Golden girls and boys



A fé enleia-se no tempo e faz-nos perder na idade, qual fita que se desprende rebelde de uma cassete onde gravámos 50...
Não, muitos mais, bem para lá de mil anos contados entre beijos, sonhos e risos.
Ainda hoje sabemos de cor o caminho para o colo dos nossos pais que será eterno como o seu abraço feito de vontade e dado de improviso, o abraço que pinta as memórias de todas as cores mesmo que estejam gravadas no papel fotográfico a preto e branco.
As mesmas cores das ruas onde brincamos até à hora do jantar quando as mães aparecem à janela e nos chamam sempre pelos dois nomes de baptismo: Joaquim Francisco, Júlia Albertina…
O carrossel oito da Feira Popular roda no mesmo sentido do pião que a guita, certeira, atirou ao chão. Rodam como o LP de vinil que saiu no Natal com os sucessos do ano, e rodam do jeito com que vamos sonhando o mundo.
Ali ao pé, uma boneca sorri como antes na prateleira do quarto onde mais tarde perdeu protagonismo para o poster dos Bee Gees ou do Travolta.
Outras voltas...
De carro, num pássaro de folha, num avião a pilhas que o Pai Natal da empresa do pai nos ofereceu ou no desenho picotado com arte nos trabalhos manuais.
Hoje é domingo e a mãe fez um Pudim Boca Doce com sabor de baunilha para sobremesa do jantar.
Temos sorte...
Com os vinte e cinco tostões que o tio nos ofereceu já tínhamos lanchado umas línguas de gato e uma Laranjina C.
Este nosso tempo tem tanto açúcar que até os cromos da bola vêm a enrolar rebuçados com aromas de fruta.
O tempo...
Esse que até fez autocolantes os cromos que antes colocávamos na caderneta por generosidade da Cola Tudo.
Esta coisa da idade...
Cinquenta anos.
Com tantos sonhos que carregamos ainda estamos tão longe do meio da vida.
O ponto intermédio da eternidade é ele próprio a eternidade.

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