeiros que me acompanhavam, e perante tudo o que me era dado ver, senti vergonha pelo país em que nos tornámos.
Perdemos a memória.
E um país sem memória é um país que não gosta de si próprio e que se autodestrói, matando a essência da sua génese.

Comentários

  1. 100% de acordo!
    E, se fosses professor, comprovarias em inúmeras situações que o que descreves é uma realidade que tende a piorar. Infelizmente... :(

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