Maio


Com os dias que me ofereceram, construí uma torre, onde encarcerei o medo, reservando, no entanto, o ponto mais alto, para rasgar uma varanda onde me sento a brincar com os papagaios de papel que as crianças lançam ao entardecer.

Ali, acendo velas aromatizadas com a minha vontade, faço rimas com as palavras que me são gratas, e rasgo as notícias velhas e desinteressantes dos jornais, dobrando depois cada pedaço, e juntando-os, até fazer hortênsias que espalho pelo parapeito.

Quando o tempo vestir uma saia curta de verde trigo, bordada a ponto cruz com papoilas e malmequeres, saberei, mesmo dispensando o calendário, que Maio finalmente chegou.

As tardes espreguiçar-se-ão pedindo ao sol que fique mais um pouco, e da torre aonde eu moro, soarão liras e alaúdes em tom de festa.

O tempo é sempre de quem o vive de verdade, assim, calando o medo, e Maio, o mês das flores, é de quem não deixa passar sequer um segundo, sem o pespontar de liberdade.

 

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