Novena...


De cada vez que cortamos uma flor, mesmo com o intuito de a levar até à igreja, nós apeamos Deus do Seu altar.
Por isso, é aqui, no campo bravo que o sol queima de Agosto, muito mais do que em qualquer outro lugar, que o nosso riso descalço de prudência, faz ecoar a prece das novenas, no canto feliz de acreditar.
Nós sabemos, Senhor, Deus das Flores e das Fontes, que as massas estranhas que nos rasgam o corpo jamais irão além da superfície e nos atingirão a anatomia da alma, a essência doce apenas acessível ao amor.
A vida é como o vento e nós somos feitos da essência do trigo, que persiste no pão. O mesmo vento que um dia beijou e brincou com as espigas nas tardes de primavera soprará mais tarde, fazendo rolar a mó no cimo de uma serra qualquer.
Sim, Deus da Água, do Pão, Casa da Eternidade… mas nós gostamos tanto do nosso abraço.
Eu sei que nos entendes por entre este medo que ele, o abraço, se desmanche na componente que as árvores podem espreitar e cobrir com a sua sombra. Nós não estamos a fugir de ti, a nossa prece é apenas a saudade a falar por entre um humano cansaço.
Sim, Senhor do Riso e do Tempo, este canto de amigos, colorido e terno, é afinal, a voz enfeitada pela fé de quem espera e deseja um longo e profundo abraço, em festa e trajando as roupas do inverno.

 

 

(Agradeço a foto ao meu amigo César Lopez)

 

 

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