A meia-noite e o tempo novo…


Jamais declinarei a responsabilidade de fazer velho ou novo, qualquer tempo, endossando a fatura, passivamente, para o calendário.
Aliás, parece-me que esta noção de tempo novo ou velho, segundo o relógio, só existe para alguém poder fazer negócio, comercializando uma espécie de carnaval, e muito “glamour”, algures entre Dezembro e Janeiro.
Acredito que os vendedores de espumante e de cuecas azuis possam contribuir também, decisivamente, para a divulgação do conceito.
O tempo não envelhece, nós é que deixamos apagar a esperança.
O tempo não morre, nós é que nos demitimos de ressuscitar, acomodando-nos à luz fraca que mora nos sepulcros, numa traição impiedosa ao sol que nunca desiste de nos vir trazer a madrugada.
A contagem do tempo feita pelo calendário é importante para efeitos fiscais, para nos caracterizar no Cartão de Cidadão, para cumprir ciclos eleitorais...
Mas os anos, os dias e os minutos novos somos nós que os definimos pela convicção com que lhes oferecemos corpo de “loucura” no grito de todos os sonhos e todas as nossas vontades, reinventando-nos, às vezes, a partir de quase nada, ou a partir da lama que se atravessa na estrada.
Um dia partiremos, e alguém assinalará essa data numa lápide, precedida daquela outra em que nascemos. Farão contas as pessoas para saberem se vivemos muito ou pouco, num exercício fútil e inadequado.
Quantos sonhos de uma vida cabem num segundo, quantos amores cumprem a própria vida no minuto breve do beijo que a alma pede.
E pelo contrário, quantos séculos são desertos de solidão e mal querer.

Um abraço a todos, e, para além de hoje, que nenhuma das vossas meias-noites desminta o tempo novo.

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