Se até a lua gosta de conversar com as chaminés...


Não fora este silêncio onde as vozes se dissolvem pouco a pouco, como poderia eu escutar com exatidão aquilo tudo que me pede o mar?

Adornei a proa deste instante com uma cruz de madeira e a fé de mil anos, e sem medo do fogo que o sol do meio dia impõe à face de quem ousa olhá-lo de frente, predispus-me a ouvir a sabedoria que acode à superfície das águas, soltando-se em frases cantadas ao sabor salgado da maré.

Se até a lua gosta de conversar com as chaminés…

Lições das praias desertas, mesmo para quem está, ocasionalmente, longe das águas, ou como se o tempo desse, finalmente, resposta, aquele, tanto, que o peito, em tantos dias, soube rezar.

O pior inimigo do Homem é a mediania, a casa onde o sim ou o não se escondem, o asfixiar das dicotomias no quedo remanso de nada ter de justificar.

A maior virtude do Homem é desvirtuar o tom opaco que poderá ter a sua própria pele, tornando-a transparente, sobrepondo o individuo à militância, na dispensa das epidermes vendidas a saldo em lojas que anunciam, a baixo preço, a virtude e a notoriedade.

Deixar que o peito respire e transpire os ecos da sua imensa liberdade, por sobre a morte do pronto a vestir.

Em alfarrábios de sal e algas, nas bibliotecas profundas onde os peixes cruzam destinos com os Homens nos seus mais ou menos improvisados navios, aqui estou, de Zeus, escutando a prosa e a melodia.

Como se agosto nos desse a ler a vida toda.

Partirei sozinho numa manhã de bruma para dar a volta ao mundo, percorrendo cada sim e cada não que a alma, sobre cada passo, me disser, e que, sem artefactos, no meu peito, diretamente, ou na rima mais ou menos certa de cada verso, se possam vislumbrar.

Loucura?

Se até a lua gosta de conversar com as chaminés.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES

“Quando mal, nunca pior” ou a inexplicável rendição à mediocridade

TESTAMENTO DE UM ANO COMUM